Análise: #BLUD traz os desenhos animados aos videogames, mas peca na jogabilidade e ritmo

Com belíssimas animações e uma divertida história de apocalipse vampiresco, a aventura de Becky peca em sua estrutura.

em 11/07/2024
Desenvolvido pela Exit 73 Studios, #BLUD é um jogo de ação e aventura com pitadas de dungeon crawler ao estilo de The Legend of Zelda. No entanto, o grande charme está em sua estética, que presta homenagem aos desenhos animados da década de 1990 e 2000, além de uma história bem-humorada com direito a nuances subliminares e macabras. Mas será que ele oferece mais do que apenas uma experiência visual de ponta?

Os vampiros estão a solta

Em #BLUD, acompanhamos Becky, uma adolescente recém-chegada à cidade de Carpentersville. O que inicialmente parece uma mudança comum logo se transforma em uma reviravolta graças a um livro de receitas de sua mãe que, na verdade, é um grimório. Vampiros e criaturas infernais começam a tomar conta da cidade, e cabe à corajosa garota enfrentar esses monstros — e também lidar com engravatados ricos que buscam poder acima de tudo.

O jogo presta homenagem aos desenhos animados tanto em sua estrutura narrativa quanto na apresentação. Cada capítulo é acompanhado por um card ilustrado e uma linha de história específica, avançando no enredo principal contra Dragur, o principal vilão, enquanto enfrentamos inimigos menores ou resolvemos outras missões. O texto é muito divertido, com NPCs carismáticos e comentários engraçados da Becky, e está muito bem traduzido e adaptado para o português.

É no aspecto visual que #BLUD realmente captura a inspiração dos desenhos animados. O design do mundo e dos personagens lembra obras como As Aventuras de Billy & Mandy e O Laboratório de Dexter, com traços cartunescos e movimentos exagerados. Piadas visuais, como a protagonista ficando queimada ou levando choque e mostrando o esqueleto, adicionam charme à aventura. A atenção aos detalhes, como animações distintas para cada ângulo de ataque e mortes distintas dependendo de como derrotamos alguns monstros, foi algo que me encantou desde o primeiro momento.

No entanto, a trilha sonora acaba atrapalhando um pouco a imersão da proposta. As músicas no estilo vaporwave dos anos 80 são interessantes, mas estão longe de combinar com a loucura do jogo, parecendo mais temas de investigação do que algo lúdico.

Uma jogabilidade que não apresenta o mesmo zelo artístico

Ao ver vídeos e imagens, #BLUD me chamou atenção pela sua apresentação altamente chamativa, e é lamentável que sua jogabilidade e estrutura não acompanhem a criatividade visual. O título opera como The Legend of Zelda, explorando um mundo aberto em busca de missões e itens, com dungeons para progredir na história. 

Para enfrentar os perigos, Becky conta com Brenda, um versátil taco de hóquei que ganha melhorias ao longo da campanha, como um guarda-chuva para defesa e um gancho para alcançar novos lugares. O arsenal também inclui lápis para ataques à distância e bombas para destruir paredes e inimigos mais resistentes.

O combate é bastante básico, já que não há novos combos ou estratégias além dos equipamentos. Isso pode tornar as lutas cansativas, especialmente nos embates obrigatórios, prejudicando o ritmo da jogabilidade. A diversidade é proporcionada principalmente pelos chefes, que são distintos entre si e proporcionam momentos de destaque.

No entanto, os controles poderiam ter sido melhor refinados. Embora a movimentação funcione bem, a função de rolagem inicial não oferece invencibilidade ou controle preciso sobre a distância percorrida. Como encostar nos monstros causa dano, perder vida é algo constante. Além disso, a falta de variedade nos inimigos não contribui para uma sensação de variedade, piorada pelos constantes combates obrigatórios na reta final da campanha.

Fora dos combates, as missões também sofrem com a falta de diversificação, frequentemente se resumindo à coleta de objetos ou diálogos com NPCs específicos. Com uma campanha de 10 a 15 horas, o progresso pode se tornar monótono, embora os jogadores possam optar por caçar colecionáveis e melhorias de vida para prolongar a experiência.

Um detalhe divertido da jogabilidade é a parte de rede social. Estamos sempre acompanhados de um smartphone, que serve como nosso menu para ver informações adquiridas para o grimório, como receitas e bestiário. Além disso, há a rede social Perch, a versão de #BLUD para o X (antigo Twitter). Cada missão aparece no site como uma postagem, com outros personagens interagindo por meio de comentários. Podemos até tirar selfies com qualquer NPC, incluindo inimigos, e cada foto terá alguma interação na Perch.

Encantador aos olhos, apenas mediano como jogo

#BLUD é uma aventura extremamente bela, que encanta os olhos com sua direção de arte criativa esbanjando personalidade e qualidade técnica. É evidente o carinho dos artistas em entregar uma aventura digna dos melhores desenhos animados dos anos 90 e 2000, e a história também reflete esses esforços. Infelizmente, a beleza sozinha não sustenta uma jogabilidade maçante, tornando a missão de Becky apenas mais um indie de 2024. Um dos mais bonitos, com certeza.

Prós

  • Estilo de arte charmoso e criativo;
  • Animações fluídas com atenção aos detalhes;
  • História divertida de acompanhar, como um bom desenho animado com tom levemente macabro;
  • Batalhas contra chefes diversificadas com direito a momentos catárticos;
  • Tradução de textos em português excelente, com adaptações no ponto para o público brasileiro.

Contras:

  • Falta de fluidez no combate;
  • A baixa variedade baixa de ataques e inimigos deixa as lutas maçantes;
  • A estrutura de missões é repetitiva;
  • Trilha sonora que não combina muito com a proposta.
#BLUD — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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