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Análise: Animal Well é uma fonte de ideias que estimulam a criatividade

A imaginação e a adaptação são primordiais para superar os desafios desse misterioso metroidvania.

em 10/08/2024
Do momento em que uma flor desabrochou revelando uma simpática criatura até assistir aos créditos finais de Animal Well pela primeira vez, uma questão ficou me atormentando tal qual a necessidade de continuar desvendando mais segredos desse intrigante universo: como algo aparentemente tão simples pode se tornar ao mesmo tempo tão complexo?

Dois pesos, uma só medida

Conseguir equilibrar conceitos opostos é uma das tarefas mais difíceis, mas Animal Well encontrou a solução para essa equação através da capacidade criativa de seu excêntrico criador, Billy Basso.

O game é sobre essa criatura aparentemente em busca de uma saída da fonte, embora não haja informações de história ou lore que apontem para isso. Para alcançar esse objetivo, ela deve encontrar quatro chamas distribuídas por um grande mapa.

As primeiras salas acessadas revelam um local sombrio e misterioso, representado por gráficos pixelados e uma paleta de cores predominantemente escura. Esse lugar é habitado por uma fauna diversificada e outras criaturas ameaçadoras, criando um ambiente vivo mas que está sempre rodeado por uma atmosfera nefasta.




Efeitos de iluminação muito bem definidos preenchem esse vazio com cores vivas em situações em que explosivos são arremessados, portas são destravadas ou velas e lanternas são acesas para eliminar o perigo.

A estrutura do mundo funciona em um formato característico aos metroidvanias, com um mapa interligado construído ao redor de uma área central. A diferença, no entanto, é que muitas salas podem ser acessadas utilizando rotas alternativas independentes de habilidades específicas. 

Ainda que itens estejam disponíveis para serem usados na solução dos puzzles, em muitos casos é a criatividade do jogador que prevalece. A liberdade de exploração sem dúvidas é o ponto principal do jogo.



A reunião dos bichos

Saber lidar com a vida selvagem de Animal Well é o segredo para superar desafios que são, em sua maioria, quebra-cabeças e sessões de plataforma. Apesar de não haver qualquer forma de combate, nem todos os animais terão um comportamento passivo em relação ao personagem.

Alguns deles, como os cachorros, corvos e cangurus, são mais agressivos, ao passo que outros reagem apenas quando provocados. Outras formas de criaturas que aparentam ser espíritos e fantasmas vão perseguir o jogador em praticamente todas as oportunidades.

Muitos animais que circulam livremente ou que estão presos ao sistema da fonte podem ser usados para alterar o comportamento do cenário. Em alguns casos, esse animal pode tanto ajudar quanto atrapalhar a progressão do jogador. 




Um exemplo disso é um cavalo-marinho que esguicha água criando bolhas para serem usadas como uma forma de impulso, mas que também arremessam para fora do cenário. Já os ouriços causam dano ao jogador em qualquer contato feito, mas também servem como isca para superar uma das poucas boss fights do jogo.

Outros elementos de cenário também exercem um papel similar. É o caso de plantas que se assemelham às samambaias que indicam lugares com possíveis passagens secretas, mas que também atuam para impedir o uso de algumas ferramentas do jogador.




Utensílios peculiares para puzzles criativos

Animal Well conta com um arsenal de utensílios fora do convencional para a maioria dos metroidvanias. Alguns deles serão usados para abrir portas e interagir com os animais. Aqueles considerados essenciais são relativamente fáceis de serem achados ao longo do jogo. Porém, outros que servem para explorar os maiores segredos da fonte ficam em lugares mais difíceis de serem acessados.

Logo em uma das primeiras salas, um mapa estará dentro de um baú. Ele será fundamental para sua orientação durante o jogo, já que a disposição de salas é complicada de ser entendida nas primeiras horas. E como a exploração prioriza a liberdade, muitas vezes você se verá indo e voltando pelas mesmas salas em busca do melhor caminho. Um carimbo ajuda a colocar marcadores no mapa para destacar lugares de interesse, e um lápis para marcar a rota planejada.




Com as ferramentas, a jogabilidade se mostrou muito divertida. Quer seja arremessando um disco para distrair os cachorros ou atravessar longas distâncias, utilizando uma mola maluca para ativar mecanismos através de degraus ou criando bolhas que servem como um apoio para alcançar plataformas elevadas, tudo funciona de modo a incentivar a criatividade.

Embora não ofereça os puzzles mais difíceis, a maneira com que eles foram concebidos para funcionar em harmonia com a temática do jogo os coloca dentre os mais engenhosos.

Brincar com ioiô para guiar as chinchilas para pisarem nos botões ou coordenar seu arremesso para fazer curvas e ativar botões que muitas vezes aparentam ser inalcançáveis são sensações únicas, mesmo que o comando para efetuar essas ações ainda causem uma dose de frustração.




As viagens rápidas poderiam ser mais funcionais

De todos os itens, a flauta talvez seja o mais curioso. Ela possui a função de ativar pontos de viagem rápida posicionados em locais estratégicos que levam para uma sala que funciona como um hub.

Além disso, melodias tocadas corretamente levam o personagem de forma instantânea para certas salas e servem para interagir com alguns animais. O único porém, é que as sequências de notas não são simples de serem decifradas. 

Outro problema é que ao comandar algumas notas que exigem um direcionamento diagonal, por muitas vezes notas erradas também são registradas, dificultando a execução correta da melodia. Com isso, parte fundamental do sistema de viagens rápidas acaba restrito apenas aos que conseguirem compreender essa mecânica.




O fim é apenas o início

Após coletar as quatros chamas e revelar uma área abaixo da sala central, uma sequência de puzzles leva ao encontro contra o boss final. Só que mesmo rolando os créditos após esses eventos, a sensação de ter deixado muitos segredos para trás continuou me motivando a seguir em busca de cada um deles.

Além dos objetivos principais, há itens colecionáveis em forma de ovos que ficam em baús escondidos pelo mundo e que revelam um segundo final. Ao todo são 64 ovos, sendo que a maior parte deles é muito bem escondida.

Esses colecionáveis são armazenados em uma sala especial posicionada na região central do mapa. Para cada quantidade múltipla de oito de ovos encontrados, uma porta se abre na sala, levando a mais ferramentas que, mesmo não fazendo parte dos utensílios principais, serão usadas para procurar ainda mais segredos.




Dentre essas ferramentas, estão um peão para perfurar o chão, um controle remoto para ativar e desativar blocos, uma roda para inverter direções de mecanismos e uma bola que rebate no cenário.

Chegar ao segundo final levou seis horas além das dez necessárias para concluir o jogo pela primeira vez. E mesmo atingindo todos os requisitos para alcançar o que acredito ser o final verdadeiro, a impressão é que ainda sobrou muito a ser investigado. 



Para a criatividade não há limites

Quando paro para pensar que Animal Well é um produto da imaginação de uma única pessoa, todas as impressões positivas que tive a respeito do jogo ganham proporções ainda maiores. 

Animal Well aplica conceitos simples para criar uma fórmula capaz de incitar a criatividade do jogador e sua capacidade de compreensão de um ecossistema misterioso. Um game como esse não costuma aparecer frequentemente e merece ser reverenciado sempre que possível.

Prós:

  • Design do mapa propicia que os objetivos sejam cumpridos por diferentes rotas;
  • Pixel art com predominância de tons escuros cria um mundo belíssimo, porém misterioso;
  • Utensílios e habilidades possibilitam maneiras únicas de solucionar os puzzles e interagir com o ambiente.

Contras:

  • A orientação pelo mapa pode se tornar confusa;
  • Alguns comandos para usar os itens nem sempre respondem de acordo com o planejado;
  • O sistema de viagens rápidas não é facilmente compreendido, o que pode levar a inúmeras caminhadas pelo mapa.
Animal Well — PC/PS5/Switch — Nota: 9.0
Plataforma utilizada para análise: PS5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator em serviço de assinatura

Formado em Engenharia Civil, começou a estudar Jornalismo pelo simples prazer de escrever sobre o que gosta. Seu maior desafio é lutar constantemente contra um backlog de jogos que parece não ter fim.
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