Prévia: Black Myth: Wukong promete elevar a ação dos RPGs a outro nível

Um exuberante e surpreendente destaque vindo de um estúdio independente.

em 09/08/2024

Em 20 de agosto de 2020, o mundo dos games foi pego de surpresa com o anúncio de Black Myth: Wukong. Digo surpresa por vários motivos. O primeiro deles é que a revelação do jogo foi muito diferente daquele incômodo padrão de “anúncio do anúncio de um teaser em CGI”. Ao contrário disso, Wukong chegou de repente e com toda força em um vídeo de 13 minutos de gameplay de ação.

O segundo motivo foram os visuais mostrados, com cenários detalhados, vegetação densa e animações elaboradas que levantaram o ceticismo de alguns. A dúvida é justificável nesse meio em que não é raro um vídeo surgir do nada prometendo alto nível de qualidade para um jogo que, depois, resulta em um produto aquém do esperado. Naquele período, ainda faltavam alguns meses para a atual geração de consoles ser lançada e não se sabia do que ela seria capaz (não que hoje já saibamos realmente…).



O terceiro motivo foi a origem do jogo: a China, um país que não tem tradição na indústria de perfil AAA, e a desenvolvedora indie Game Science, uma equipe que, antes de fundar seu próprio estúdio, trabalhou para a gigante Tencent no MMORPG Asura Online e decidiu seguir outro caminho. O grupo já tinha a intenção de criar um RPG de ação para um jogador com foco em história, mas, antes, lançou dois jogos para mobile cujo sucesso permitiu dar o passo seguinte. Em 2017, o projeto de Wukong foi levado adiante.

A credibilidade da revelação inicial foi reforçada por mais um generoso vídeo de 12 minutos e um trailer, divulgados um ano depois, em 20 de agosto de 2021. Também houve a novidade da mudança do motor gráfico Unreal 4 para o Unreal 5. Apesar da pulga atrás da orelha, acontece que o que vimos é um jogo real que até já pôde ser testado pelo público da Gamescom 2023 — o GameBlast também jogou lá, então você pode conferir nossas impressões da demo.

Notou que a Game Science parece gostar de aniversários? A tendência foi mantida e Black Myth: Wukong será lançado daqui a alguns dias, também em um 20 de agosto. Nessa data, o jogo chegará ao PS5 e ao PC (Steam e Epic Games Store) e, ainda que uma versão para Xbox Series esteja confirmada, o estúdio ainda está trabalhando nela e não tem uma data precisa para o lançamento.

Vamos ver do que se trata o jogo?

O soulslike do macaco não é tão souls assim

É importante destacar que, mesmo que o jogo tenha ficado conhecido como “o soulslike do macaco”, a Game Science não considera que seja realmente parte do gênero, tendendo ao rótulo mais amplo de RPG de ação.

Em prévias publicadas até agora, é destacado que os ambientes são bastante lineares, com algumas ramificações para encontrar tesouros. A desenvolvedora afirmou que, embora a tendência seja de fato à linearidade, algumas porções do jogo são mais amplas e haverá missões secundárias.



Assim, mais do que em exploração, o foco será em combate, especialmente em lutas contra chefões desafiadores. Esses encontros prometem ser numerosos e únicos, com comportamentos variados. Só de trailers e demos já pudemos ver mais de quinze dessas criaturas monstruosas, com direito a urso, tigre, macaco, lobo, sapo, dragão, cobra, lagarto, inseto, pássaro, golem de pedra e algumas feras grotescas. Só na demonstração que cobre as duas horas iniciais, à qual alguns veículos de mídia tiveram acesso na Summer Game Fest, havia cinco chefes.

Ainda em 2020, o produtor Feng Ji comentou em entrevista à IGN que a campanha deve durar no mínimo 15 horas. Enquanto essa estimativa pode parecer baixa para o gênero, temos que considerar que a afirmação foi feita há quatro anos e Wukong com certeza passou por diversas mudanças no decorrer de sua produção. Mesmo que essa seja a duração média do jogo final, ele parece concentrar as horas de gameplay em seu ponto mais forte, a ação, provendo uma abundância de inimigos únicos e poderosos que conferem ao título uma alta taxa de “batalhas intensas por hora”.

Não haverá seleção de dificuldade, mas Wukong contará com diferentes técnicas, transformações e, ainda, três árvores de habilidades para se fortalecer e encarar seus oponentes. A dinâmica das lutas se ampara em ataques ágeis e esquivas precisas, formando duelos de animação tão fluida que parecem coreografias.



Jornada para o Oeste

A temática de Black Myth: Wukong é uma que a Game Science tinha vontade de desenvolver desde a época de Asura Online; isto é, a obra Jornada para o Oeste, o clássico literário do séc. XI que figura como um dos quatro grandes romances da China. A história é a de um monge budista que viaja até a Índia em busca de manuscritos sagrados e é protegido dos perigos do caminho por aliados improváveis, como o malandro macaco mágico Wukong, que rouba a cena com seus truques.

Já conferimos adaptações em videogame antes, especialmente no memorável Enslaved: Journey to the West (PC/PS3/X360), no divertido plataforma cooperativo Unruly Heroes (PC/PS4/XBO/Switch) e em outros menos refinados, como Monkey King: Hero is Back e Crown of Wu.


A obra mais famosa que usa Jornada para o Oeste como referência é Dragon Ball. Son Goku é diretamente baseado em Wukong e outros personagens, como Oolong e Rei Cutelo, também são frutos do texto chinês.

Em Black Myth: Wukong, o macaco é o centro das atenções. No vídeo de revelação do jogo, um velho começa a narrar a história, dizendo seus feitos, mas sem chamá-lo pelo nome:
“Você deve ter ouvido histórias dele. Alguns dizem que ele ajudou Tang Seng a pegar as escrituras budistas, tornando-se o Buda Lutador Vitorioso. Desde então, ele ficou em Lingshan. Alguns dizem que não foi ele que recebeu o título de Buda. O verdadeiro já estava morto na jornada para o oeste. Alguns dizem que não houve tal jornada. Ele é apenas um macaco contador de histórias fictícias. Mas você não deve ter ouvido a história que vou contar. Esta história começa com uma cigarra dourada."
Acontece que uma cena do vídeo mostra dois macacos simultaneamente, um mistério sobre o protagonista para o qual ainda não temos resposta. É possível que a história seja uma completa reinvenção de Jornada para o Oeste, ou um novo conto que decorreu após o clássico.

O que sabemos é que o jogo será repleto de referências, pois desde o primeiro vídeo elas já estavam em toda parte e integradas à gameplay: o bastão mágico que se estica, a capacidade de miniaturizar suas armas para guardar dentro da orelha, a magia de criar cópias de si mesmo usando seus pelos, o poder de paralisar oponentes, o andar sobre as nuvens, as vestes de Macaco Rei e a capacidade de se transformar em diversas criaturas, como a tal cigarra dourada, que serve para passar despercebido pelos inimigos, e um lobo antropomórfico, feroz em combate.

Será um dos grandes de 2024?

Tudo o que foi mostrado até agora faz de Black Myth: Wukong um jogo lindo de ver, deixando a expectativa lá em cima para que ele seja também estonteante de jogar. 

Embora ainda não tenhamos detalhes, a Game Science indica que não vai parar por aí e ainda há mais “Black Myths” no futuro da empresa. Mas vamos por partes. Primeiro, vamos ver como o rei macaco se sai sob os holofotes. Ele entrou em nossa lista dos jogos mais aguardados de 2024 e, até agora, tudo indica que marcará lugar na de melhores do ano.



Black Myth: Wukong — PC/PS5 (XSX em data ainda não divulgada)
Desenvolvedora: Game Science 
Gênero: RPG de ação
Lançamento: 20 de agosto de 2024

Trailer de revelação

Trailer do ano novo chinês de 2021

Gameplay no Unreal Engine 5

Cena da história

Anúncio da data de lançamento

Trailer final

Revisão: Ives Boitano

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.