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Análise: BAKERU é uma variada e colorida viagem por um mundo nipônico de fantasia

Apesar do baixo desafio, esta aventura de plataforma agrada com carisma e diversidade de conteúdo.

em 24/08/2024

O Japão está em perigo e o único capaz de restaurar a ordem é BAKERU, o corajoso garoto-guaxinim. Armado com um tambor, o inusitado herói percorre o país em uma aventura de ação e plataforma 3D repleta de momentos ágeis e diversos. Além da criatividade de situações, o jogo esbanja carisma com personagens divertidos e um mundo visualmente vibrante. A jornada é tranquila até demais, porém é envolvente o suficiente.

Peregrinando pelo país nipônico para interromper um estranho festival

Um general chamado Oracle Saitaro criou um plano maligno para dominar o Japão: com a ajuda de espíritos e outras criaturas, ele está promovendo um festival bizarro por todo o país. É tudo colorido e divertido, mas aqueles que participam do evento sofrem lavagem cerebral e passam a fazer parte do exército do vilão. A esperança é Bakeru, um garoto-guaxinim que recebe a missão de impedir Oracle Saitaro. Armado com um tambor taiko capaz de purificar espíritos malignos, ele viaja por todo o país a fim de interromper o festival.


A aventura é estruturada em estágios de ação e plataforma 3D cujo objetivo é ativar um monumento no final do local para livrar a região da influência maligna. A estrutura é protegida por uma barreira que é dissipada ao destruir ao menos três lanternas coloridas espalhadas pela área, então não basta simplesmente seguir até o fim. As fases são lineares, mas há incentivo para explorar com a presença de dois tipos de colecionáveis: cápsulas com lembrancinhas do local e um inusitado personagem que diz curiosidades sobre o Japão.

As localidades estão tomadas por espíritos e pessoas possuídas, então Bakeru usa o tambor taiko para purificá-las. Os botões L e R controlam as baquetas esquerda e direita respectivamente, sendo possível criar combos ao alterná-las. Há também esquivas, ataques especiais carregados capazes de revelar itens enterrados e um movimento de defesa com o tambor, que interrompe os inimigos caso ativado no último momento.


Por fim, Bakeru é capaz de se transformar temporariamente em outros heróis do folclore japonês por meio da técnica Henge. Cada forma tem características únicas: Sun é uma versão diminuta do personagem, perfeita para entrar em túneis apertados; o lutador de sumô Momotaro acaba com inimigos com poucos golpes; Urashima Taro usa varas de pescar para dizimar grupos de monstros; já Kintaro atira de longe com pistolas.



Em uma viagem que surpreende a cada destino

Em sua essência, BAKERU é um platformer 3D bem tradicional e descomplicado, qualidades essas que o tornam muito agradável. A ação é ágil e os controles são precisos, sendo muito fácil entender o conceito e atravessar os estágios. Apesar de majoritariamente lineares, algumas fases têm estruturas diferentes, como pequenas áreas abertas para explorar ou trechos inteiramente 2D.


De longe, a melhor característica do jogo está na variedade, com seções que exploram ideias e ritmos únicos. Em uma vila, precisamos pular por diferentes esteiras enquanto evitamos inimigos; em uma ponte, usamos painéis no chão para correr velozmente e destruir obstáculos; em uma arena, o desafio é derrotar inimigos poderosos espalhados pelo local; já no alto dos prédios de uma metrópole, usamos as baquetas para mover plataformas e criar caminhos. Fiquei surpreso com a diversidade de situações, o que fez com que cada área parecesse única.

Além dos estágios básicos, há ainda seções especiais completamente diferentes, como corridas de kart, trechos aéreos em que atiramos em inimigos e até mesmo lutas a bordo de um robô gigante. Esses momentos ajudam a deixar a aventura ainda mais diversa, apesar de serem menos elaborados em relação às outras fases. Há mais de 50 estágios para explorar, cada qual com particularidades únicas.


Cores vibrantes e arte bem-humorada ditam o tom da viagem do garoto-guaxinim. O jogo usa como palco um Japão que mistura o moderno a elementos folclóricos, resultando em um mundo carismático. O visual abusa de cores e elementos expressivos que remetem a animes, em especial nas conversas em formato de história em quadrinhos. A trilha sonora segue a mesma linha, com faixas que usam instrumentos tradicionais japoneses para trazer a sensação de estarmos em um grande festival.



Exploração descomplicada até demais

Logo fica claro que BAKERU tem a intenção de ser uma experiência mais leve e descompromissada, pois o desafio é bem suave. Sempre há mais lanternas coloridas que o necessário para concluir os estágios, a maior parte dos inimigos é derrotada com um ou dois golpes e a complexidade dos desafios raramente ultrapassa o simples. Para deixar as coisas ainda mais fáceis, é possível comprar itens que provêm vantagens temporárias, como invencibilidade. Com isso, a diversão está mais em aproveitar a variedade de situações.


Apesar de ser proposital, acredito que o uso tímido das mecânicas é um dos maiores defeitos do jogo. A grande variedade de ataques sugere um combate elaborado, mas não é necessário utilizar as técnicas avançadas, exceto quando enfrentamos uns dois tipos de inimigos e chefes. Já as transformações Henge raramente são exploradas, funcionando mais como um modo extra de acabar rapidamente com os monstros. Por fim, a baixa dificuldade às vezes deixa a ação trivial e desinteressante.

Mesmo com os problemas, o título tem qualidades suficientes para nos envolver. Derrotar ondas de inimigos rapidamente é terapêutico e recompensador, as batalhas contra os chefes são bem divertidas e há inúmeros colecionáveis para encontrar (em especial a partir da metade da jornada). O desafio até aumenta um pouco no decorrer da campanha, porém continua tranquilo — basta ir com a mentalidade correta para aproveitar o jogo em sua totalidade.



Um festival nipônico que vale a pena

BAKERU se destaca como uma aventura de plataforma 3D que, apesar de sua simplicidade, encanta com sua diversidade de situações e carisma. A jornada do garoto-guaxinim pelo Japão é recheada de momentos criativos, estágios variados e uma ambientação vibrante que mistura elementos modernos e folclóricos. A ideia principal é acessível e direta, com alguns pontos altos, como as batalhas contra chefes e a busca por colecionáveis ao longo do caminho.

No entanto, a leveza do desafio pode deixar a experiência menos empolgante para aqueles que buscam algo mais exigente. Além disso, algumas mecânicas são subutilizadas, e a baixa dificuldade pode tornar a ação trivial. Mesmo assim, BAKERU tem o poder de envolver com seu charme e variedade, sendo uma experiência agradável para quem procura algo descontraído e repleto de criatividade.

Prós

  • Boas mecânicas de ação 3D que combinam plataforma, combate e exploração de escopo reduzido;
  • Inúmeras ideias criativas espalhadas por mais de 50 estágios;
  • Ambientação cativante com gráficos coloridos, personagens carismáticos e um mundo que mistura moderno e tradicional.

Contras

  • Desafio baixo às vezes deixa a experiência um pouco tediosa;
  • Algumas das mecânicas, como os vários ataques, são subutilizadas.
BAKERU — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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