Para alguém como eu, que tem Scooby-Doo como desenho favorito desde que me entendo por gente, vocês podem imaginar o quão animado e feliz fiquei ao ver um jogo da famosa Mistério S/A para PlayStation 1. Foi entre 2005 e 2006 que descobri a existência desse título, e o Carlos de 6 anos amou experimentá-lo na época. Bem… parece que o Carlos de 24 anos não pode dizer o mesmo (rindo de nervoso).
Scooby-Doo and the Cyber Chase é um jogo de plataforma desenvolvido pela Art Co., Ltd. e publicado pela THQ em 2001. O jogo é uma adaptação do filme de mesmo nome, que estreou no mesmo ano. De cara, essa informação pode afastar vários jogadores, e com razão, já que são poucas as versões de longas-metragens para videogames que valem a pena. Não é o caso deste título, que cai bem em cheio nessa maldição.
Mas sobre o que é esse jogo?
Antes de mais nada, é bom deixar claro que vou falar sobre o enredo do jogo, que, por algum motivo, acaba divergindo do filme, mesmo que tenha cenários que aparecem no longa. É importante avisar também que analisarei a versão de PS1 do game, não a de Game Boy Advance, que é um jogo totalmente diferente.
A história acompanha Scooby-Doo e sua turma, que estão presos em um ciberespaço (em nenhum momento é explicado o porquê) e precisam passar por diferentes cenários e fases, recuperar caixas de Scooby Snacks e vencer o Vírus Fantasma no final do game para se libertarem daquele lugar.
O jogo se divide em 7 cenários (Japão Clássico, Roma Antiga, Gelo, Pré-História, Cidade Grande, Egito e Parque de Diversões) e 21 fases, das quais 14 são níveis de plataforma como estamos acostumados e 7 são lutas contra chefes. Fred, Daphne e Velma não são jogáveis, apenas Scooby-Doo e Salsicha. É possível jogar com Scooby em 12 fases, enquanto Salsicha é jogável em 9.
Os inimigos presentes em cada fase são bem genéricos e estão de acordo com o imaginário de cada uma delas. Por exemplo, no Japão antigo, os inimigos são ninjas, lutadores de sumô, e o chefe é um samurai. Já no gelo, são ursinhos, focas, pinguins (deveria ser um crime colocar esses animais fofinhos como inimigos), e o boss é o vírus montado em um urso polar.
Eu acho que conheço esse jogo…
Eu também acho que você conhece esse jogo! Scooby-Doo and the Cyber Chase é uma versão piorada de Crash Bandicoot. Desde os inimigos até o design das fases, tudo lembra o jogo do antigo mascote da Sony, que naquela época já havia se consolidado e estava começando a se aventurar no PlayStation 2.
Toda hora é possível ver algo da franquia neste game, mas o momento mais descarado, sem dúvidas, é a parte do final do cenário da Pré-História, em que eles recriam (tão desgraçadamente quanto) a ponte de madeira caindo aos pedaços do primeiro jogo de Crash, lançado em 1996. Outra parte do design que remete à série de jogos é o cenário de seleção de fases, que lembra até demais o de Crash Bandicoot: Warped, de 1998.
Pode parecer injusto cobrar isso de Cyber Chase quando Crash Bandicoot era um fenômeno no mundo dos videogames e inspirou diversos jogos de plataforma lançados naquela época; entretanto, nesse caso específico, além de ser uma cópia, o jogo é bem medíocre. O design do jogo é bem simples comparado aos títulos que estavam saindo junto com ele, ali no final da vida útil do PS1. Alguns exemplos são Alone in the Dark: The New Nightmare (2001), Final Fantasy IX (2000) e Dino Crisis 2 (2000).
A renderização dos cenários é algo que traz muita estranheza para um título lançado em 2001, já que boa parte do nível à frente do personagem é coberta por uma tela preta, que vai se afastando conforme ele avança. As fases até têm cenários interessantes, mas, por serem vazios e conterem apenas algumas caixas ou outros objetos espalhados, acabam perdendo a graça. As duas únicas cutscenes do jogo (que aparecem no início e no final do game) são feitas com os modelos dos personagens em 3D e, devido ao possível baixo orçamento do título, acabam tendo animações bem rígidas, sem nenhuma expressão, apenas uma cara sorridente.
Cansativo e repetitivo
Tanto Scooby quanto Salsicha correm, saltam, efetuam um pulo duplo para grandes distâncias e atiram tortas nos inimigos, além de pularem e caírem de bunda para quebrar objetos nos cenários que revelam itens e para derrotar alguns inimigos. Esses são os únicos movimentos dos personagens no jogo.
O game é linear do início ao fim, ou seja, você precisa percorrer as duas fases de cada cenário, pegar a caixa de Scooby Snacks no final e, na terceira, enfrentar um inimigo. Todo esse processo durante 21 fases, sem nada de muito diferente. Uma repetição que você aguenta nos dois primeiros cenários, mas que, até o final, já está completamente cansado daquilo. Fora as fases extremamente longas, que destoam com a velocidade com que os personagens correm. Sério, eles são muito lentos.
Cyber Chase até tenta diferenciar um pouco a jogatina, colocando o jogador para controlar o Salsicha em um jet ski (no cenário do gelo) e um skate (na cidade grande), e é até possível se divertir com a voz e as frases do personagem no meio da neve, mas a experiência logo se torna frustrante, já que os controles são extremamente duros, tornando a manipulação do personagem um enorme desafio. O mesmo acontece ao andar de skate.
Outro ponto que torna o jogo extremamente repetitivo é o tanto que ele te pega pela mão para fazer as coisas mais simples possíveis. Durante todas as fases, um celular toca, e quando o jogador atende, é sempre Fred, Daphne ou Velma dando instruções sobre como passar da parte que está bem na sua frente. Isso acontece até mesmo na hora de enfrentar os chefes, no qual o objetivo é conseguir acertar três tortas para vencer o inimigo, e eles te contam o que precisa ser feito em TODAS as batalhas.
Ou você é fácil demais, ou difícil demais
Scooby-Doo and the Cyber Chase definitivamente não tem um meio-termo quando o assunto é dificuldade. Ele tem fases que são tranquilas de passar, com desafios mínimos. Até mesmo os chefes desse game são mamão com açúcar de derrotar. Como dito anteriormente, todos precisam levar três tortadas para serem vencidos, e isso é algo simples de fazer, mesmo quando há coisas sendo jogadas em você durante a batalha.
Até aí, é possível imaginar que o jogo é tranquilo de zerar, mas o que muitos não contam são os controles duros e imprecisos, além das consequências de levar um hit. Nas seções de jet ski e skate, os controles duros dificultam a condução do veículo ou da prancha de maneira eficiente, fazendo com que o jogador perca itens no cenário ou até caia em buracos com extrema facilidade.
Quando eles são imprecisos, fazem qualquer um querer arrancar os cabelos de tanta raiva. A partir do cenário da Roma Antiga, plataformas móveis começam a aparecer no jogo, e isso se torna um verdadeiro pesadelo, já que, em vários momentos, os controles não respondem aos seus comandos, fazendo com que o pulo que você estava calculando seja leve demais ou forte demais, mas dificilmente preciso. O resultado todo mundo já sabe: o fundo do abismo.
Além disso, existe uma enorme diferença entre Scooby e Salsicha quando ambos levam um hit: o Scooby, quando atingido, vai levemente para trás. Já quando acontece o mesmo com o Salsicha, o personagem cai no chão e dá um grande giro para trás. Caso isso aconteça ao lado de um buraco ou em uma plataforma estreita (como as de Roma), é morte certa. Isso torna a experiência do game ainda mais estressante, já que, quando você não está se preocupando em não pular errado, está tomando cuidado para desviar do hit do inimigo.
E para fechar com chave de latinha, lembram que eu disse que os chefes eram mamão com açúcar? Bem, quase todos, porque o último é ridiculamente DIFÍCIL. Mesmo que ele seja derrotado como todos os outros, o Vírus Fantasma é extremamente apelão e é quase impossível desviar dos golpes dele, já que ele é muito rápido. Eu tentei de todas as formas decorar os padrões dele, mas acabei vencendo na sorte mesmo. Um boss final totalmente desbalanceado para o nível do jogo.
Poderia ser simples, mas divertido
É triste que esse Scooby-Doo and the Cyber Chase tenha perdido o brilho que tinha para mim durante a infância. A animação na qual ele é baseado é bastante divertida e teria sido um ótimo jogo se tivesse tido mais investimento e carinho pelo material. Jogos que são lançados junto de filmes ou séries tendem a ter uma baixa qualidade, já que são feitos às pressas para não perder o timing da produção.
Infelizmente, nem fator replay esse título tem, e as duas horas necessárias para zerá-lo serão de muito estresse e frustração. Caso um dia eu o revisite, será por puro guilty pleasure.
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut