Blast Test

Impressões: TRIBE NINE parece repetir a fórmula de Danganronpa, agora em RPG free-to-play

Apesar de ser uma nova história com personagens inéditos, o jogo dá a impressão de seguir o mesmo escopo da criação mais famosa de Kazutaka Kodaka.

em 19/08/2024

A convite da desenvolvedora e publicadora Akatsuki Games, o GameBlast teve a oportunidade de participar do teste beta de TRIBE NINE, um RPG free-to-play escrito por Kazutaka Kodaka, a mente por trás dos jogos da série Danganronpa e de Master Detective Archives: RAIN Code.

Embora TRIBE NINE possua algumas qualidades significativas que devem ser reconhecidas, o fato de ser um jogo pautado em microtransações para a obtenção de personagens e equipamentos também deve ser levado em consideração antes de cair de cabeça nesta nova aventura — e a seguir explico o porquê.

Tribos, beisebol e o futuro da humanidade

A versão beta de TRIBE NINE cobre o prólogo e os capítulos 0 e 1. A história, que tem como base a animação homônima lançada em 2022, gira em torno de Yo Kuronaka, nosso protagonista amnésico que acorda em Neo Tokyo sem ter ideia do que está acontecendo. Felizmente, ter assistido ao desenho não é pré-requisito para entender o jogo (até porque eu nem tinha ideia de que ele existia).

Em Neo Tokyo, a violência rola solta e todos os conflitos são resolvidos por meio de uma espécie de beisebol chamada de Extreme Baseball, também conhecido por XB. Neste contexto, grupos de adolescentes denominados tribos participam de provações de vida ou morte para resgatar sua humanidade.


Sendo assim, Yo, aliado a outros rebeldes que querem voltar às suas vidas normais, forma a tribo que dá nome ao RPG. Enquanto o prólogo e o capítulo 0 servem mais como longos tutoriais, no capítulo 1 devemos conquistar a cidade de Shinagawa — para isso, devemos enfrentar um dos subordinados de Zero, a pessoa (ou entidade) responsável por todo o caos em Neo Tokyo.

Embora a história se assemelhe muito ao que já vimos em Danganronpa — o XB é basicamente o “tribunal” de TRIBE NINE —, não posso dizer que ela seja chata ou desinteressante. Como nos outros títulos que levam a assinatura de Kodaka, existe aqui um cuidado enorme em fazer com que o avanço na campanha seja instigante, mesmo que todos os estereótipos e humor de gosto duvidoso já vistos em Danganronpa estejam presentes.

Seja como for

Seja como for, é importante ter em mente que todo o desenrolar narrativo se dá por meio de longas e mais longas cutscenes. Para mim, que estou acostumada a jogar visual novels, isso não foi um problema, mas não é necessariamente um aspecto que eu aprecie em jogos desta natureza — e muito provavelmente outras pessoas concordem comigo neste aspecto. 

Talvez o maior ponto negativo até agora seja a falta de posicionamento sobre uma possível localização para outros idiomas além de japonês, inglês e chinês (tradicional e simplificado). Sendo um jogo free-to-play que será lançado oficialmente no Brasil, seria interessante se pudéssemos ler os textos em português, ainda mais por TRIBE NINE trazer uma grande carga de leitura.

Basicamente um “Danganronpa as a Service”

Fora as cutscenes, outro elemento de jogabilidade é a exploração dos cenários, nos quais podemos interagir com NPCs e objetos, completar missões secundárias e mais. Basicamente, temos aqui um RPG bastante tradicional, com encontros aleatórios que desencadeiam batalhas contra inimigos variados.

O sistema de combate mistura ação e estratégia, e usamos três personagens distintos ao mesmo tempo, estando o principal sob nossa responsabilidade e os outros dois controlados pelo computador. Ainda, há sistemas de Tensão, Evasão Perfeita e Deflexão, entre outros, que são explicados conforme avançamos no tutorial.


Cada boneco tem seus pontos fortes e fracos e especialidades (como ataque, cura, suporte ou defesa), mas é possível montar suas builds de maneiras distintas. Nesse sentido, a customização do grupo é vasta e abre um leque de variedades que agradam a diferentes gostos.

Porém, o pulo do gato está aqui: personagens e Cartas de Tensão (equipamentos), os elementos que realmente importam no combate, estão atrelados ao sistema de gacha do jogo. Como a versão beta não inclui compras in-game, os participantes receberam uma quantia generosa de Enigma Entity, a moeda necessária para girar a roleta.


Quero dizer que o sistema de gacha adotado em TRIBE NINE não é o que mais me agrada (e muito menos me atrai) em um GaaS (sigla para Game as a Service, ou seja, jogo como serviço), a começar pelo custo: 120 Enigma Entities para um giro ou 1.200 para 10. Além disso, as taxas são de 0,6% para bonecos e Cartas de Tensão na raridade 3* (a maior) em todos os banners (ou seja, 0,3% cada categoria).

Embora o gacha nos recompense com um boneco 3* a cada 80 pulls nos banners, não podemos escolher qual virá. Claro, personagens duplicados podem ser usados para melhorar suas habilidades, mas gastar tantos recursos para não conseguir o prêmio desejado é, a meu ver, um dos principais pontos negativos desse tipo de gacha.


Adicionalmente, melhorar as Cartas de Tensão e os próprios personagens requer outros recursos que são obtidos ao concluir missões secundárias ou abrir baús espalhados nos cenários, e a desenvolvedora garantiu que teremos eventos que nos recompensarão com equipamentos e itens superiores aos obtidos na roleta — mas até que ponto completar esses conteúdos, provavelmente limitados, não estará atrelado a combinar personagens e Cartas de Tensão disponíveis apenas no gacha?

Infelizmente, esse tipo de gacha é o que mais me desmotiva em jogos free-to-play, ainda mais se levarmos em consideração que eventualmente TRIBE NINE contará com banners limitados que trazem recompensas extremamente “apelonas”. Esse foi um dos motivos pelos quais larguei Touhou LostWord, e também o principal que me mantém afastada dos títulos da Hoyoverse.

Preocupações em relação ao hardware

TRIBE NINE tem uma apresentação audiovisual bastante caprichada, com modelos 3D dos personagens para cutscenes e combates e um charmoso estilo que simula os gráficos da era 16-bits para a exploração do mundo. Além disso, as músicas são excelentes e a dublagem integral em japonês realmente se sobressai, ressaltando as individualidades de cada personagem.

No entanto, mesmo jogando em um laptop que atende às recomendações mínimas do jogo (inclusive, o próprio software considerou minha máquina como apta a rodá-lo na qualidade gráfica padrão), presenciei alguns problemas durante a jogatina, em especial durante as cutscenes. Não raramente, elas demoravam para carregar os assets do jogo, às vezes se resumindo a uma tela preta com a caixa de diálogo; em outras situações, havia um intervalo significativo na transição de um diálogo para outro, mesmo com a opção de texto automático ligado.


A solução que encontrei para contornar esse problema foi pular os diálogos até um ponto em que as cutscenes estivessem normalizadas e depois conferir o que perdi com o log de mensagens. Ao menos nesse ponto o jogo acertou, já que contar com essas ferramentas de qualidade de vida ajuda a remediar um pouco o fato de TRIBE NINE ser basicamente uma parede de textos — pelo menos, foi a impressão que o teste beta me passou.

Porém, esse problema de performance me chamou a atenção para o seguinte fato: como ficam as pessoas que preferem jogar em dispositivos móveis ou sistemas portáteis, como Steam Deck, ROG Ally ou o Zeenix? Ainda que o acesso a computadores “top de linha” para games tenha sido facilitado ao longo dos anos, o mesmo não se pode dizer de smartphones e tablets com configurações ideais para rodar títulos mais robustos.

Por fim, outra informação que ainda não foi disponibilizada é se o RPG terá suporte a crossplay ou não. Então, se também levarmos em consideração que versões mais potentes de dispositivos móveis possivelmente custam tanto quanto um PC/laptop com hardware otimizado para os jogos atuais, ainda mais no Brasil, quão “portátil” e acessível é TRIBE NINE de fato?

Promissor, sim, mas até que ponto?

TRIBE NINE é possivelmente um título excelente para fãs da narrativa de Kazutaka Kodaka e, acima de tudo, Danganronpa. Embora ele careça de mais explicações em alguns sistemas, dá para notar que a desenvolvedora está apostando todas as suas fichas em um jogo com um sistema de batalha e histórias engajantes, em especial os personagens — neste campo, há potenciais husbandos e waifus para todos os gostos.

Porém, é importante lembrar que estamos falando de um título GaaS e, com o conteúdo disponibilizado na versão beta, é difícil afirmar quão impactante o sistema de gacha será na campanha completa. Dessa forma, mesmo que exista um hype para o lançamento oficial, é sempre bom ter em mente que a expectativa pode não ser tão condizente com a realidade, ainda mais se ela for determinada pela nossa carteira.


Revisão: Davi Sousa
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida por Akatsuki Games

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.