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Análise: Moonless Moon: uma breve e sutil narrativa sobre a adolescência e as mudanças na vida

Em menos de três horas, podemos revisitar alguns dilemas sobre este período tão conturbado e delicado das nossas vidas.

em 17/08/2024

Moonless Moon
(lançado em 8 de agosto no Steam) é o título de estreia de ANMC, um projeto independente de criação de jogos e músicas. Apesar de curto, o jogo, que segue a premissa de uma visual novel, traz um conceito interessante sobre encarar a adolescência e  mudanças da vida.

Qual é o mundo ao qual eu pertenço?

Em Moonless Moon, acompanhamos Yomichi, uma estudante que, ao anoitecer, visita outros mundos. Nesses locais, ela encontra diferentes pessoas: Madobe, que mora na Lua; Hoshi,  barista de um café situado dentro de um túnel; e Ito, uma mulher que vive em uma campina isolada onde o tempo parece nunca se mover. Ao mesmo tempo, a protagonista também precisa lidar com seu próprio mundo, ao qual  se refere como “Day-Work World”.

Seriam lugares e habitantes apenas frutos da imaginação de Yomichi, válvulas de escape para o dia a dia conturbado da menina? Essa foi a primeira pergunta que me fiz enquanto jogava, já que algumas situações vividas pela protagonista me lembraram da minha própria adolescência. No entanto, a vida dela não é de toda ruim: a estudante tem colegas com quem se dá bem na escola e, mesmo que não tenha um convívio muito próximo com seus pais, não há indícios de que sua vida em casa seja ruim, embora às vezes solitária.


A única coisa que sabemos de fato é que o destino de cada “viagem” não é escolhido conscientemente; ou seja, existem condições específicas que ditam para onde Yomichi vai, as quais só percebemos conforme prestamos atenção nos diálogos entre esses diferentes personagens. A princípio, a narrativa escrita por Kazuhide Oka parece um emaranhado de situações que parecem improváveis, é verdade, mas aos poucos percebemos que ela é o trunfo e ponto alto de Moonless Moon.

Não cabe a mim (em uma análise ainda por cima) dar spoilers sobre a trama, porém afirmo que vivenciamos as situações de Yomichi diariamente, independentemente de nossa idade. No entanto, considero este jogo o tipo de experiência que varia de pessoa para pessoa: o que eu senti não é o mesmo que você pode sentir, por exemplo.


Essa situação acaba sendo uma faca de dois gumes, pois, de um lado, temos uma visual novel extremamente curta, que pode ser completada em menos de três horas, mas com um apelo introspectivo capaz de transportar algumas discussões in-game para fora do jogo. Do outro lado, se você não sentir nenhum tipo de ligação com os temas discutidos, Moonless Moon pode ser uma experiência totalmente rasa e pouco desenvolvida.

Porém, preciso levantar um ponto importante: havia, sim, espaço para uma exploração mais aprofundada dos temas abordados. No entanto, dado o caráter experimental do jogo, não acredito que seja justo podar as folhas deste título tão bonito e sentimental.

Uma visual novel mesclada com videoclipes — e alguns puzzles aqui e ali

Como comentei, a jogabilidade de Moonless Moon se assemelha à de uma visual novel. Basicamente, passamos os diálogos e os personagens não têm dublagem; em seu lugar, temos relaxantes composições musicais que ajudam a criar imersão para os dilemas de Yomichi e seus amigos de outros mundos.

Desse modo, na maior parte do tempo, não precisamos fazer nada a não ser avançar os diálogos, seja manualmente ou na forma de leitura automática. Contudo, em determinados momentos precisamos resolver algumas charadas simples, que consistem apenas em encontrar as palavras-chave necessárias para fazer a trama avançar. 


Talvez a minha maior crítica esteja relacionada a esses puzzles, mas não à sua simplicidade: com quatro finais diferentes, teria sido mais interessante se as charadas nos permitissem explorar a trama em ordens variadas, ao invés de na maneira linear com a qual o jogo foi projetado. De novo, não digo que Moonless Moon seja ruim da maneira que é: para um título de estreia e experimental, ele cumpre muito bem seu papel; só reforço aqui que havia espaço para mais ousadia.

Ainda em relação à jogabilidade, em três momentos específicos temos a inserção de videoclipes que ajudam a sintetizar os sentimentos de Yomichi, Madobe, Hoshi e Ito. Infelizmente, nenhum deles conta com legendas em inglês, então senti que não consegui captar as mensagens dessas bonitas composições — e se minha intuição estiver certa, esses videoclipes são de suma importância para a contextualização da trama de Moonless Moon como um todo.


Aliada ao texto, a música também tem grande peso para o aproveitamento do jogo. Algo que achei muito bacana em relação à trilha sonora é que, ao final de cada capítulo, temos a atribuição de créditos a quem compôs aquela faixa, com direito a um link direto para a rede social da pessoa.

Por fim, temos também log para rever texto já lido, a possibilidade de controlar a velocidade do texto e da leitura automática e uma galeria sucinta que nos permite revisitar os capítulos já concluídos, bem como ver as artes de cada final.

Para ler e refletir

Moonless Moon é mais uma experiência imersiva e introspectiva do que um jogo em si, embora existam alguns elementos de jogabilidade pensados para nossa intervenção durante a leitura. Em alguns momentos, senti que faltou um pouco mais de ousadia, seja para desenvolver mais os temas abordados ou fazer com que as charadas pudessem deixar a leitura menos linear, mas não dá para tirar o mérito da excelente qualidade narrativa do título de estreia de ANMC.

De modo geral, trata-se de uma visual novel cujo maior atrativo é o apelo audiovisual, em especial a ambientação e imersão proporcionadas pela excelente trilha sonora. Resta apenas saber se a viagem de Yomichi por diferentes mundos terá o mesmo impacto para você como teve para mim.

Prós

  • Narrativa interessante que explora temas profundos e introspectivos relacionados à adolescência e às mudanças na vida;
  • A combinação de trilha sonora relaxante com videoclipes transforma a leitura em uma experiência emocional e imersiva;
  • Recursos de qualidade de vida, como a possibilidade de rever o texto já lido e controlar a velocidade de leitura ajudam a adequar a leitura ao ritmo da pessoa;
  • Ótima trilha sonora, com direito a créditos e links para as redes sociais de quem compôs as faixas;
  • Presença de uma galeria que permite revisitar capítulos e rever as artes dos finais disponíveis para o jogo.

Contras

  • Por se tratar de um título de estreia e bastante experimental, faltou ousadia em trazer um aprofundamento dos temas abordados;
  • Os puzzles simples, aliados à estrutura linear da narrativa, abrem espaço para uma experimentação mais variada das charadas, que poderiam ditar a ordem dos capítulos, por exemplo;
  • A ausência de legendas em inglês nos videoclipes dificulta a compreensão completa da trama e das emoções que eles transmitem;
  • A recepção do jogo varia de pessoa para pessoa, fazendo com que o impacto emocional seja diferente para cada um.
Moonless Moon — PC — Nota: 8.0

Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida por KAMITSUBAKI STUDIO

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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