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Análise: Stray Gods: Orpheus é um bis sem impacto

Este DLC não consegue expandir significativamente a experiência da aventura textual.

em 22/07/2024
Stray Gods: Orpheus
é um DLC para a aventura Stray Gods: The Roleplaying Musical, lançada em 2023. Com a ideia de expandir o jogo original através da perspectiva de um protagonista diferente, o conteúdo nos coloca na pele de Orpheus. Após os eventos anteriores, será que há mesmo espaço para ele assumir os holofotes?

A busca por sentido

Após os eventos do jogo base, Orpheus se vê diante de uma nova situação que antes não poderia imaginar. Em um dia qualquer dentro da sua rotina vazia no submundo, nosso protagonista recebe a visita repentina de Hermes. O personagem aparece para levá-lo ao mundo dos mortais, onde terá uma nova chance de viver.

O foco do DLC é, então, a jornada pessoal de Orpheus para descobrir um sentido para essa nova vida. De novos amores a uma chance de demonstrar seus talentos no mundo moderno, o personagem tenta de toda forma encontrar algo que valha a pena fazer.
Sem entrar em muitos detalhes, a nova história não traz grandes surpresas. A jornada de Orpheus é bem óbvia, utilizando a premissa como uma forma engraçada de ver o personagem sob uma nova lente e refletir sobre a nossa realidade.
 
Como um personagem pouco presente na história original, essa pode parecer uma chance de conhecer Orpheus mais a fundo, mas o dilema do personagem é abordado de forma curta. O pouco tempo de desenvolvimento se combina com a ausência de grandes eventos ou reviravoltas significativas, fazendo com que a experiência geral mantenha um tom de mesmice, sem causar impacto.

Um epílogo focado

Apesar da ausência de momentos particularmente fortes na trama, Orpheus serve também como um epílogo da história. Com isso, vemos o que acontece com os personagens após os eventos originais, sendo possível inclusive importar nossos dados para ver os detalhes da nossa experiência serem apontados brevemente nos diálogos.
 
Porém, com o foco em Orpheus, esse aspecto de “fanservice” acaba tendo um peso menor na experiência como um todo. É divertido saber como uma certa personagem se sente diante de suas atuais condições de vida, mas a estrutura aqui é ainda mais linear e limitada.
Em vez de tentar explorar outras possibilidades de narrativa ou gameplay, o que temos é um conteúdo que se contenta em expandir de forma simples e breve a obra original. Não há nenhuma alteração na gameplay, que se resume a escolhas de diálogo dentro e fora de sequências musicais. No fim das contas, os erros do jogo base continuam fortes aqui enquanto os acertos são minimizados.
 
As novas músicas são ótimas e o humor dos diálogos é muito bem colocado, mas sem a mesma carga emocional. Com o foco em Orpheus, não temos a maior parte dos personagens no DLC e, em vez deles, somos apresentados a novos indivíduos claramente pensados como secundários em relevância e tratados como estereótipos para piada. Fora eles, o jogo acaba sendo tão focado na premissa e no ego do seu protagonista que perde boa parte da alma da experiência, que é o fator humano dos relacionamentos.

Uma experiência para os fãs

Apesar de todas as críticas que apresentei, acredito que as pessoas que se apaixonaram pelo jogo original se divertirão com o novo conteúdo. O mundo de Stray Gods é bem rico em possibilidades de histórias e os seus vários personagens foram projetados com muitos detalhes que os humanizam.
 
Embora a história em si acabe se resumindo estritamente à auto-descoberta, tanto as músicas quanto as ilustrações mantêm o alto nível do jogo base. Stray Gods é uma experiência narrativa muito estilosa apresentada como musical, fazendo com que ele se destaque como algo único no mercado. O DLC não foge disso, mesmo não tendo ousadia suficiente para se destacar individualmente.

De volta aos palcos

Stray Gods: Orpheus
é uma forma interessante de revisitar o universo dos Icons para as pessoas que se apaixonaram pelo jogo base. Porém, o conteúdo adicional infelizmente se contenta em ser uma adição pequena e pouco significativa para a experiência como um todo.

Prós

  • Trilha sonora envolvente, com sequências musicais que mudam de acordo com as nossas escolhas;
  • Ilustrações incrivelmente detalhadas e carismáticas;
  • Sequências de humor bem-apresentadas.

Contras

  • Adição pouco significativa para a experiência do original;
  • Narrativa curta, óbvia e muito limitada;
  • A ausência de boa parte dos personagens e a adição de novos apenas por piada reduz o fator humano da experiência.
Stray Gods: Orpheus — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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