Análise: That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles: simplicidade, diversão e combates 2D

Adaptação de videogame da série de light novel, mangá e anime é um RPG de ação simples e divertido.

em 22/08/2024
That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles
é um RPG de ação que adapta a série de light novels, mangá e anime Tensei Shitara Slime Datta Ken. Com combates em rolagem lateral, trata-se de uma obra simples para o gênero, mas divertida.

O poder da família

Em Isekai Chronicles, acompanhamos a história de Rimuru Tempest, um rapaz que reencarnou em outro mundo como uma slime. Geralmente associamos esse tipo de criatura ao nível mais fraco de monstro que podemos encontrar em um RPG, mas nosso protagonista tem habilidades especiais que lhe concedem a chance de ir muito além.

Graças a sua capacidade de devorar coisas e outras criaturas e a um sistema de avaliação e inteligência chamado Great Sage, Rimuru consegue se tornar consideravelmente forte. O jogo faz um breve resumo do início da história e logo estamos já com o nosso personagem tendo uma forma humana e comandando um grupo de hobgoblins.

A história gira em torno dessa comunidade que Rimuru cria ao seu redor e que aos poucos vai agregando mais indivíduos da floresta. Eles são organizados quase como uma grande família e é interessante ver como isso avança ao longo da trama rumo à construção de uma sociedade bem-estruturada de criaturas.

Cabe ao jogador então defender essa nação em desenvolvimento, enfrentando vários desafios. A trama envolve tanto elementos canônicos da série quanto personagens e eventos inteiramente novos, como o goblin Kataki que busca vingança contra os Direwolves.

Como alguém que não teve nenhum contato com a série anteriormente, sinto que o jogo faz um bom trabalho em comunicar o essencial para novatos. Os detalhes apresentados são bem claros e instigam a curiosidade para conhecer a obra original.

O jogo não está disponível em português, contando com legendas em inglês, francês, alemão, coreano, chinês (simplificado e tradicional) e japonês, sendo esta última a única opção de voz. Além disso, alguns dos momentos centrais da trama são apresentados usando imagens estáticas do anime como fundo enquanto outros, especialmente os originais do jogo, usam os modelos 3D.

O título conta com bastante texto, mas felizmente permite acelerar cenas ou pulá-las inteiramente caso o jogador queira avançar mais rapidamente (por exemplo, ao rejogar tudo). Infelizmente, o mesmo não pode ser dito para o registro de falas em um log, uma ferramenta bem importante em jogos com muito texto, deixando o jogador impossibilitado de conferir novamente o que foi dito enquanto já está em uma parte mais avançada do diálogo.

Um combate dinâmico

Como um RPG de ação, um ponto fundamental da experiência é o combate em tempo real. A ideia é que saiamos da comunidade rumo a áreas de floresta, cavernas e afins nos arredores, enfrentando criaturas pelo caminho.

Todos os lugares para os quais podemos ir são estruturados como corredores 2D com alguns pequenos desvios. O design das áreas é bastante simples e limitado, não abrindo grandes oportunidades para exploração nem trazendo variações significativas. Por conta disso, não demora muito para notarmos quão repetitiva é a experiência.

No combate, usamos uma equipe de três personagens e dois aliados que podem ser invocados temporariamente como habilidades especiais. Podemos alternar entre os membros ativos da equipe durante o combate, mas há um breve cooldown para que o jogador não fique simplesmente trocando de qualquer jeito entre os personagens.

Para brigar com os múltiplos monstros que aparecem em cada trecho de combate, contamos com ataques básicos, cujo estilo e alcance mudam se estivermos pressionando um direcional. Também temos golpes mais poderosos que podem ser associados a três combinações de botão e que consomem Skill Points, e as habilidades especiais de cada aliado que precisam da energia de um cristal no canto esquerdo da tela.

Fãs de clássicos do gênero, como títulos da série Tales of ou Summon Night Swordcraft Story, sabem como isso funciona. Porém, ao contrário dos demais títulos, nossos personagens têm um acervo de poderes bem limitado em Isekai Chronicles. Também não temos aqui sistemas de itens consumíveis e nem mesmo equipamentos, deixando a experiência de usar os personagens mais homogênea e limitada.

Apesar dessas questões, chama a atenção a forma como o jogo recompensa a esquiva. Quando um inimigo vai atacar, um símbolo de alerta aparece acima de sua cabeça. Cabe ao jogador então entender os padrões de ataque de cada oponente e aprender a desviar na hora correta para que o jogo crie um efeito de slow-motion e permita um contra-ataque poderoso.

Inimigos também possuem grandes escudos que precisam ser quebrados antes de perderem HP. Usando o timing do desvio, é possível causar muito mais dano, rapidamente quebrando essa primeira defesa (que é regenerada após um tempo). Cada personagem também é associado a um elemento, sendo interessante dominar as vantagens de cada tipo para poder causar mais dano.

Outro fator que ajuda a valorizar o combate é o sistema de ranking, que avalia o desempenho do jogador entre C e S+. Para ser melhor colocado, é necessário manter um combo alto e derrotar os oponentes rapidamente. Porém, basta ser atingido ou demorar muito para encaixar um próximo golpe para que um combo seja quebrado, então é fundamental ser ágil e compreender bem o campo de batalha.

O resultado final é divertido, especialmente se o jogador entender como encaixar os golpes bem, como se estivesse em um jogo de luta. Porém, vale destacar que a câmera faz close-ups desnecessários em alguns momentos e, junto com os vários efeitos visuais disponíveis e a possibilidade de alguns inimigos chegarem muito no canto da tela, pode acabar dificultando a visão da área como um todo. Há também slowdowns em alguns momentos, como ao reduzir o HP do boss, que parecem ter uma intenção dramática, mas na prática causam estranheza, como se fossem bugs.

Esta cidade sou eu

Quando se fala de Isekai Chronicles, há também um elemento de construção de cidade que precisa ser mencionado. Conforme a história vai avançando, ganhamos terrenos que podem ser usados para colocar instalações variadas. Na prática, porém, elas nada mais são do que uma forma de customizar a força dos nossos aliados.

Ao colocar um “restaurante”, em vez de conseguirmos acessar as suas dependências ou comprar itens de cura (que não existem no jogo), ganhamos atributos como ataque ou HP. Esses bônus beneficiam a todos os aliados ao mesmo tempo, servindo como uma motivação para consumir materiais obtidos na exploração das áreas.

A outra forma de melhorar nossos personagens é um grid de passivas, que permite desbloquear vantagens individuais com pontos obtidos ao usar os membros da equipe na exploração. De forma geral, o esquema é bem útil para modelar um pouco melhor as vantagens de cada aliado, mas a estrutura é a mesma para todos, desperdiçando uma oportunidade de diferenciá-los.

Isso não significa que eles não tenham suas características únicas, já que cada personagem tem um elemento específico e o alcance dos seus golpes pode ser bem diferente. Mas, em comparação com outros jogos do gênero, o jogo acaba tendo menos elementos de RPG de fato para permitir um crescimento notável dos nossos companheiros de viagem.

Da mesma forma, há muitas batalhas contra chefes que exigem o uso apenas de Rimuru ou de uma combinação específica de personagens. No fim das contas, fica a sensação de que dava para o jogo aproveitar melhor o sistema de fraquezas elementais e fazer com que o jogador engajasse mais ativamente com ele e com a elaboração de equipes criativas.

O charme de slime

That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles consegue ser um jogo de ação divertido e cativante por conta própria, e mesmo quem não conhece a obra original na qual ele se baseia provavelmente conseguirá aproveitar bastante a experiência. Porém, as suas múltiplas limitações fazem com que ele não se destaque tanto dentro do gênero RPG de ação quanto poderia.

Prós

  • Combate fluido com sistema de desvio e punição no contra-ataque;
  • Sistema de ranking valoriza alcançar combos altos sem receber dano;
  • Boa variedade de personagens jogáveis com vantagens elementais diferentes;
  • O sistema de construção da cidade é uma forma interessante de melhorar os atributos de todos os personagens.

Contras

  • Customização limitada com poucas habilidades para cada personagem, grids de passivas homogêneas e a falta de mecanismos típicos do gênero como equipamentos;
  • Estrutura das áreas exploráveis é demasiadamente simples e repetitiva;
  • Muitas batalhas contra chefes restringem as opções de equipe, reduzindo o valor de se ter um time variado;
  • Ausência de log para reler diálogos anteriores;
  • Algumas ocasiões dificultam a visão do combate;
  • A animação de slowdown, que é utilizada ao chegar em valores específicos do HP dos chefes, acaba parecendo mais um bug do que uma escolha de design.

That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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