Oficialmente anunciado em junho de 2023 durante o Xbox Games Showcase, a Ubisoft surpreendeu a comunidade com um projeto ambicioso envolvendo Star Wars. Após rumores e especulações sobre o que a empresa francesa estava planejando com a franquia, Star Wars Outlaws foi revelado e, aos poucos, começamos a descobrir mais sobre o projeto.
Descrito como o primeiro jogo de mundo aberto de Star Wars, Outlaws baseia-se em uma história original sobre uma ladra em ascensão, buscando notoriedade e fortuna no submundo dos sindicatos do crime da Orla Exterior.
Com um universo rico e estabelecido à sua disposição, a Massive Entertainment — conhecida pela série de jogos The Division e por outros títulos baseados em grandes propriedades intelectuais, como Avatar: Frontiers of Pandora — apostou em um elenco majoritariamente original e em uma maneira única de explorar um mundo que conhecemos há décadas.
Prepare seu blaster e abasteça sua nave, pois nesta análise vamos explorar o universo de Star Wars de uma forma totalmente nova e única em um dos melhores produtos da franquia lançados em 2024.
Em busca de fama, fortuna e o que mais couber nos bolsos
Star Wars Outlaws conta a história de Kay Vess. Criada desde criança nos becos da cidade cassino de Canto Bight, Kay foi influenciada por sua mãe, que serviu como mentora e inspiração para sua vida no submundo do crime. Após anos sobrevivendo de pequenos golpes, na maioria das vezes malsucedidos, Kay e seu simpático mascote Nix sonham em conseguir o trabalho dos sonhos que lhes renderá a fortuna desejada e uma forma de finalmente sair de Canto Bight.
A ocasião faz o ladrão, e um dia uma oportunidade única surge para Kay quando ela aceita um trabalho arriscado que envolve um assalto à residência de Sliro Barsha, líder de um dos sindicatos mais perigosos da Orla Exterior, o Zerek Bash.
Kay aceita o trabalho, acreditando ser a chance que sempre esperou para se dar bem na vida. No entanto, como a maioria dos golpes em que se envolveu, este também acaba dando muito errado. Quase capturada pelos seguranças de Sliro, Kay consegue escapar a bordo de uma de suas naves mais valiosas, o que a faz receber uma marca de morte, a recompensa mais alta na galáxia.
Perseguida por Sliro e procurada por caçadores de recompensas que querem literalmente sua cabeça, Kay não vê outra opção senão fugir para salvar sua vida. Contudo, a sorte, de certo modo, volta a sorrir para ela quando Jaylen Vrax, um notório senhor do crime da Orla Exterior, vê em Kay um talento que pode ser útil para executar um golpe grandioso. Ironicamente, o alvo é novamente o líder do Zerek Bash.
Recrutada por Vrax, Kay agora precisa viajar pelos diversos sistemas da Orla em busca de aliados para ajudá-la nesse grande golpe, que não só poderá livrá-la dos caçadores de recompensas, mas também garantir sua sonhada liberdade enquanto consolida seu nome como uma grande fora da lei espacial.
Com uma jogabilidade em terceira pessoa, Star Wars Outlaws oferece uma experiência em mundo aberto bastante tradicional, mas que ainda preserva a grandiosidade característica de Star Wars. Diferentemente de outros jogos da franquia, nos quais cada região ou planeta era apresentado como um sandbox ou hub de interação com o ambiente e personagens, em Outlaws temos a real sensação de liberdade, permitindo-nos explorar os planetas e agir conforme desejarmos.
Locais que foram brevemente explorados nos filmes, como a cidade cassino de Canto Bight, Kijimi e outros como a famosa Tatooine, onde a saga cinematográfica começou e terminou, são ricamente detalhados e oferecem diversas atividades para ocupar nosso tempo durante a estadia em cada um desses planetas.
Além da exploração terrestre, atividades extra planetárias a bordo da Trailblazer completam a experiência de viajar por diferentes sistemas, realizando missões, coletando itens e descobrindo as histórias de Outlaws.
Caso esteja entediado de realizar golpes e outros trabalhos, que tal apostar nas corridas de Canto Bight ou sair em busca dos melhores jogadores de Sabacc da galáxia para tomar todos os créditos de seus bolsos? Conhecer a gastronomia local junto com Nix também é um programa interessante quando não se está atrás de alguma recompensa.
Se a promessa era entregar um jogo em mundo aberto de Star Wars, a Ubisoft cumpriu essa promessa com maestria, proporcionando uma experiência que é um verdadeiro deleite para os amantes desse gênero. São inúmeras atividades que surgem constantemente, incentivando-nos a explorar cada canto das principais localidades de cada planeta e a desbravar as diferentes regiões em campo aberto em busca de segredos e desafios.
Falem bem ou falem mal, mas falem de mim
Uma das características mais interessantes e únicas de Outlaws é o sistema de reputação. Conforme Kay realiza atividades, sejam elas relacionadas à história principal ou não, sua reputação flutua constantemente entre os diferentes cartéis que comandam o submundo do crime na Orla Exterior.
Dependendo da relação de Kay com cada um desses grupos, vantagens e desvantagens são habilitadas, algumas das quais são determinantes para o desenrolar da história. Estar em boas relações com um sindicato pode proporcionar recompensas como equipamentos, acesso a áreas restritas e contratos de trabalho exclusivos.
Por outro lado, se Kay não for vista com bons olhos por algum grupo, comerciantes podem elevar os preços dos itens simplesmente por não gostarem dela, o acesso a certos locais pode ser restrito ou até proibido, e, dependendo do nível de inimizade, o simples fato de estar em uma região dominada por uma facção hostil pode resultar em ataques imediatos.
Por isso, é crucial administrar a reputação de Kay conforme a situação exige. Muitas vezes, ela precisará se infiltrar em territórios de facções rivais para obter itens ou cumprir missões. Além disso, algumas escolhas podem afetar drasticamente suas relações com esses grupos, influenciando o rumo da história e limitando o acesso a determinados equipamentos e objetivos.
Em resumo, é um sistema mais robusto do que o visto em jogos como Red Dead Redemption, onde as ações do protagonista influenciam diretamente como o mundo ao seu redor reage.
Nem parece, mas ainda é da Ubisoft
A Ubisoft é amplamente criticada por reciclar elementos de seus jogos, especialmente na série Assassin's Creed, sua principal propriedade intelectual. Embora a empresa seja elogiada pela qualidade na ambientação, uma das principais críticas direcionadas aos seus produtos é a repetição constante de aspectos relacionados ao gameplay.
Em todos os jogos de Assassin’s Creed, temos que explorar e invadir locais de forma sorrateira para cumprir objetivos; em Far Cry, é preciso ativar torres para abrir o mapa; e assim por diante. Em Outlaws, esse tipo de problema surge novamente durante as missões.
Grande parte das missões principais segue um padrão repetitivo: invadir instalações imperiais ou acampamentos de bandidos para cumprir um objetivo, que geralmente envolve roubar ou destruir algo. Os segmentos que guiam o jogador durante essas missões acabam sendo repetitivos, consistindo em andar por dutos, eliminar inimigos furtivamente, marcar alvos, hackear computadores, balançar-se com cabos e assim por diante.
Após repetir essas mesmas atividades várias vezes ao longo de meia dúzia de missões principais, fica evidente que, apesar do cuidado em criar um mundo rico em detalhes visuais, ambientação e diálogos entre personagens, o gameplay acaba por se tornar um pouco básico, oferecendo uma experiência aceitável, mas nada inovadora, apesar de coerente com a proposta de Kay, de ser alguém que age sempre na surdina.
A mecânica do uso de Nix para ajudar nos momentos de abordagem dos inimigos e na interação com objetos no ambiente adiciona uma camada extra de estratégia, o que acaba dando mais importância para a presença do pequeno merqaal durante a jornada, ajudando a amenizar um pouco mais essa “fórmula da casa” que a Massive aproveitou na jogabilidade.
É possível modificar um pouco nossa percepção dessa experiência ajustando a dificuldade do jogo, mas a estrutura das missões permanecerá a mesma. Se você não se incomodar com isso e estiver jogando pela história e ambientação — o que, neste caso, recomendo — vá em frente, pois é certo que se divertirá bastante com Outlaws.
Caso contrário, mesmo que o jogo tenha uma aparência distinta de outros títulos da empresa, ainda é um produto da Ubisoft, uma empresa que, apesar de mostrar ambição em cada novo grande projeto, prefere jogar seguro com uma fórmula funcional sem inovar demais.
No aspecto técnico, a Massive Entertainment fez seu dever de casa ao aproveitar todo o potencial do PlayStation 5, plataforma onde joguei para produzir esta análise. Modos de qualidade e desempenho, além de um modo equilibrado para monitores compatíveis, que prioriza a qualidade a 40fps, estão presentes e funcionam adequadamente. Graficamente, o jogo peca em algumas ocasiões, com discrepância na qualidade de alguns modelos em certos momentos, mas nada que comprometa significativamente a experiência como um todo.
O DualSense é muito bem utilizado, tanto na parte visual, com os LEDs indicando status de Kay ou do ambiente, quanto no uso de armas e no “minigame” de destrancar portas, no qual o gatilho adaptável simula de forma convincente a dinâmica de arrombamento.
Carregamentos praticamente inexistentes e alguns bugs pontuais marcaram minhas quase 20 horas de jogo explorando a Orla Exterior de uma maneira que jamais imaginei ser possível, mas que, felizmente, está disponível para os fãs de Star Wars que estão sempre em busca de mais conteúdo nesse incrível universo de fantasia espacial.
Por fim, a localização para o português enriquece ainda mais a experiência, proporcionando uma forma de todos os fãs da série curtirem a aventura adequadamente, principalmente se você não é fluente em huttês.
Star Wars Outlaws é uma experiência que captura a essência do universo Star Wars, entregando uma experiência imersiva e visualmente impressionante com características de um heist movie. A Massive Entertainment conseguiu criar um mundo aberto que oferece aos jogadores a oportunidade de explorar a vasta Orla Exterior de uma forma autêntica e envolvente.
A narrativa, centrada em Kay Vess, adiciona uma nova dimensão ao universo da franquia, oferecendo uma perspectiva inédita e cativante sobre o submundo do crime galáctico, deixando de lado as intrigas políticas, dramas familiares e misticismos que sempre guiaram as principais histórias neste universo.
Outlaws também traz consigo alguns dos problemas recorrentes nos jogos da Ubisoft, como a repetição de missões e a falta de inovação em certos aspectos do gameplay. Mesmo assim, para os fãs de Star Wars e para aqueles que apreciam um bom jogo de mundo aberto, Star Wars Outlaws é uma aventura que vale a pena ser vivida, oferecendo momentos memoráveis em um jogo que respeita seu material de origem e oferece algo digno à franquia.
Prós
- O jogo capta com maestria a grandiosidade do universo Star Wars, com cenários ricamente detalhados e fiéis ao material original;
- A narrativa de Kay Vess traz uma nova perspectiva para o universo Star Wars, com uma protagonista original e uma trama envolvente e diferente;
- A exploração oferece aos jogadores liberdade ao navegar por diversos planetas e sistemas, com atividades e missões variadas;
- O uso do controle DualSense no PlayStation 5 é bem implementado, aumentando a imersão durante o jogo;
- Modos de qualidade e desempenho bem ajustados, além de carregamentos rápidos e gráficos de boa qualidade;
- Ótima localização para o português, incluindo versão brasileira na dublagem.
Contras
- As missões sofrem de repetição, com atividades semelhantes sendo executadas diversas vezes, tornando a rotina cansativa;
- Embora o jogo seja sólido, ele não traz grandes inovações, seguindo a fórmula de criação de mundo já conhecida da Ubisoft;
- Mesmo não sendo frequentes, alguns bugs podem afetar a experiência de jogo.
Star Wars Outlaws — PC/PS5/XSX — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft