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Análise: Shift 87 — A melhor experiência de um gênero em ascensão

Memorize, relate e repita quantas vezes for necessário.

em 23/07/2024


Em 2023, um novo fenômeno surgiu nos videogames. Desenvolvido por apenas uma pessoa, o jogo The Exit 8 tinha uma ideia simples, porém inovadora, na qual o jogador precisava descobrir anomalias que aconteciam aleatoriamente em uma estação de metrô. Não demorou muito para outros jogos independentes se inspirarem e aperfeiçoarem a fórmula; e Shift 87, lançado em 23 de julho para os PCs, sem dúvidas, é uma das melhores experiências do gênero de “caçar anomalias”.

Memorize cada detalhe ou repita até conseguir

Os jogos focados em “encontrar anomalias” tiveram o seu ápice no final de 2023 com The Exit 8. Graças aos streamers que jogavam em suas lives, rapidamente a ideia simples foi caindo nas graças do público, já que todos poderiam ver seus ídolos tomando vários sustos e quase tendo ataques cardíacos.

A proposta desse tipo de jogo sempre segue a mesma base: um cenário é dado ao jogador, e ele precisa memorizar o máximo de detalhes possíveis. Cada vez que o personagem volta ao mesmo cenário, algo estará diferente, e cabe a você descobrir o que mudou e encontrar uma forma de lidar com a situação. Algumas anomalias podem ser inofensivas, já outras podem te matar e fazer você perder todo o progresso.

Com o passar do tempo, outros jogos foram adicionando novas ideias a essa base já estabelecida, e com Shift 87 não é diferente. Seu primeiro destaque é que, diferente dos seus irmãos mais velhos, ele conta uma pequena história em seus cenários para justificar o que está acontecendo. Claro que esta é uma história quase totalmente interpretativa e que serve apenas como plano de fundo, não sendo nem um pouco relevante para a experiência, mas que é interessante para os que buscam entender e que já o diferencia dos demais.

Na pele de um personagem sem nome, você precisará passar dezenas de vezes por um escritório. À sua direita, existe uma pequena sala com um homem que sempre te segue com o olhar; e à sua esquerda, uma sala de reuniões com um pequeno projetor. Um cenário simples, mas cheio de detalhes, e são justamente esses detalhes que irão testar a sua capacidade de memorização.


Você carrega consigo um dispositivo que tem a função de relatar qualquer atividade anormal no ambiente. Seu trabalho é simples, porém requer extrema atenção, pois é nos detalhes que o Diabo se esconde.

No rádio, seu supervisor mantém contato com você, sempre te passando informações importantes sobre o ambiente e como lidar com as anomalias, e assim começa a jornada do nosso personagem sem nome.

Além do escritório, existem outros dois cenários que o jogador precisará memorizar, mas esses eu vou deixar para vocês descobrirem. Sua missão é passar seis vezes por cada um desses cenários, relatando todas as anomalias que encontrar. Caso falhe, voltará ao início do ciclo.

Algumas anomalias são ridiculamente fáceis de encontrar, como, por exemplo, o cenário estar totalmente de ponta-cabeça ou um monstro enorme estar te observando pela janela. Já outras irão testar sua paciência, e você terá que encontrar uma simples caneta que não está mais no lugar. Se falhar, ficará preso para sempre no ciclo; se vencer, avançará.

A qualidade gráfica também é um ponto a ser destacado. Por ter apenas três pequenos cenários, ele foca todos os seus esforços na fidelidade gráfica deles, mas não fica tão pesado nos computadores e é extremamente bem otimizado.

O mesmo vale para a sua qualidade técnica, que se encontra na criatividade das anomalias. Apesar de muitas delas serem apenas mudanças de detalhes, algumas retorcem totalmente os cenários, usando muito do psicodelismo para confundir o jogador.



“Iniciar novo ciclo”

Ao abrir o jogo pela primeira vez, é difícil não notar as metalinguagens sutis dele. Em vez do tradicional “iniciar novo jogo”, a opção “iniciar novo ciclo” te dá as boas-vindas. Ao todo, existem 66 anomalias que precisam ser relatadas, todas elas aparecendo de forma aleatória sempre que o personagem volta ao início do cenário, sendo impossível encontrar todas em uma única jogada.

Você pode se dar por satisfeito assim que os créditos subirem pela primeira vez, mas, por ser uma experiência curta — que pode ser terminada em pouco mais de 50 minutos — o jogo fortemente te recomenda experimentar novos ciclos. Em minha experiência pessoal, foram necessários quatro ciclos para descobrir as 66 anomalias, o que me rendeu por volta de duas horas de gameplay.

Iniciar novos ciclos e encontrar outras anomalias também aprofundam a história, o que não a deixa mais fácil de entender — porém, mais interessante de refletir sobre.

Boa parte da experiência de Shift 87 é a surpresa. Não saber o que vai acontecer quando as portas do elevador se abrirem é o ingrediente perfeito para a tensão. Outras surpresas e mistérios permeiam o jogo, mas vou deixar para vocês mesmos descobrirem.

No fim, a experiência de Shift 87 pode facilmente ser descrita como o melhor jogo do gênero que ele se propõe a representar — seja por sua qualidade gráfica ou técnica —, um gênero recém-nascido, mas que aos poucos ganha cada vez mais espaço no coração dos amantes de suspense.



Prós

  • Criatividade das anomalias;
  • Gráficos fantásticos.

Contras

  • História exageradamente difícil de entender;
  • Curta duração.

Shift 87 — PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para a análise: PC

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Daedalic Entertainment



Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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