Hoje, quando falamos de representatividade da comunidade LGBTQIA+ em videogames, temos inúmeros exemplos; praticamente qualquer jogo que for lançado atualmente possui algum personagem da comunidade, seja um dos protagonistas ou mesmo um NPC. Como estamos no Mês do Orgulho LGBTQIA+ e aqui no GameBlast adoramos falar de jogo antigo, vamos apresentar os primeiros jogos que retrataram personagens do Vale na década de 80, um tempo em que as representações eram quase inexistentes.
Peço que tenham em mente que os jogos abaixo foram criados há cerca de 40 anos e são um produto de seu tempo; por isso, em alguns títulos que serão mencionados a seguir, as representações da comunidade LGBTQIA+ são defasadas, completamente inadequadas e em nada representam como a comunidade deve ser retratada.
Sendo assim, esta matéria tem como objetivo listar os primeiros jogos que apresentaram personagens LGBTQIA+ e falar brevemente de sua história.
1985 – Le crime du parking
Le crime du parking, ou “O crime do estacionamento”, é um jogo francês lançado em 1985 pela Froggy Software para Apple II. Os gráficos são simples, consistindo em uma imagem na parte de cima da tela e uma janela de texto na parte inferior.
Na história do jogo, uma jovem chamada Odile Conchoux é encontrada morta dentro de um carrinho de compras no supermercado em que trabalhava, sendo missão do jogador descobrir quem é o responsável pelo crime. Um dos suspeitos é Paco, um homem homoafetivo que trabalha como estilista e, secretamente, trafica drogas.
1985- Le mur de Berlin va Sauter
Mais um jogo francês para a lista, e novamente da Froggy Software para Apple II, Le mur de Berlin va sauter, ou “O muro de Berlin cairá”, segue o mesmo estilo de Le crime du parking: imagem na parte superior da tela com uma janela de texto na parte inferior.
O jogo tem como antagonista o personagem Carlos, um terrorista que planeja explodir o muro de Berlim. Ele é homoafetivo e passa boa parte do tempo em boates gays e banheiros públicos.
1988 – Super Mario Bros. 2
Não podemos deixar de falar de Super Mario Bros. 2, lançado pela Nintendo em 1988, nem da icônica personagem Birdo, considerada uma das primeiras personagens transgênero nos videogames e até hoje sua identidade de gênero é tópico de especulações.
Nos primeiros manuais do Super Mario Bros 2, lia-se que Birdo era um macho que preferia ser tratado como fêmea, mas nas edições seguintes do manual, esse trecho foi omitido. Atualmente, o gênero de Birdo varia de acordo com o jogo, podendo ser neutro, masculino ou feminino.
1988 – Moonmist
Moonmist foi lançado em 1988 pela Infocom para diversos computadores da época. Ele é basicamente um jogo de texto, não tem ilustração nenhuma, super simples: tela preta, texto, opções.
Na história, o jogador é um jovem detetive que é convidado por uma amiga, Tamara Lynd, que teme pela sua vida por conta de aparições de uma mulher de branco na mansão para a qual acabou de se mudar com seu marido Lord Jack. O jogo tem várias histórias com desfechos diferentes; em uma delas, é revelado que Vivien Penthreat, uma amiga de Lord Jack, mantém um caso com a ex-noiva dele, Deidre Hallam.
1989 – Caper in the Castro
Caper in the Castro foi lançado em 1989 para MAC OS e se destaca dos demais por dois motivos: é o primeiro a ter uma protagonista homoafetiva e foi distribuído gratuitamente como Charityware. O desenvolvedor do jogo, C.M. Ralph, preferiu que as pessoas doassem seu dinheiro para organizações de combate ao HIV ao invés de pagarem pelo jogo.
A protagonista do jogo é a detetive Tracker McDyke (sim, mais um jogo de mistério), que deve investigar o sequestro de sua amiga, a drag queen Tessy Lafemme. O jogo se passa em The Castro, um conhecido bairro gay de São Francisco.
1989 - Leisure Suit Larry III: Passionate Patti in Pursuit of the Pulsating Pectorals
O terceiro jogo da série Leisure Suit Larry foi lançado pela AI Lowe e pela Sierra online para DOS, Atari ST e AMIGA. Nele, você controla Larry e deve ajudá-lo a encontrar uma namorada em meio a todas as mulheres do resort onde ele está.
No começo do jogo, a esposa de Larry, chamada Kalalau, o troca por uma mulher chamada Bobbi. Além disso, em dado momento do jogo, Larry é sequestrado por uma tribo de lésbicas canibais.
1989 – Circuit’s Edge
Lançado em 1989 para MS-DOS, Circuit’s Edge tem como protagonista o detetive particular Marîd Audran, que é falsamente acusado pelo assassinato de um homem chamado Kenji Carter. Apesar de ser libertado por conta da influência de um de seus patrões, Marîd precisa investigar a morte de Kenji.
O jogo tem entre seus personagens Yasmin, mulher trans que já namorou o protagonista, e Saied, um homem homoafetivo.
1989 – Phantasy Star II
Phantasy Star II, lançado para Mega Drive também possui um personagem LGBTQIA+ chamado Ustvestia. Ele é um NPC que pode ensinar a habilidade MUSIK para os personagens, porém ele cobra mais barato para homens porque os acha mais bonitos. Na localização para o inglês, como forma de censura na época, o diálogo foi alterado para dizer que ele os acha mais inteligentes.
1989 – Final Fight
Lançado pela Capcom em 1989 para Arcade e depois portado para inúmeras plataformas, Final Fight apresentou Poison, que hoje é personagem recorrente na série Street Fighter. Inicialmente, ela foi criada como uma capanga da gangue Mad Gear que retrataria uma mulher forte e rebelde.
Porém, preocupada com a repercussão negativa que o jogo teria por apresentar personagens homens batendo em mulheres, a Capcom decidiu que Poison seria transexual, pois isso minimizaria tais comentários, algo que não faz o menor sentido hoje em dia. As polêmicas sobre a personagem, contudo, não acabaram por aí.
Nos anos seguintes, houve muitas especulações sobre ela ser de fato transexual ou não. Em 2011, Yosinori Ono, produtor de Street Fighter IV, declarou que Poison é sim uma mulher trans e, nos Estados Unidos, ela é operada, enquanto no Japão, não.
Foi um começo conturbado
Como mencionei no começo da matéria, as primeiras representações LGBTQIA+ estão muito longe de serem adequadas para os padrões atuais, especialmente quando temos representações tão bonitas nos jogos atuais. Mas acredito que para andar pra frente temos que olhar para trás, precisamos ver o caminho percorrido para percebermos o quanto mudamos e melhoramos e, principalmente, para não deixarmos os erros do passado se repetirem.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli