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Análise: Abathor traz uma aventura com o espirito dos fliperamas, por bem e por mal

Junte-se a quatro guerreiros em uma jornada digna dos anos 1980 e 1990.

em 12/08/2024
Desenvolvido pela Pow Pixel Games, Abathor é um jogo de ação e plataforma lateral com fortes inspirações nas produções dos fliperamas das décadas de 1980 e 1990, como Rastan e Golden Axe. Apresentando uma aventura longa e repleta de conteúdo, o título é perfeito para sessões curtas, apesar de algumas decisões de design um pouco datadas.

A cidade achada de Atlântida

Abathor se baseia em lendas e conceitos comuns em histórias de fantasia, com doses de obras de Lovecraft em monstros. Atlântida era um reino em ascensão, o maior do mundo, que recebeu a ajuda dos deuses para desenvolver sua civilização e tecnologia. No entanto, a ambição dos atlantes foi longe demais, e eles buscaram uma fonte de poder infinita, escondida atrás dos Portões de Abathor, onde demônios estavam confinados há éons.

Com a abertura dos portões, os demônios ficaram livres para espalhar o caos por todo o mundo. Por mais poderoso que fosse Atlântida, nada conseguia conter a ira dessas criaturas, exceto por quatro viajantes que chegaram ao reino com um único objetivo: fechar os Portões de Abathor.

A jogabilidade é bastante simples, com ataques de curta distância, pulos responsivos, uma mecânica de esquiva e um ataque especial. Cada guerreiro tem suas particularidades em termos de ataque, defesa e mobilidade. Por exemplo: Crantor, o bárbaro, possui invencibilidade durante a esquiva e um poderoso golpe de área com sua espada; já Azaes controla espíritos e chamas, não tendo benefícios ao esquivar, mas contando com uma mecânica de absorção de almas que deixa sua espada flamejante.

Em alguns níveis, é possível encontrar o mercador, que vende melhorias como aumento de velocidade de ataque e movimentação, aumento na taxa de críticos e créditos extras. Embora os upgrades de ataque não tenham um impacto significativo nas fases — afinal, o que importa aqui é a quantidade de vezes que atingimos os inimigos —, eles podem fazer diferença nas batalhas contra chefes.

As fases são bastante lineares, com poucos caminhos alternativos. A exploração serve principalmente para encontrar baús com oricalco (que servem de moeda), itens de cura e armas secundárias, como machados, familiares e ataques de uso único que causam dano massivo aos inimigos. O jogo oferece 50 níveis que variam entre sequências de plataforma, batalhas contra chefes, sessões estilo "navinha" e até momentos com carros de mina, similares aos de Donkey Kong Country.


Embora a ideia de ter tantas fases seja atraente, a qualidade entre elas varia. Perto do final da campanha, alguns estágios se resumem a uma sala aberta com sequências de inimigos para derrotar. A qualidade visual de algumas dessas fases também é inferior, mas são poucas.

O jogo também oferece multiplayer cooperativo para até quatro jogadores, embora pareça que o design não foi totalmente pensado para a inclusão de tantos personagens na tela. Um jogador habilidoso que avança rapidamente pode lidar com as ameaças com facilidade, deixando quem está atrás sem muito o que fazer. As batalhas contra chefes, o ponto alto de Abathor, se beneficiam com dois ou mais jogadores e ainda contam com sprites detalhadíssimos, animações bem-elaboradas e padrões de ataque divertidos de aprender e contra-atacar.


As traquinagens do espírito retrô

Como em muitos títulos indies com inspiração retrô, a dificuldade é um fator importante a ser considerado. No entanto, a forma de como foi implementada aqui é questionável. Existem três níveis de dificuldade, que diferem principalmente na quantidade de créditos disponíveis no início do jogo. O modo Aventura é o mais fácil, com 99 créditos; o modo Heroico é o intermediário, com cinco créditos; e o modo Coragem, o mais difícil, está bloqueado no início e aumenta drasticamente a dificuldade geral.

É necessário jogar duas vezes para ver todo o conteúdo, pois o final verdadeiro só é desbloqueado no modo Coragem, sendo preciso concluir a campanha no modo Heroico antes. Jogar no modo Aventura serve apenas para uma experiência mais descontraída, especialmente no multiplayer, pois não desbloqueia nada ao ser concluído.

Perder todos os créditos não apaga o progresso; em vez disso, o jogador volta ao início do mundo, perdendo todas as melhorias compradas. Isso também ocorre se o jogador sair do jogo e carregar o save. Considerando o quão longa é a campanha, ter que jogá-la de uma vez para manter tudo pode se tornar cansativo.

Abathor é visualmente bonito, embora um pouco inconsistente. Muitos cenários apresentam animações de fundo fluidas e belas, e os sprites de criaturas maiores chamam bastante atenção, como na fase em que o jogador fica em cima de uma águia gigante. A parte destoante são as ilustrações dos personagens, que claramente não foram feitas em pixel art e possuem apenas um filtro aplicado sobre elas. Alguns níveis têm um acabamento mais simples e menos inspirado, provavelmente devido à necessidade de incluir sempre cinco fases por mundo.

A trilha sonora se destaca pela diversidade de estilos, abrangendo desde instrumentos sintetizados, típicos de fliperamas dos anos 1980 e do Mega Drive, até sons sampleados de Amiga e Super Nintendo. As faixas são empolgantes e algumas são bastante memoráveis.

Divertido e levemente datado

Apesar de algumas decisões antiquadas, especialmente no sistema de créditos, Abathor é uma escolha ideal para quem sente saudades de uma nova aventura com o espírito dos jogos antigos. A temática variada, com um bestiário diverso, chefes divertidos de enfrentar e as diversas opções de rejogabilidade, complementam uma excelente homenagem a uma era mais pixelada.

Prós:

  • Batalhas divertidas contra chefes;
  • A temática lovecraftiana com diversas misturas mitológicas é bem interessante;
  • Quatro personagens que mudam a abordagem da jogabilidade;
  • Sprites de inimigos bem detalhados e animados;
  • Alguns cenários com pixel art de ponta;
  • Trilha sonora diversificada instrumentalmente.

Contras:

  • O sistema de vidas prolonga a duração da campanha artificialmente;
  • Ter que jogar de duas a três vezes para ver todo o conteúdo do jogo é desanimador, ainda mais considerando sua duração;
  • O salvamento não carrega as melhorias e créditos;
  • Algumas ilustrações são inconsistentes com a direção artística geral;
  • Multiplayer para quatro jogadores um pouco desbalanceado.
Abathor — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia cedida pela JanduSoft

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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