Desenvolvido pela Exit 73 Studios, #BLUD é um jogo de ação e aventura com pitadas de dungeon crawler ao estilo de The Legend of Zelda. No entanto, o grande charme está em sua estética, que presta homenagem aos desenhos animados da década de 1990 e 2000, além de uma história bem-humorada com direito a nuances subliminares e macabras. Mas será que ele oferece mais do que apenas uma experiência visual de ponta?
Os vampiros estão a solta
Em #BLUD, acompanhamos Becky, uma adolescente recém-chegada à cidade de Carpentersville. O que inicialmente parece uma mudança comum logo se transforma em uma reviravolta graças a um livro de receitas de sua mãe que, na verdade, é um grimório. Vampiros e criaturas infernais começam a tomar conta da cidade, e cabe à corajosa garota enfrentar esses monstros — e também lidar com engravatados ricos que buscam poder acima de tudo.
O jogo presta homenagem aos desenhos animados tanto em sua estrutura narrativa quanto na apresentação. Cada capítulo é acompanhado por um card ilustrado e uma linha de história específica, avançando no enredo principal contra Dragur, o principal vilão, enquanto enfrentamos inimigos menores ou resolvemos outras missões. O texto é muito divertido, com NPCs carismáticos e comentários engraçados da Becky, e está muito bem traduzido e adaptado para o português.
É no aspecto visual que #BLUD realmente captura a inspiração dos desenhos animados. O design do mundo e dos personagens lembra obras como As Aventuras de Billy & Mandy e O Laboratório de Dexter, com traços cartunescos e movimentos exagerados. Piadas visuais, como a protagonista ficando queimada ou levando choque e mostrando o esqueleto, adicionam charme à aventura. A atenção aos detalhes, como animações distintas para cada ângulo de ataque e mortes distintas dependendo de como derrotamos alguns monstros, foi algo que me encantou desde o primeiro momento.
No entanto, a trilha sonora acaba atrapalhando um pouco a imersão da proposta. As músicas no estilo vaporwave dos anos 80 são interessantes, mas estão longe de combinar com a loucura do jogo, parecendo mais temas de investigação do que algo lúdico.
Uma jogabilidade que não apresenta o mesmo zelo artístico
Ao ver vídeos e imagens, #BLUD me chamou atenção pela sua apresentação altamente chamativa, e é lamentável que sua jogabilidade e estrutura não acompanhem a criatividade visual. O título opera como The Legend of Zelda, explorando um mundo aberto em busca de missões e itens, com dungeons para progredir na história.
Para enfrentar os perigos, Becky conta com Brenda, um versátil taco de hóquei que ganha melhorias ao longo da campanha, como um guarda-chuva para defesa e um gancho para alcançar novos lugares. O arsenal também inclui lápis para ataques à distância e bombas para destruir paredes e inimigos mais resistentes.
O combate é bastante básico, já que não há novos combos ou estratégias além dos equipamentos. Isso pode tornar as lutas cansativas, especialmente nos embates obrigatórios, prejudicando o ritmo da jogabilidade. A diversidade é proporcionada principalmente pelos chefes, que são distintos entre si e proporcionam momentos de destaque.
No entanto, os controles poderiam ter sido melhor refinados. Embora a movimentação funcione bem, a função de rolagem inicial não oferece invencibilidade ou controle preciso sobre a distância percorrida. Como encostar nos monstros causa dano, perder vida é algo constante. Além disso, a falta de variedade nos inimigos não contribui para uma sensação de variedade, piorada pelos constantes combates obrigatórios na reta final da campanha.
Fora dos combates, as missões também sofrem com a falta de diversificação, frequentemente se resumindo à coleta de objetos ou diálogos com NPCs específicos. Com uma campanha de 10 a 15 horas, o progresso pode se tornar monótono, embora os jogadores possam optar por caçar colecionáveis e melhorias de vida para prolongar a experiência.
Um detalhe divertido da jogabilidade é a parte de rede social. Estamos sempre acompanhados de um smartphone, que serve como nosso menu para ver informações adquiridas para o grimório, como receitas e bestiário. Além disso, há a rede social Perch, a versão de #BLUD para o X (antigo Twitter). Cada missão aparece no site como uma postagem, com outros personagens interagindo por meio de comentários. Podemos até tirar selfies com qualquer NPC, incluindo inimigos, e cada foto terá alguma interação na Perch.
Encantador aos olhos, apenas mediano como jogo
#BLUD é uma aventura extremamente bela, que encanta os olhos com sua direção de arte criativa esbanjando personalidade e qualidade técnica. É evidente o carinho dos artistas em entregar uma aventura digna dos melhores desenhos animados dos anos 90 e 2000, e a história também reflete esses esforços. Infelizmente, a beleza sozinha não sustenta uma jogabilidade maçante, tornando a missão de Becky apenas mais um indie de 2024. Um dos mais bonitos, com certeza.
Prós
- Estilo de arte charmoso e criativo;
- Animações fluídas com atenção aos detalhes;
- História divertida de acompanhar, como um bom desenho animado com tom levemente macabro;
- Batalhas contra chefes diversificadas com direito a momentos catárticos;
- Tradução de textos em português excelente, com adaptações no ponto para o público brasileiro.
Contras:
- Falta de fluidez no combate;
- A baixa variedade baixa de ataques e inimigos deixa as lutas maçantes;
- A estrutura de missões é repetitiva;
- Trilha sonora que não combina muito com a proposta.
#BLUD — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games