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Análise: CYGNI: All Guns Blazing é uma catarse audiovisual com design questionável

Bullet hell distribuído pela Konami traz uma aventura bonita de se ver, mas as decisões de game design o tornam apenas um passeio momentâneo

em 17/08/2024
Desenvolvido pela KeelWorks, CYGNI: All Guns Blazing é um shoot 'em up bullet hell que busca ser uma produção de alto nível para um gênero que raramente recebe investimentos em visuais mais elaborados. Prometendo ser o próximo passo para o estilo, será que conseguiu mais do que apenas uma aparência bonita?

Um pretexto para a guerra

Embora a introdução impressionante de CYGNI sugira uma história profunda, a narrativa serve mais como pano de fundo para a ação. Controlamos Ava, uma piloto do planeta Cygni Prime, que está sendo invadido por alienígenas. No comando de um Orca Starfighter, com um design belíssimo, enfrentamos hordas inimigas em uma guerra de proporções épicas.

CYGNI pertence ao subgênero bullet hell, no qual somos constantemente alvos de centenas de balas, testando nossos reflexos. O jogo entrega essa adrenalina, com tiros e inimigos surgindo em hordas incessantes.

Para lidar com a chuva de balas, nossa nave possui um tiro padrão para frente, com o ângulo ajustável pelo segundo analógico, e mísseis teleguiados que acumulamos em um sistema de risco e recompensa. A nave não é destruída com um único acerto, pois conta com um escudo.

A sacada do escudo é a capacidade de convertê-lo em mísseis a qualquer momento, utilizando uma barra segmentada em seis partes. Alguns inimigos derrotados soltam energia que recarrega o escudo, exigindo uma administração manual da conversão. É um loop interessante para manter o jogador atento aos ataques inimigos, mas fica repetitivo rapidamente.

O chão também é uma ameaça, e, para lidar com isso, o caça está equipado com um laser para varrer os inimigos no solo. Contudo, não é possível usar ambas as armas simultaneamente, exigindo equilíbrio para evitar ser alvejado.

Compensações questionáveis

A movimentação do caça utiliza a precisão do analógico para ajustar a velocidade da nave, uma ideia que parece interessante, mas, em um jogo desse tipo, é extremamente difícil manter o controle preciso no meio de um bullet hell.

Como resultado, acabamos virando esponjas de balas, correndo atrás de energia para manter o escudo ativo, em vez de nos concentrarmos em esquivar das balas em padrões — algo essencial para um design eficaz em jogos de nave. Em dificuldades mais altas, essa complexidade aumenta, dificultando a execução da jogabilidade.

Para oferecer um senso de progressão, o jogo conta com um menu de melhorias que permite aumentar a quantidade de mísseis, selecionar o tipo de direção de tiro, entre outras adições. No entanto, o menu é pouco explicativo, e muitas funções só são descobertas por meio da experimentação.

A dificuldade é um fator polarizador. Podemos escolher entre fácil, médio e difícil em cada um dos oito níveis, com a diferença na quantidade projéteis na tela e no sistema de vidas. No modo fácil, temos três vidas, sendo este recomendado para acumular pontos na loja de melhorias e preparar a nave para as dificuldades superiores, que não oferecem segundas chances — uma morte, e é preciso reiniciar a fase. 

Como o progresso de pontos é perdido com a morte, isso torna a experiência bastante frustrante ao começar diretamente nas maiores dificuldades. Ao menos a tarefa fica mais divertida em modo cooperativo, especialmente se os dois jogadores trabalharem em sintonia.

Brilhoso e chamativo

CYGNI chama atenção de imediato pela apresentação visual, que traz uma proposta diferenciada para o gênero, geralmente não focado em gráficos. A escala das batalhas é grandiosa, e os cenários conseguem transmitir a vastidão da guerra com sucesso, especialmente ao mostrar o quão pequena nossa nave é em comparação à imensidão inimiga.

As explosões e os efeitos de partículas também são um deleite, proporcionando uma sensação de satisfação ao destruir as hordas. O som complementa a catarse visual com efeitos extremamente satisfatórios e importantes. No entanto, a trilha sonora decepciona, inclinando-se para orquestras cinematográficas pouco memoráveis — um ponto negativo para um gênero conhecido por músicas icônicas.

O problema de encher a tela com tantas explosões e partículas é que isso acaba prejudicando a visibilidade e o feedback do que estamos acertando ou recebendo. Quando inimigos que atiram em padrões expansivos surgem em grande número, tudo se transforma em uma bagunça pirotécnica, deixando o sistema de escudo como a principal defesa contra um design problemático.

Apesar do impacto gráfico, é possível notar que o orçamento do desenvolvimento foi limitado em algumas áreas. Além da introdução e do encerramento, as cenas de história utilizam imagens estáticas com narração.

A variedade de biomas nas fases também é limitada, com a ambientação resumida a montanhas próximas aos oceanos, bases inimigas e sobrevoos nas nuvens. Junto à já mencionada longevidade de cada nível, isso pode tornar as sessões de jogo prolongadas um tanto cansativas.

Um parque de diversões rápido 

CYGNI: All Guns Blazing pode atrair novos jogadores ao gênero graças à sua apresentação chamativa, mas fica aquém em termos de design para os fãs experientes de shoot 'em ups. A ideia de risco e recompensa ao converter o escudo em mísseis é interessante, mas se torna repetitiva rapidamente devido à pouca variedade de tiros, funcionando mais como uma maneira de lidar com padrões difíceis de balas. Chamativo, mas passável.

Prós:

  • Apresentação visual interessante para o gênero de navinha;
  • A escala da guerra traz um fator dramático bem divertido, especialmente com os chefes gigantescos;
  • Modernidades, como mudar o ângulo do tiro, são boas ideias;
  • Som de explosões e tiros muito satisfatório;
  • Modo cooperativo local para dois jogadores;
  • O sistema de escudo e míssel é divertido de administrar na maioria das vezes, mas…

Contras:

  • … acaba virando um loop de jogabilidade repetitivo, tornando-se uma desculpa para um design bagunçado;
  • O jogo não explica seus sistemas com clareza, assim como a tela de evolução da nave;
  • Falta de variedade temática das fases;
  • A dificuldade soa artificial na dificuldade padrão, devido à falta de um sistema de vidas;
  • A trilha sonora não empolga e acaba passando despercebida;
  • A aceleração da nave a deixa imprecisa de controlar;
  • As fases longas demais ficam frustrantes com a ausência de checkpoints.
CYGNI: All Guns Blazing — PC/PS4/PS5/XSX — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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