Na primeira edição da gamescom latam, a Wargaming preparou um stand caprichado para que os visitantes experimentassem as novas embarcações disponíveis em World of Warships: os encouraçados panamericanos, sendo um deles o brasileiro Ipiranga, de nível VIII.
Além disso, também tivemos a oportunidade de conversar com Kristhian Mancilla, Gerente de Comunidade para Língua Portuguesa de World of Warships. Além de contar algumas novidades sobre os novos barcos, ele falou um pouco da sua trajetória dentro da comunidade do jogo.
GameBlast — Recentemente foram adicionados ao jogo os encouraçados panamericanos, que são embarcações brasileiras, argentinas e chilenas. Como foi a pesquisa para a introdução destes novos modelos?
Kristhian Mancilla — A pesquisa foi um pouco longa porque eles foram baseados em um encouraçado que já existe no jogo, só que este encouraçado é uma mistura de projetos. A gente tem essa “licença poética” de buscar outros projetos e transformar ele em navio, que é muito mais barato e não vai custar um encouraçado inteiro (risos), e os navios históricos acabam muito rápido. Se fizermos todos os navios que já existiram, é finito. Chega uma hora que acaba. Já estamos no nono ano (de World of Warships). Para continuar tendo conteúdo e ter sempre uma coisa nova, fazemos estudos em cima de projetos.
Às vezes achamos um projeto interessante, mas ele está lá em 1920 e qualquer coisa e pensamos: “e se dermos uma repaginada?”, “se, em vez de 1920 e pouco, ele fosse de 1940?”. A tecnologia avançou 20 anos aí. Dá para fazer um update e todo um estudo em cima de como seria, o que aquele país tinha de acesso, onde que ele teria sido feito. No caso do panamericano, os navios podiam ser britânicos, mas as modernizações eram feitas nos Estados Unidos, como nos casos do Minas Gerais e do São Paulo. Eles foram construídos na Grã-Bretanha, mas a modernização que eles passaram foi feita nos Estados Unidos. A mesma coisa para os chilenos. Às vezes a gente comprava algo dos Estados Unidos e vinha com coisas britânicas ou de outros países, como francesas e italianas. Tudo isso é levado em consideração na hora de fazer essa atualização.
Aí decidimos fazer o Atlântico, que é um encouraçado brasileiro, só que ele foi para um evento especial e não está mais disponível. Quem tem, tem, quem não tem, não vai ter mais. Então decidimos transformar isso em uma linha, fazendo uma adaptação para ele encaixar nos níveis 8, 9 e 10. Aumentamos o tamanho, poder de fogo, melhoramos a manobrabilidade dele, revimos a blindagem… é o mesmo conceito para estes três navios (encouraçados).
GB — Khristian, você usa termos bem técnicos para explicar as coisas, porque conseguiu dentro da comunidade de World of Warships algo que muitos jogadores buscam. Você era um tester (pessoa que verificam se um software/jogo está funcionando adequadamente) e conseguiu se tornar o Gerente de Comunidades para língua portuguesa. Como foi essa caminhada?
Kristhian — Olha, para ser bem sincero, eu não esperava. Comecei a mexer com a indústria de jogos em 2019, quando entrei para a comunidade de testers. Em 2021 eu comecei a fazer localização, mas não para a Wargaming (desenvolvedora do World of Warships), mas para outros estúdios e agências, e eu achei que meu caminho seria mais ou menos esse, fazendo localizações para alguma grande produtora.
Aí abriu uma vaga na Wargaming, eu mandei meu currículo e deu certo! Foi totalmente inesperado. Eu estava indo para um lado (profissional) e me puxaram para outro. Foi um pouco de surpresa, mas também me dá ferramentas que alguém que não é da comunidade não tem, que é conhecer o jogo há muito tempo, saber dos problemas que um jogador pode enfrentar desde o início até o final. O jogador que começou há duas semanas, por exemplo, enfrenta um tipo de problema. O que joga a três anos e está no competitivo tem outro tipo de problema. Eu entendo os dois porque passei por cada um deles. Também fui do competitivo.
GB — Além de acompanhar o World of Warships faz tempo, agora você está inserido não só na comunidade, mas no desenvolvimento e pesquisa como um todo. Recentemente, o Almirante Tamandaré, o patrono da Marinha Brasileira, foi adicionado como um dos comandantes disponíveis. É muito diferente a pesquisa de uma personalidade histórica que tem um nome na história do Brasil em comparação a um navio ou equipamentos?
Kristhian — Ela é mais fácil. A pesquisa dos equipamentos e dos navios depende muito de onde estão as plantas e do país. Tem países que o nível de digitalização desses arquivos não é alto e esse não é um problema só na América do Sul. Países do leste europeu também sofrem com o mesmo problema. A gente precisa de um navio polonês, por exemplo, e não está disponível na internet. Então temos que mandar alguém lá fazer a pesquisa. Isso acaba tomando o nosso tempo. Ter que mandar alguém e essa pessoa ver o que tem e mandar de volta, e talvez escolher outra planta e procurar outro arquivo… acaba sendo bem complicado.
Para figuras históricas é muito mais simples. A gente consegue levantar dados biográficos com muito mais facilidade. Temos o cuidado de entrar em contato com descendentes que iremos trazer o conteúdo para o jogo. Não é algo pago, então tecnicamente não precisa buscar autorização de antepassados, mas achamos de bom tom avisar que traremos um membro da família com respeito, sem fazer nenhuma piada ou desmerecer, até porque temos que lidar com o fato de que tratamos de eventos como a Segunda Guerra Mundial, e existem comandantes do nosso jogo que serviram na Alemanha nazista, no Japão Imperial e na Itália fascista. Temos que levar isso em consideração. Então não é difamar a imagem. A gente escolhe nossos comandantes e tem esse trabalho de selecionar e sanitizar, às vezes, a história de um navio. Temos esse cuidado porque a gente sabe que foi um período conturbado da nossa história e queremos focar só no combate e na tecnologia naval, sem entrar em questão de ideologia, sobre qual lado era melhor. Isso já foi e não vamos mudar o passado. O que foi está aí e vida que segue.
GB — Aproveitando a citação à Segunda Guerra, o Longest Night of Musems trouxe a temática dos 80 anos do Dia D, data da Invasão da Normandia. Foi um evento diferenciado por causa do peso histórico, em comparação com as outras exposições?
Kristhian — Foi. Não é a primeira vez que fazemos um evento tão grande assim, ou melhor, tem um evento que é parecido, mas ele foi um pouco menor do que esse. Me refiro à Operação Dínamo, que foi trazida em 2018, e celebrou a retirada de Dunquerque. Todo aquele trabalho de evacuar Dunquerque com as tropas britânicas o mais rápido o possível para pelo menos salvá-los. A máquina de guerra alemã havia acordado, pegou todos de surpresa e foi passando o “rolo compressor” em cima de todo mundo. A opção dos britânicos foi retirar as tropas, pois treinar tropas é muito mais caro e dificultoso. Coisas como canhões, tanques, jipes, caminhões e aviões podiam ser construídas depois. Pessoas, não. Então celebramos essa operação de salvamento com um evento no jogo, não só com artigos. Nessa época não existia ainda o Longest Night of Museums. Então fizemos lives especiais, trouxemos museus, falamos sobre o evento. Também teve um cenário dentro do World of Warships para que as pessoas jogassem essa operação e agora fizemos isso de novo com os 80 anos do dia D, só que em vez de apenas um cenário, são três, durando muito mais tempo que o de Dunquerque.
Teve o Longest Night of Museums, no qual trouxemos vários museus dedicados à memória da Invasão da Normandia e até alguns desconhecidos que as pessoas não sabiam que existiam, como a última lancha torpedeira alemã, que estava guardada na Grã-Bretanha, a US 130. Ela é a última de seu modelo e foi trazida e renderizada para o jogo. Ela era desconhecida e a gente conseguiu achar e trazer para a Longa Noite dos Museus para mostrar a existência dessa relíquia e para mostrar que se tratava de um museu pequeno e que precisava de ajuda. Assim incentiva a visitação e até doações para o lugar, abrindo espaço para fazer uma publicidade para eles.
GB — Sabemos da paixão da comunidade de World of Warships e muito disso é resultado das collabs e parcerias. Já houveram parcerias com Godzilla vs. Kong, o anime Azure Lane e com o célebre marinheiro Popeye. Em 2025, o jogo completará 10 anos. Já existe alguma colaboração ou evento especial que possa ser revelado para essa comemoração?
Kristhian — Olha, as collabs que estão confirmadas são as que a gente já conhece e já foram anunciadas. Até o fim do ano é possível que apareça algo, mas as collabs mudam muito de data. Internamente a gente escuta “vamos tentar uma collab com tal coisa para setembro”, e aí recebemos um e-mail: “já não é mais para setembro, é para outubro”, “já não é mais para outubro, é para o ano que vem” (risos).
Existe sim o prospecto de ter outras colaborações e trazer as velhas de novo. Temos essa atenção de fazer elas acontecerem de novo para dar a chance das pessoas adquirirem aquilo (os itens) se elas não eram jogadoras naquela época e tem interesse, ou não tiveram a oportunidade de completar uma coleção. Algumas colaborações são até para uma ajuda social, como a do Popeye, que arrecadou fundos para a instituição chamada Force Blue, que cuida da limpeza e manutenção dos oceanos, além de promover a defesa da biodiversidade deles. Todos eles estão interligados, então se um oceano está com problemas, poluído, todos os outros estarão também.