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Análise: Meifumado e a fórmula de como prometer muito e não entregar nada

Entre problemas técnicos e decisões questionáveis de design, game só se destaca mesmo no trocadilho de seu título.

em 30/07/2024

Sendo atualmente um dos terrenos mais férteis nos games, principalmente quando se trata do cenário independente, os “souls-likes” 2D ganham mais um representante, mas que infelizmente fica muito aquém dos clássicos do gênero. Envolto de algumas polêmicas e um lançamento nebuloso, Meifumado não consegue sobreviver às expectativas de seus trailers de lançamento e deixa como legado apenas algumas lindíssimas animações e um nome que carrega um bom trocadilho para nós que falamos português.

Não julgue um livro pela capa

As primeiras impressões que Meifumado tenta passar ao jogador são promissoras desde o lançamento de sua campanha de financiamento coletivo com o trailer que mostra uma aventura muito similar com um Sekiro em 2D. Contudo, o produto final parece mais uma demo do que um jogo completo e fica devendo mesmo a muitos títulos lançados em acesso antecipado, algo que já começa a se perceber já com a tela de título do jogo, muito parecida com a de um projeto básico de Game Maker ou RPG Maker.


O menu inicial do jogo já denuncia algumas coisas que virão pela frente, principalmente a falta de acabamento do game: uma das primeiras coisas que chamam a atenção é que o jogo nem sequer identifica a data ou a hora do seu save. Então, se você gosta de usar múltiplos saves, cuidado para não se perder entre as várias marcações com o mesmo nome genérico e separados apenas por suas numerações.

Selecionando um novo jogo, a experiência também é bem rústica, por assim dizer: ele mal  apresenta uma história, já que não existe uma, e logo de cara te coloca em um tutorial básico. Apesar de isso não ser ruim, o tutorial ensina tudo de uma vez, incluindo o sistema de golpes especiais, o uso de Chi — os magic points do game — e a utilização de itens consumíveis, além do aparo do jogo, que automaticamente desfere um ataque final no inimigo.

A caminho da vingança, seja ela qual for


Essa primeira parte do jogo faz seu serviço de maneira eficaz, não trazendo nada muito revolucionário e sendo  até meio apressado — talvez você precise olhar algumas vezes o menu para saber como executar determinados golpes especiais. Além disso, também apresenta os inimigos,  mecânicas de plataforma, exploração e especialmente a dificuldade que o título carrega, transformando cada confronto em um combate estratégico.

Infelizmente, uma das primeiras coisas que o jogador nota é o esquema de controles um tanto quanto não ortodoxo e contra intuitivo, uma vez que no momento do lançamento do game não havia a possibilidade de reorganizar botões. A movimentação do personagem era feita apenas no direcional digital, enquanto a mira do arco e flecha acontecia no analógico. O botão de confirmação era X (no layout de controle do Xbox) e não havia botão para voltar nos menus dentro do game. Parecem coisas bobas, mas um certo padrão dentro do gênero é importante e esse tipo de coisa atrapalha o flow da jogatina.

Jogo vazio não para em pé


Mas o problema mais grave do game é com relação ao seu conteúdo, ou a falta dele: sem entrar em questões dos bastidores, tentando avaliar o jogo apenas pelo que ele é, o game não possui boa parte do conteúdo prometido em seu trailer inicial, e até  sua principal tag de categoria na Steam é errônea,já que o classifica como um Action RPG. A verdade é o contrário disso: na primeira meia hora o jogador já encontra todos os inimigos que o jogo possui em um corredor linear, e os enfrenta utilizando uma estratégia que depois de meia dúzia de telas já se torna repetitiva e sem variedade.

E não é só isso, o jogo possui apenas três tipos de armas, três equipamentos de defesa e alguns itens consumíveis, entre armas secundárias de itens de recuperação de vida e chi. Tudo isso é encontrado logo no início do jogo e o restante da narrativa se torna apenas um game de ação, sem variedade em todos os níveis possíveis.

Fique preparado para enfrentar o mesmo chefe de novo, mas não por diversão…


Eu zerei Meifumado três vezes, precisei fazer isso pois na semana de lançamento do game a desenvolvedora Old Bit Studio foi lançando alguns patchs de correção que tentavam consertar coisas graves no game. Uma delas é um crash que fecha o jogo depois de o jogador executar alguns comandos sem muito padrão: Na minha primeira jogatina, logo após vencer o segundo (e mais difícil) chefe do jogo, meu jogo sofreu um erro inesperado e fechou. Em um game no qual o save automático não existe, tive que enfrentar novamente o chefão cheio de cartas na manga, que por sorte é também um dos mais divertidos e o ponto alto do game para mim — não que isso signifique muita coisa aqui.

O triste é que esses patches não corrigiram inteiramente problemas como esse, e minha experiência continuou com muitos crashes e um controle levemente melhor com a adição da opção de rebind. Uma pena que o jogo em si tem problemas que não se limitam aos técnicos, mas também ao âmbito artístico e de gameplay.


Como disse anteriormente, o jogo não é um Action RPG. Pelo contrário, é um jogo extremamente linear e bastante repetitivo, já que cenários são todos parecidos e sem variedade, os cinco ou seis tipos de inimigos se repetem até o fim e algumas decisões de design navegam entre o que parece ter sido abortado em alguma fase do desenvolvimento e o que simplesmente não faz sentido dentro da proposta do game. Equipamentos de defesa, por exemplo, indicam que dão ao jogador uma porcentagem de defesa ao jogador, mas quando não existe uma tela de status e dados sobre o personagem, esses (poucos) números ficam flutuando sem ter muito significado, e no gameplay real, mal fazem diferença.

Decisões duvidosas de design e fricções desnecessárias


Outra mecânica que o jogo entrega com uma apresentação estranha é a do já citado Chi, a barra de poder que o personagem usa para aplicar golpes especiais. Após utilizar uma técnica fatal, a barra de chi precisa de itens consumíveis e finitos para ser restaurada e, apesar de isso não ser algo que atrapalhe o jogador a longo prazo durante o game, desencoraja o uso de tais técnicas, já que o uso delas não garante a vitória em um combate. A própria exploração de cenários é também extremamente desencorajada, já que não há recompensas significativas além de itens consumíveis, às vezes em um número menor do que você gastaria explorando aquela parte do cenário.

Sendo assim, sem apresentar um sistema de progressão de personagem, tendo um mapa extremamente linear que não apresenta nem um backtrack básico para aumentar o tempo de jogo, os mesmos inimigos durante toda a campanha, um platforming básico que não apresenta nenhum tipo de desafio e um acabamento amador para um game em seu lançamento final, Meifumado não inspira muita confiança em nenhum fundamento do gênero e até dos games no geral.

As vezes é melhor ir ver o filme do Pelé


Para não ser injusto, o jogo tem alguns lampejos do que talvez tenha sido idealizado para ele inicialmente, como as suas boss fights que remetem muito as batalhas de Sekiro, ao invés de seus contemporâneos 2D e seus gráficos que lembram muito aqueles títulos do auge do Super Nintendo e também do Neo Geo. A direção de arte de Meifumado mirou bem e acertou com alguns cenários inspirados em clássicos do cinema Chanbara, Mad Max e Fist of the North Star.

Mas isso é tudo que o game apresenta de qualidades nesse momento, ficando muito abaixo de outros games do gênero, não só atuais, mas também de clássicos de gerações anteriores.  Como já dito anteriormente, Meifumado está sendo analisado pelo que é: um game em seu lançamento oficial. Dito isso, algumas questões nebulosas de bastidores não devem recair sobre o consumidor, ainda mais com este trazendo tantos problemas primários técnicos e de design. Então se você possuir R$46,99 e quiser algo que dure mais de uma hora e meia, é melhor ir ao cinema e deixar Meifumado para quando estiver custando pelo menos um quarto deste valor.

Prós:

  • Gráficos que lembram o auge 2D de Super Nintendo e Neo Geo.
  • Lutas contra chefes variam entre ok e boas.

Contras:

  • Crashes constantes que podem fazer o jogador perder um bom progresso.
  • Variedade que se apresenta em sua totalidade dentro de meia hora.
  • Linear e com fator replay nulo, além de durar pouco mais de uma hora e meia.
  • Equipamentos que não fazem diferença nenhuma no gameplay.
  • Controles contra intuitivos e desajeitados.
  • Mal acabamento no geral, beirando o amador.
    Meifumado  PC - Nota: 3.0
    Revisão: Juliana Piombo dos Santos
    Análise produzida com cópia digital cedida por Old Bit Studio


Falo de tudo quanto é coisa, de Castlevania a Anatomy of a Fall, de Carolina Maria de Jesus a Hidetaka Miyazaki, de trilhas sonoras de Super Sentai a Mano Brown. Só não gosto de Deckbuilder Roguelike. Meu sonho é visitar o Japão. Se curtiu, continuo falando sobre meus textos em twitter.com/WesternYokai666
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