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Análise: TIEBREAK: Official Game of the ATP and WTA, a promessa imperfeita de um bom tênis virtual

Com a licença de astros como Djokovic, Nadal e Sabalenka, o game ainda inclui uma centena de quadras oficiais, mas não se vê livre de problemas.

em 30/08/2024

Apesar da tradição centenária do esporte, os jogos de tênis sofrem com lançamentos escassos e que vão diminuindo a cada geração de consoles que passa. Para mudar isso, a desenvolvedora Big Ant Studios chega com uma enorme bagagem, contando com experiência no gênero para lançar TIEBREAK: Official game of the ATP and WTA, que pretende ser o que FIFA era para o futebol. E esse objetivo quase parou em um tiebreak para quebrar o serviço da concorrência.

Continuando uma tradição para tentar figurar no topo do ranking

Tiebreak é a continuação do trabalho que a Big Ant Studios vinha fazendo com AO Tennis, um jogo de tênis focado em um dos quatro grandes campeonatos do mundo, o Australian Open (visto que o estúdio é australiano). Apesar de não ser um nome tradicional nos jogos do esporte, como Top Spin e Virtua Tennis, o estúdio conseguiu fazer um belo trabalho, angariando fãs que sentiam falta de um exemplar para gerações mais recentes, visto que jogos de tênis ficaram mais escassos com o passar dos anos.

Isso os garantiu o primeiro grande ponto positivo, que são as licenças de ambas as associações masculinas e femininas do tênis, ATP e WTA, trazendo para o game mais de 120 jogadores licenciados e quase 100 competições oficiais. É legal poder simular uma partida entre Jannik Sinner e Frances Tiafoe na final do Cincinnati Open, que acabou de acontecer, com todos os detalhes visuais que um fã do esporte pode esperar, como jogadores bem parecidos — se não idênticos aos reais — e estádios que são recriações perfeitas. Até uniformes de juízes e boleiros recebem esse esmero.

Apesar disso, algumas ausências são estranhas, principalmente no lado da associação feminina de tênis WTA, como Barbora Krejčíková e Elena Rybakina, duas recentes campeãs de Grand Slams que figuram no topo do ranking internacional. Nick Kyrgios, que está em uma pausa na carreira, possui seu equivalente no jogo, mas a lendária Venus Williams, que oficialmente ainda joga, apesar de esporadicamente, não. Curiosamente, Roger Federer, oficialmente aposentado, possui representação no game — Claro, não poderia faltar um dos maiores atletas do esporte em um elenco recheado.

Fora alguns detalhes, você vai encontrar quase todos os atletas preferidos do público e também alguns que não estão perto assim dos primeiros colocados da tabela, como os brasileiros Bia Haddad Maia, Thiago Wild e Thiago Monteiro, além de figurinhas carimbadas, como Rafael Nadal e Novak Djokovic. Além disso, o jogo possui um modo de personagens criados pela comunidade que podem ser baixados de graça, e eu mesmo pude curtir algumas partidas jogando com o lendário Andre Agassi, por exemplo.

Rumo ao estrelato, seja com um iniciante ou com a própria lenda do esporte

Um dos grandes chamarizes de Tiebreak, além de suas licenças, é o modo carreira, que serve como um single player robusto, algo já comum em outros jogos de esporte e que aqui faz a simulação ficar cada vez mais imersiva. Podendo ser jogado com um atleta pré-definido ou criando seu próprio personagem, o modo carreira conta com uma extensa temporada, já que existe quase uma centena de competições e você mesmo monta seu calendário.

O modo é recheado de opções para progredir com seu atleta e se tornar o melhor do mundo: além de ter que escolher bem em qual torneio entrar, qual trará mais retorno financeiro e de pontuação no ranking, o jogador ainda tem que escolher patrocinadores que aparecerão e ser entrevistado, podendo ter sua reputação afetada por isso e criar rivalidades. Esses elementos fazem a diversão single player muito boa para quem não confia na própria raquete em partidas on-line, rendendo boas horas de diversão.


Outro modo que chama a atenção, até tendo uma aba dedicada a ele, é o Djokovic Slam Challenge, um modo em que o jogador pode entrar na pele do atleta e reviver vários momentos decisivos para os 25 títulos de Grand Slam da sua carreira. Contando com finais nos quatro grande Majors e até a final olímpica que aconteceu no início de agosto, o jogador encarna o sérvio, maior vencedor do tênis, durante as partidas já rolando, no melhor estilo “scenarios” do clássico Super Star Soccer, a fim de sacramentar a vitória e com o jogo dando até bônus caso você complete algumas jogadas que Djoko fez durante as partidas de verdade.

Serviço quebrado pode comprometer o jogo, literalmente

Durante minha primeira semana com Tiebreak, um bug chato afetou a jogatina: enquanto eu jogava algumas partidas mais longas, o loading quebrava e, na hora de voltar para o menu principal, o jogo dava um softlock em uma tela preta. Isso foi péssimo, pois todo o progresso que eu havia feito em partidas que duravam uma hora em tempo real e eram difíceis se perdia com o game, que só salva seu progresso após esse momento. Felizmente, com os patches lançados posteriormente, a experiência foi levemente melhorada, mas ocasionalmente o problema voltava a acontecer.


Na verdade, isso tem sido comum desde que peguei no jogo pela primeira vez até o momento dessa análise: constantes patches têm sido lançados, mostrando um compromisso da Big Ant com a comunidade, que já tem se dedicado ao game. Mas todos eles pareceram corrigir problemas pela metade, o que me faz entender que existem alguns problemas mais profundos e que vão demandar algum tempo para ser corrigidos.

Feito para veteranos… mas não tanto para casuais

Tiebreak é claramente voltado para a simulação, e sua curva de aprendizado mostra isso, com uma jogabilidade “pesada” e que pode trazer muitas estratégias durante a partida. Durante o saque, o movimento mais importante do tênis, você pode escolher três formas para bater na bolinha, o que faz o adversário agir de maneira diferente em cada caso. Slices, top spins, voleios, tudo está presente, e leva um tempo para o jogador conseguir aplicar esses movimentos de forma eficiente durante a partida. Verdadeiramente fácil de aprender, mas difícil de dominar.

A inteligência artificial dos adversários também aplica golpes variados, mas possui algumas pequenas questões que deixam o jogador em dúvida sobre os testes que a equipe fez na hora de balancear o jogo. Durante minha jogatina, joguei no modo normal, mas também me aventurei no fácil e no difícil para saber como seria a experiência. Na dificuldade padrão, o jogo já é muito difícil no início, mas explorando algumas falhas dessa IA e aplicando jogadas variadas, o player consegue romper esse nível. 

Já no hard, a máquina sempre vai ser opressiva, com jogadas não previsíveis e até acertando aces seguidos, e só os jogadores mais experientes vão conseguir se sair melhor. Ao contrário do fácil, que até para quem nunca encostou em um vídeogame é uma piada: a CPU fica literalmente parada em quase 100% do tempo. Não há nuance ou curva de dificuldade, o que pode afastar os mais casuais ou aqueles que só querem uma diversão rápida e direta, já que até o modo normal exige dedicação.

O match point está em suas mãos

Esses tipos de problema não tiram exatamente o brilho do jogo, claro. Tiebreak pode não ser o jogo de tênis que você recomenda a um amigo que pretende jogar algo do gênero pela primeira vez, mas ele tem muito a oferecer para quem pretende pelo menos tirar um tempo para se aprofundar nas partidas. E é talvez nisso que a Big Ant Studios mira: em um jogo evergreen que não pretende ter sequências anuais, mas sim patches de balanceamento e conteúdo extra para atualizar o game, talvez.


Isso fica claro com a aba Academy, onde o jogador pode criar seus próprios atletas, logos para serem usados em uniformes e bolsas e até estádios inteiros. Apesar de não ser extremamente profundo e customizável como simuladores dedicados, Tiebreak tem opções o bastante para entreter durante a criação de conteúdo, incluindo a possibilidade de fazer atletas conhecidos e até você mesmo — com algum esforço ou liberdade criativa. Nessa própria aba, há uma espécie de loja onde esse conteúdo pode ser compartilhado entre a comunidade. Foi onde achei atletas criados por outros jogadores como Agassi (citado mais acima) e Pete Sampras.

Tirando alguns problemas pontuais que devem ser resolvidos por meio de patches, TIEBREAK: Official game of the ATP and WTA promete ser o melhor exemplar para fãs do tênis e de esporte no geral que procuram um game com uma cara de AAA e que não os bombardeie com monetização agressiva. Questões com o balanceamento do jogo, bugs que podem dar softlock depois de uma disputada partida e alguns atletas sumidos do vasto plantel não o deixam ser perfeito, mas o match point está nas mãos do game.

Prós:

  • Simulação de alto nível, fazendo com que diferentes estratégias possam ser aplicadas durante as longas partidas;
  • Elenco gigantesco de atletas, totalmente licenciado;
  • Sem monetização e com área dedicada à criação de conteúdo e compartilhamento com a comunidade;
  • O modo carreira robusto e o modo dedicado a Novak Djokovic podem dar dezenas (ou até centenas) de horas de conteúdo single-player.

Contras:

  • Ausências de alguns atletas renomados;
  • Bugs que podem te fazer perder um pequeno, porém árduo progresso;
  • IA desbalanceada em curva de dificuldade.
TIEBREAK: Official game of the ATP and WTA — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Davi Sousa
Análise publicada com cópia digital cedida pela NACON


Falo de tudo quanto é coisa, de Castlevania a Anatomy of a Fall, de Carolina Maria de Jesus a Hidetaka Miyazaki, de trilhas sonoras de Super Sentai a Mano Brown. Só não gosto de Deckbuilder Roguelike. Meu sonho é visitar o Japão. Se curtiu, continuo falando sobre meus textos em twitter.com/WesternYokai666
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