Jogamos

Análise: Disaster Band começa afinado, mas logo fica mais perto de vaias do que aplausos

Mesmo que a ideia básica seja ótima, a diversão infelizmente é limitada por diversos problemas intrínsecos ao jogo e escolhas na produção.

em 24/07/2024

Eu sou um grande fã de jogos rítmicos, sejam eles mais “puristas” como Guitar Hero, ou mistos com outros gêneros, como Hi-Fi RUSH e No Straight Roads. Lançado em 2022 para os PCs, Disaster Band é o mais novo game musical que chega aos consoles, disponibilizado em julho de 2024. Infelizmente, as suas boas ideias são comprometidas por uma execução questionável que, como vamos conferir nesta análise, quase compromete as suas qualidades.

Começo promissor

Disaster Band oferece 15 instrumentos diferentes (como guitarra, violino e flauta) para o jogador escolher e tocar uma das 20 canções disponíveis. Todas elas são de domínio público, incluindo algumas bastante famosas, em sua maioria pouco interessantes. Independentemente do equipamento escolhido, a execução das músicas funciona sempre da mesma forma.
As notas aparecem na tela com um ponto de início (na qual um botão deve ser apertado) e um de final (na qual o botão deve ser solto). A linha que liga esses pontos pode ter os mais diversos formatos, o que pode ou não ter efeito direto na execução da música. Essa questão depende diretamente da jogabilidade escolhida pelo jogador, cuja variedade é bem legal.

São quatro opções de controle diferentes para lidar com as linhas: sensor de movimento do controle (com assistência mínima e dificuldade média); analógico esquerdo (com assistência média e dificuldade média); somente acionar o botão da nota (com assistência máxima e dificuldade fácil); e modo livre (sem assistência e dificuldade alta). A minha preferência é pela segunda, mas todas trazem uma jogabilidade interessante e que vale ser experimentada.

Ao final da música, temos uma pontuação proporcional a nossa capacidade de acionar as notas no ritmo certo. Aqui, entretanto, reside um ponto ao mesmo tempo forte e fraco de Disaster Band: mesmo que você acerte tudo perfeitamente, os sons dos instrumentos sempre soam meio estranhos. É difícil definir com palavras, mas é como se eles estivessem ao mesmo tempo um pouco desafinados, abafados e/ou com graves/agudos alterados.
Creio que a ideia seja que os sons pareçam engraçados, algo que funciona nas primeiras músicas, mas que enjoa no longo prazo. É meio frustrante não conseguir ouvir uma versão “fidedigna” das canções, ainda que a intenção seja claramente o bom humor. Talvez ter uma opção para ligar/desligar esse “modo debochado” fosse a solução para o caso.

No limite do desafino

Outro ponto estranho do game é que, apesar de termos muitos instrumentos, todos eles mais ou menos soam parecidos. Mais uma vez tenho dificuldade em definir com palavras essa sensação, pois parece que os equipamentos não se destacam como deveriam. A questão do “deboche” também piora esse ponto, nunca deixando o violoncelo ou o trombone tocarem como suas contrapartes reais.
Infelizmente, as coisas continuam desastradas (!) para Disaster Band quando falamos das músicas disponíveis. Como comentei anteriormente, a quantidade inicial é pequena, sobretudo porque várias delas são relativamente curtas. O pior, entretanto, é que a qualidade delas é limitada, com poucas opções realmente legais.
Some isso com os outros problemas já citados e temos uma jogabilidade com diversão breve e no mínimo questionável. A única possível solução para essa situação é a conexão do jogo com o Mod.io, um repositório online no qual podemos fazer download de músicas criadas pela comunidade do game. 

Ótima iniciativa no papel, pois na prática ela reserva sua própria dose de problemas: não só temos poucas opções para download no Mod.io atualmente, mas temos ainda menos músicas interessantes e que sejam divertidas de jogar, nesse caso em relação à disposição das notas. Me parece que temos aqui mais um problema: embora eu mesmo não tenha testado as ferramentas de criação de músicas, fica claro que o processo criativo não é fácil.

As músicas que testei têm suas notas com uma disposição esquisita e sem uma boa coerência com o ritmo da canção. Talvez com o tempo tenhamos um aumento e uma melhora na produção, mas me parece desastroso (!) que Disaster Band aposte unicamente nos seus jogadores para receber conteúdo. Infelizmente, não me parece que a produtora trará material próprio, então só resta aos jogadores ficarem na torcida.

Capricho por um lado, falta dele por outro

Passando agora para a produção visual e técnica, temos um jogo com uma proposta minimalista. Menus, ícones e personagens são simples, mas com um certo charme que simula papel e caneta. As animações durante a execução das canções são criativas, assim como as músicas nos menus. Minha única ressalva vai para os bonecos de palito usados nas animações, que são excessivamente básicos, por vezes quase ofensivos.
Considerando a simplicidade desses personagens, me espanta que não tenhamos alguma personalização deles. Ou seja, não basta eles serem “debochados”, mas também não podemos escolher o formato desse “deboche”. Afinal, eu gostaria de poder customizar minha banda (!) em Disaster Band e dar a minha cara a cada show.

Um dos poucos pontos fortes e indiscutíveis do título é o modo multiplayer online, que tem cross-platform entre todos os dispositivos que receberam o jogo. Na teoria, isso fornece uma fonte ilimitada de novos integrantes para a banda; na prática, tive dificuldades constantes para encontrar outros jogadores. É uma pena, pois o game realmente melhora ao jogar em grupo.

Partidas nas quais vários jogadores trazem instrumentos diferentes, compondo uma execução mais robusta, são mais divertidas e veem seus problemas minimizados. Aqui aparece o defeito final e que mais me decepcionou no game: a ausência de um multijogador local, algo comum em jogos do gênero. Curtir uma apresentação desastrosa ao lado de um amigo seria ótimo.

Um lançamento (quase) desastroso

À primeira escutada, Disaster Band parece um ótimo jogo rítmico. Com uma proposta engraçada e original, as primeiras partidas são suficientemente divertidas. A questão é que essa irreverência pode ser um pouco irritante com o tempo. A dependência dos modos online para incrementar a jogatina – para encontrar jogadores e novas canções – é, no mínimo, uma aposta arriscada. Fica a sugestão para fãs do gênero musical e que estejam dispostos a enfrentar todas essas dificuldades.

Prós

  • Jogo rítmico com proposta original e inicialmente divertida, com ideias interessantes por vários lados;
  • Produção visual minimalista é agradável e salienta os elementos sonoros;
  • Jogabilidade acessível e com uma boa dose de customização, incluindo opção com sensor de movimento;
  • Possibilidade de procurar e baixar músicas produzidas pela comunidade tem potencial para um número infinito de conteúdos;
  • Modo online cross-platform ajuda a encontrar mais jogadores para as partidas multijogador.

Contras

  • Seleção inicial de músicas é limitada em qualidade e quantidade, se tornando dependente da produção de novas canções pela comunidade;
  • Produção por vezes exagera na originalidade e quase beira ao mau gosto;
  • Dificuldade em encontrar partidas online e falta de um modo multiplayer local.
Disaster Band — PC/PS5/XSX — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela SunDust

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.