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Análise: Frontier Hunter: Erza’s Wheel of Fortune traz bastante conteúdo, embora não inove seu gênero

Com uma jogabilidade que remete ao hack ‘n’ slash e a alguns elementos de RPG, a ação é um dos principais atrativos deste título.

em 28/07/2024

Depois de dois anos em acesso antecipado no Steam, Frontier Hunter: Erza’s Wheel of Fortune recebeu seu lançamento oficial no último dia 26. Embora traga conteúdo de sobra para justificar uma jogatina mais extensa, o título desenvolvido por IceSitruuna não inova muito o gênero metroidvania — o que é bom e ruim ao mesmo tempo.

De streamer a exploradora do desconhecido

Em Frontier Hunter, assumimos o papel de Erza Allen, uma exímia caçadora e uma estrela em ascensão nas Forças Imperiais, mas, no seu tempo livre, a protagonista faz livestreams e interage com seu público. Porém, depois de uma falha na espaçonave Tempest, que obriga a tripulação a pousar em um planeta desconhecido, Erza se une à sua companheira (e admiradora) Ciara Yang para explorar o novo local e evitar que monstros continuem a atacar o veículo.

Durante a exploração, a dupla encontra uma misteriosa figura chamada Niel, que, apesar da relutância inicial de Erza, logo se une às Forças Imperiais por motivos próprios. Embora a trama seja ligeiramente simples e não conte com muitas reviravoltas, ela é interessantemente conduzida por meio de diálogos durante pontos-chave da exploração dos diferentes cenários que compõem o vasto mapa do jogo; além disso, em determinados momentos, temos bonitas cutscenes que dão continuidade direta à história.


Apesar de seus momentos de linearidade, a ambientação é instigante o suficiente para nos prender aos desdobramentos, com muitos elementos de lore aparecendo de acordo com nosso progresso. Aqui, abro parênteses para mencionar que os próprios diálogos acabam servindo como bússola na expedição, já que, pelo que pude perceber, eles só aparecem quando estamos seguindo o caminho correto.

Um ponto curioso é o fato de Frontier Hunter ser, ao mesmo tempo, continuação direta e um título independente do jogo anterior do estúdio IceSitruuna, Tower Hunter: Erza’s Trial. Ou seja, embora ambas as aventuras se passem no mesmo universo, o metroidvania não economiza esforços para criar toda a sua própria ambientação, um ponto bastante positivo para quem não teve contato prévio com Tower Hunter — que é o meu caso.


Infelizmente, por mais que Erza’s Wheel of Fortune conte com uma localização para o português brasileiro, esta é lamentavelmente malfeita, com muitos erros grotescos tanto de gramática quanto em nomes de itens e monstros. Desse modo, preferi continuar a jogatina em inglês; ainda, não recomendo optar pelo português até que uma revisão seja feita.

Outra questão que me desagradou um pouco foi o fato de o “humor” do jogo, na maioria das vezes, se basear em “piadas” que objetificam o corpo da mulher e abusam de termos machistas, e até mesmo a adoração de Ciara por Erza pode ser vista como um artifício fetichista que permeia o gênero girls love. Entendo que a intenção da comédia (e até mesmo do design de personagens como um todo) seja flertar com o gênero ecchi, porém faltou um pouco de limite nesse aspecto, o que dá ao jogo um ar genérico e estereotipado na maioria das vezes.

Combate ágil, com direito a muitas customizações

Se a história não é um dos pontos fortes de Frontier Hunter, ao menos o combate faz valer toda a exploração do planeta desconhecido. As três personagens controláveis têm seus próprios estilos de combate, algo que, logo de cara, já garante diversidade durante a campanha.

Erza é uma exímia espadachim, podendo utilizar katanas, rapieiras e lanças durante o combate, enquanto Ciara possui chutes poderosos e pode “meter bala” com armas de fogo; já Niel é especialista em combates corpo a corpo com suas soqueiras, mas também faz bom uso da dupla clássica espada e escudo. Fora as armas de preferência, as garotas podem equipar até duas magias diferentes, que expandem ainda mais suas capacidades combativas.


Por trás de toda essa diversidade, está um robusto sistema de customização de equipamentos, que podem ser potencializados com os Núcleos Mágicos derrubados dos monstros; e elementos de RPG, que influenciam parâmetros como HP e MP, ataque, velocidade, ataque mágico, entre outros, com o passar dos níveis. Outro sistema presente e que pode ser acessado nos pontos de salvamento é a criação de pratos culinários que garantem bônus diversos por tempo limitado, como aumento na taxa de obtenção de itens raros ao derrotar monstros ou recuperação de HP/MP gradual — infelizmente, as comidas se sobrepõem, então não podemos combinar efeitos variados.

Ainda, ao longo da campanha, podemos adquirir livros mágicos que garantem combos poderosos às personagens, bem como projetos de armas, armaduras e acessórios que podem ser criados com itens derrubados de monstros e coletados pelos cenários.
 No entanto, enquanto os comandos são responsivos na maior parte do tempo, o mesmo não pode ser dito dos combos.

É difícil executá-los nos momentos certos, o que me frustrou em algumas batalhas contra chefes; felizmente, há a opção de ativar ou desativar esses golpes mais elaborados, evitando o gasto acidental de MP. Para finalizar, as meninas também possuem uma habilidade especial devastadora que consome um medidor chamado Raiva, mas, a bem da verdade, não entendi direito como utilizá-la — todas as vezes que ativei esses especiais foram acidentais.

Visual deslumbrante que mascara uma exploração linear e arrastada

O aspecto que mais me chamou a atenção em Frontier Hunter foi, sem dúvidas, a bonita arte em 2.5D durante a exploração. Aliada às cutscenes animadas e à dublagem integral em japonês, temos aqui um jogo que cativa com seu visual: todos os cenários são distinguíveis entre si, bem como os inimigos que os habitam. Infelizmente, a trilha sonora é uma faca de dois gumes: enquanto as faixas são agradáveis, muitas vezes elas não condizem com a tensão do momento ou até mesmo com a área que estamos explorando.

Contudo, a progressão em si é bastante bastante linear, abrindo pouca margem para que possamos desbravar áreas sem que tenhamos obtido habilidades ou chaves específicas. Sendo assim, o backtracking é inevitável, mas a pior parte disso é que os pontos de salvamento e de teleporte são relativamente escassos em relação à extensão do mapa.


Por mais que tenhamos alguns elementos que incentivam a exploração de áreas anteriormente visitadas, como missões secundárias e itens inacessíveis sem a obtenção de certas habilidades, o backtracking acaba sendo deveras custoso. Outro elemento que adiciona morosidade ao título são as batalhas contra os chefes, que, além de contarem com várias barras de vida, não trazem uma ação memorável.

Na maioria das vezes, consegui vencê-los apenas usando a metralhadora de Ciara aliada a ataques mágicos para atacar de uma distância segura, sem nenhum incentivo para explorar combos mais elaborados. Em outras palavras, simplesmente precisei decorar os padrões de ataques desses chefes e encontrar o momento certo para atacá-los.


O único ponto positivo desses embates é que os chefões possuem uma barra secundária, chamada de Break, que é diminuída gradualmente quando eles recebem dano. Quando esse medidor chega ao fim, os inimigos ficam atordoados, nos dando brecha para que possamos atacar sem medo de sofrer uma retaliação.

Deixando um pouco de lado os combates, quero apontar algumas falhas técnicas que percebi enquanto jogava. Em algumas transições de tela e cutscenes, e também em momentos com muitos elementos no cenário, senti um pouco de lag, mas nada que prejudicasse a ação propriamente dita — ao menos, a desenvolvedora disponibilizou diversas opções de resolução, muito provavelmente para evitar que esses problemas aconteçam.

Outro aspecto que incomoda é o fato de a navegação pelos menus não ser tão polida quanto o visual do jogo em si. Temos aqui muitos elementos sobrepostos, gerando uma poluição visual desnecessária. Ao menos, podemos acessar tutoriais, bestiário, missões e glossários a qualquer momento, bastando apenas abrir o menu principal.

Um bom metroidvania, mesmo que não se arrisque a inovar muito

Frontier Hunter: Erza’s Wheel of Fortune oferece uma ação sólida com elementos de RPG em um belo e cativante metroidvania, cuja narrativa é expandida à medida que progredimos na campanha. Embora o humor do jogo seja um pouco ofensivo às vezes, especialmente para o público feminino, a trama é instigante o suficiente para nos fazer seguir até o fim.

Infelizmente, por mais que os combates sejam o ponto alto desta aventura, os combos das personagens são difíceis de executar, e as batalhas contra chefes são arrastadas o suficiente para beirar o tédio. Somado a isso, temos uma exploração basicamente linear, que, acima de tudo, dificulta o backtracking com os poucos pontos de salvamento e teleporte.

Por outro lado, a falta de ousadia como um metroidvania faz com que Frontier Hunter seja uma boa pedida para pessoas que não têm tanta experiência com o gênero, oferecendo conteúdo de sobra para mantê-las entretidas por horas.

Prós

  • Bonitos gráficos em 2.5D, com ambientes que se diferenciam bastante entre si e boas cutscenes;
  • Interessante condução da história, com diálogos que se dão durante a exploração;
  • Combate fluido e ágil, que combina diferentes tipos de jogabilidade, a depender da personagem que está sendo controlada;
  • Dublagem integral em japonês e trilha sonora agradável;
  • Robusto sistema de customização de equipamentos, com direito a três setups diferentes para cada personagem;
  • As diversas missões secundárias servem como incentivo extra para continuar explorando áreas já visitadas;
  • Presença de tutoriais, bestiário e resumo de missões secundárias que podem ser acessados a qualquer momento;
  • Possibilidade de ativar e desativar combos aprendidos pelas personagens, a fim de preservar MP;
  • Apesar de previsível em alguns momentos, a história consegue instigar o interesse de ir até o fim.

Contras

  • Em vários pontos do combate, os combos não são responsivos o suficiente, muitas vezes ativados em momentos inoportunos;
  • Eventuais momentos de lag, especialmente durante cutscenes, transições de tela e quando há muitos elementos em jogo;
  • Embora extenso, o mapa garante uma exploração linear;
  • Localização lamentável para o português, com muitos erros gramaticais grotescos e erros até mesmo nos nomes de itens;
  • Na maioria das vezes, o “humor” do jogo se pauta na objetificação do corpo da mulher e em estereótipos e expressões machistas;
  • Os pontos de salvamento e teleporte são relativamente escassos em relação à extensão do mapa, fazendo com que o backtracking seja relativamente maçante;
  • Os combates contra chefes são pouco memoráveis e arrastados, bastando apenas memorizar seus padrões de ataque;
  • Os menus são visualmente poluídos se comparados ao esmero dos outros elementos do jogo;
  • A trilha sonora nem sempre condiz com a tensão da situação ou com a área que está sendo explorada.
Frontier Hunter: Erza’s Wheel of Fortune — PC/PS5/PS4 — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por IceSitruuna

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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