Em um momento de inspiração para os jogos de terror, surge um novo concorrente no espaço independente chamado Hollowbody, que promete colocar o jogador contra todos os tropes que o gênero permite. Ambientado em um mundo sci-fi completamente despedaçado, o jogo reúne escolhas de designs dos clássicos survival horror dos anos 1990 e 2000 intencionalmente feitas para atiçar a nostalgia e provocar novos velhos medos.
(Não) Seja bem-vindo à Exclusion Zone
Hollowbody conta a história de Mica, uma comerciante do mercado negro que vai a procura de sua companheira Sasha, que está desaparecida há 12 dias. Atravessando as fronteiras da megalópole na qual a protagonista vive existe uma área chamada Exclusion Zone, e pisar nesse local é praticamente uma sentença de morte.Juntando esforços mesmo depois de muito hesitar, Mica parte em busca de Sasha, mas após uma pane no sistema do seu carro voador ela perde altitude e faz um pouso fora de seu planejamento. Ao acordar, a protagonista se vê perdida no meio de um bloco residencial no meio da Exclusion zone, com poucos recursos e sem orientação sobre onde ir em seguida. Agora a preocupação é apenas sobreviver.
Com esse pontapé inicial, Hollowbody inicia sua demonstração — disponível na Steam — e define muito bem a sua proposta inicial: gerenciar recursos, explorar cada canto do cenário e se manter em estado de alerta para cada perigo que possa estar à espreita. Isso garantirá o objetivo da missão a qual Sasha se propôs no início, mesmo sabendo que sua jornada agora será, no mínimo, dobrada.
Clássica sobrevivência em meio ao horror
A demo começa de maneira familiar, já fazendo sentir em casa quem curte o estilo de gameplay: logo no início a protagonista deve usar um spray para curar sua vitalidade, achado em um caminhão abandonado. Isso encoraja o jogador a explorar o cenário que pode conter itens e recursos preciosos pelo caminho.Além disso, chama a atenção a apresentação gráfica do jogo: muitos jogos de horror, sobretudo com perspectiva em terceira pessoa, tem pendido para o uso de um estilo artístico retrô. E nesse caso específico de Hollowbody a escolha de design visual lembra muito Silent Hill 3 e 4, talvez uma das suas mais claras inspirações até aqui.
Mas não é só do clássico da Konami que vem a fonte inspiradora do game, na verdade o jogo se alicerça com muita firmeza em várias outras propriedades para modelar o seu mundo particular e a sua estética. Os menus do game, assim como sua jogabilidade, trazem à memória Resident Evil, especialmente os clássicos do primeiro PlayStation e também os remakes recentes. Desde a seleção de itens, passando pela possibilidade de combinação desses e até o display de vida do personagem, tudo remete à franquia da Capcom.
Ficção científica na construção de um mundo interessante e solitário
É curioso o fato de que o jogo se passa num mundo futurista, tendo carros voadores entre os prédios gigantes e luminosos, mas conta com aspecto noir, visualmente monocromático, cheio de muitas sombras e lugares escuros. Para acompanhar esse clima dark temos uma trilha mínima, que mais parece o som de um drone, com um barulho cinza ao fundo. Isso faz o serviço o de ir criando uma tensão cada vez maior corretamente.Durante a jornada em busca de um ponto de vantagem que Sasha precisa para tentar conseguir um sinal de rádio, o jogo apresenta uma área aberta, mas sem puzzles, a fim de apresentar alguns comandos básicos ao jogador. Isso muda logo após ela encontrar uma conveniente lixeira que a permite entrar na janela mais alta e destrancada de um prédio próximo e explorar o gameplay que o jogo oferece de forma mais profunda.
Apesar de curta — finalizei a primeira jogatina em aproximadamente meia hora — a demo oferece uma boa dose do que se propõe em questão de gameplay loop. Ao entrar no prédio, já somos apresentados a suspeitas portas trancadas que ativam uma pulga atrás da orelha, diversos itens com histórias dos moradores e sobre o que aconteceu naquele local dão pistas e vai se criando o worldbuilding necessário para qualquer jogo do estilo.
Bater ou correr no meio dos destroços não é fácil
O game também começa a mostrar a sua faceta de body horror, como algumas das suas key arts já indicam, incluindo sua capa na Steam, e que lembra vagamente o gore e violência de outro recente exemplo do estilo: Signalis. Entre corpos em estado de decomposição, móveis fora do lugar e rupturas em paredes e assoalhos, se monta o primeiro quebra cabeça do game, no qual é preciso abrir um cofre contendo a chave necessária para a porta que nos leva até os andares mais acima.Os puzzles do game certamente não revolucionam nada dentro do gênero, mas cumprem bem o seu papel e se forem aumentando de complexidade durante o jogo final talvez criem bons momentos para se ficar coçando a cabeça. Durante a busca das peças do quebra-cabeça, há momentos de um leve jump scare, mas o jogo definitivamente parece não querer usar desse artifício de maneira exaustiva, preferindo muito mais gerar o clima de tensão constante, que “cansa” o jogador.
Seguindo à risca essa mesma lógica, seu combate é implantado: aqui fica explícito que os inimigos do jogo só vão servir para o estresse subir a níveis alarmantes quando o jogador mais precisar de calma. Desde a similaridade dos zumbis de Resident Evil, até a dificuldade de matá-los, necessitando de mais balas do que o jogo te oferece para acabar com todos, é louvável que a desenvolvedora Headware Games tenha implementado um modo fácil, permitindo que aqueles que desejam apenas acompanhar sem muitas preocupações a história de Hollowbody o consigam. Esse parece ser o principal foco, já que possui até dublagem (em inglês).
Depois de resolver um puzzle simples e enfrentar inimigos — ou correr, como foi meu caso, jogando no normal —, a demo termina de maneira até meio abrupta, mas deixando um desejo de querer saber mais sobre seu mundo, seus personagens, sobre a história de Mica e Sasha. E isso só vamos descobrir quando o game for lançado, em algum momento ainda a ser definido. Por enquanto, se você for fã de survival horror e se interessar em um mundo com toques de sci-fi, vale a pena conferir o que Hollowbody promete.
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Texto de impressões feita com demonstração disponibilizada via Steam