Elden Ring: O caminho para Térvore vol. 2: uma interessante mistura de zoeira e reverência

Mesmo caindo na algazarra, a representação de Elden Ring como um todo é tão fiel quanto os desenhos.

em 24/06/2024

Apresentei o primeiro volume do mangá Elden Ring: O caminho para Térvore no ano passado. Agora que a expansão Shadow of the Erdtree está entre nós (confira a análise e conheça o contexto inicial para não começar às cegas), decidi ir no embalo e tratar do segundo volume da obra em quadrinhos japoneses.

Tenho também o terceiro volume e espero escrever sobre ele na próxima semana. O quarto já foi anunciado pela editora e deve chegar em breve.

Outra novidade de Elden Ring é que, no começo do ano, foram lançados no Brasil os dois enormes volumes do artbook oficial, cada um com 400 páginas. Esses também estão na minha fila de escrita e espero poder falar deles no próximo mês.
Resenhas de Elden Ring: O Caminho para Térvore
Quarta capa.

Zorra total

O segundo volume continua o ótimo trabalho de paródia de seu antecessor. Se essa comédia é realmente engraçada, dependerá de quem lê, mas é inegável como o mangá adapta o jogo com muita competência, em uma representação que parte diretamente da fonte para distorcer rumo à zoeira.

É exatamente a precisão do espírito de paródia que o torna uma leitura voltada ao nicho familiarizado com Elden Ring (é um público considerável, dado que o jogo vendeu 25 milhões de cópias em dois anos). A maior parte das piadas acontece no meio do caminho entre a seriedade da fonte e a distorção irreverente do mangá. É a pessoa que lê quem vai mentalmente juntar essas duas coisas para formar um estranhamento que tem sempre o propósito de ser ridículo.



Isso não quer dizer que falte inteligência no humor de O Caminho para Térvore. Se, por um lado, o protagonista Aseo continua sendo um coitado sem noção vestido de tanguinha, é muito clara a maneira como essa adaptação leva a sério a obra original no sentido de que se preocupa em exibir um conhecimento detalhado tanto do mundo de jogo quanto da experiência de jogá-lo.

Creio que é aí onde mora o brilho do mangá: ele representa o que os leitores-jogadores viveram nas Terras Intermédias, criando uma leitura reconhecível e agradável em vários aspectos.

Para quem não jogou, porém, imagino que o mangá até aqui pareça apenas um desfile ininterrupto de personagens estranhos que somem tão de repente quanto surgiram. E para a alegria dos Maculados leitores, o segundo volume tem muitos deles.



Conhecendo mais NPCs

O volume dois tem oito capítulos, que podemos dividir em quatro seções.

A primeira é a mais longa, contendo três capítulos no castelo Tempesvéu. Aqui, conhecemos a guerreira Nepheli Loux que, assim como no jogo, pode estar presente para ajudar na luta contra Godrick, o Enxertado. No entanto, completamente diferente do jogo, essa batalha não acontece com golpes e ataques, mas com um concurso de enxertos no estilo de auditório com três jurados: Melina, Gostoc e Sentinela da Térvore.

A coisa toda é esdrúxula, mas a ideia combina bastante com a personalidade de Godrick e foi uma boa alternativa para não criar uma cena de ação forçada em detrimento da comédia.

A segunda seção tem dois capítulo na Mesa Redonda, onde Aseo conhece mais uma pá de gente: Gideon Ofnir, o Sabe-Tudo, e seu capanga caveiroso Ensha; Eina, a Companheira do Leito de Morte, e, claro, os Dois Dedos e Enia, a Leitora de Dedos. Essa cena com certeza representa o sentimento da maioria de nós ao ver os Dois Dedos pela primeira vez e a suposta tradução que a leitora faz de seu mestre bizarro.



Em seguida, na terceira parte, temos mais dois capítulos nos quais reencontramos uma das personagens do primeiro volume, a doce Roderika, que agora está em companhia do cavaleiro Bernahl, um encontro que cai como uma luva para Aseo aprender mais mecânicas de jogo, digo, aprimorar as habilidades que o ajudarão no longo caminho para a Térvore.

Por fim, temos um capítulo todo dedicado a arrancar o jarro Alexander do buraco no chão, onde está preso, o que serve como mais uma oportunidade de trazer nossa donzela favorita, Melina. 

Referência e reverência para fã nenhum botar defeito

Olhando para esse volume, é notável como o mangá é guiado pela graça e vai transformando o mundo aberto de Elden Ring em uma história que consegue ser doida e coesa sem deixar uma coisa atrapalhar a outra. Até a geografia segue o mapa do jogo, juntando personagens que estavam em locais próximos para dar uma continuidade fiel e atenta aos detalhes.

Há muitos pontos de destaque que são bons exemplos de como partes do jogo foram diretamente passadas às páginas da HQ. Um deles é o broche que Aseo encontra em uma pilha de cadáveres no castelo, o que o faz lembrar de sua conversa com Roderika, guardando o objeto para entregar a ela e prosseguir com a quest da moça.




Para listar mais alguns, temos Aseo aprendendo a usar a importante habilidade de aparagem dos escudos. Ele recebe a Benção do Baldaquino, um item dado por Fia que, na verdade, é uma massagem shiatsu. A guirlanda usada por Gideon é a mesma do item de cabeça Capuz Festivo, das sinistras dançarinas do vilarejo dos moinhos.

Os nomes de cada capítulo seguem o estilo das mensagens deixadas pelos jogadores, e até os muitos marcadores que espalhamos pelo mapa são motivo de piada. Em um tom mais sério, temos um vislumbre de um momento que é apenas mencionado de passagem no jogo, quando Godrick insultou Malenia e foi derrotado por ela, mas implorou por sua vida e foi poupado.




Também é muito representativa a cara de Aseo ao chegar a Caelid, onde achava que encontraria o tal “festival” para o qual Alexander o convidou tão animadamente. Como tantos jogadores, o Maculado dá meia-volta sem pensar duas vezes e sai daquela terra amaldiçoada para procurar um lugar mais ameno em Liurnia.

Uma minúcia que me chamou a atenção é quando Aseo e Nepheli deixam Tempesvéu pelos fundos. Ali há um caminho que desce à margem de um enorme precipício. Para a surpresa do Maculado, a guerreira se despede e simplesmente salta do penhasco, descendo agilmente pelas pedras e lápides incrustadas no paredão.




Essa é uma trilha pouco usual e arriscada que segue para outra parte daquela região e, provavelmente, foram poucos os jogadores que viram essa opção e a escolheram em sua primeira incursão no local. Com cara de besta, Aseo parece o novato assistindo ao aventureiro experiente jogar.

Continua no próximo volume

Assim, o segundo volume de Elden Ring: O caminho da Térvore prossegue na jornada de Aseo usando sua notável inspiração no jogo para zoar com a cara de tudo e de todos. Essa história está longe de acabar e, no próximo volume, acompanharemos a chegada do guerreiro à região dos lagos de Liurnia.

Folha de rosto

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli


Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.