Ainda em acesso antecipado no Steam, Witch and Lilies é um RPG dungeon crawler que traz uma inusitada proposta: forjar relacionamentos entre as integrantes do nosso grupo para facilitar na superação dos obstáculos da Witch’s Tower, o labirinto no qual toda a aventura se desenrola. Enquanto as mecânicas principais de dungeon crawler lembram muito outros títulos do gênero, Witch and Lilies ainda precisa de polimentos para que sua proposta fique pronta para um lançamento definitivo.
Boas-vindas à Cidade do Labirinto
Há muito tempo, uma estranha torre conhecida como Witch's Tower surgiu, atraindo várias pessoas de todo o mundo ao longo dos anos. Devido a isso, logo foi fundada a Coffin Rock (também chamada de Labyrinth's Town) ao redor dessa torre, uma cidade que serve como hub principal da aventura.
Na trama, assumimos o papel de líder (inexperiente) das Witch Hunters, um grupo de aventureiras cuja principal missão é desbravar as camadas mais profundas da Witch's Tower e colocar um fim nas ameaças que perambulam por lá. Essas criaturas sobrenaturais são chamadas de Bruxas, responsáveis pelo desaparecimento de vários aventureiros corajosos que nunca retornaram do labirinto.
No entanto, só somos capazes de assumir o cargo graças à amizade que fazemos com a fadinha Trim, já que, sem uma Fairy Stone, não temos autorização da Guilda para desbravar a perigosa torre. Logo de cara, conhecemos duas de nossas veteranas na organização, a enérgica Nike e a obstinada Grace, que estão dispostas a ajudar (ou atrapalhar?) na nossa empreitada.
Infelizmente, até o fechamento deste texto, não fui capaz de avançar muito na trama devido a questões de jogabilidade que me forçaram ao famigerado grinding (explicarei mais à frente). Porém, com um roteiro assinado por Makoto Kedouin, que também trabalhou em jogos das séries Corpse Party e Death end re;Quest, coloco minha mão no fogo para dizer que Witch and Lilies traz uma ótima história — e que eu faço questão de explorar mais a fundo assim que o jogo estiver mais polido.
Um dungeon crawler e simulador de girls love
Como mencionado, toda a aventura se passa na Witch's Tower, um enorme labirinto que guarda tesouros e perigos. Para tanto, precisamos primeiro compor nosso time (de até cinco garotas), definir suas classes, aparências, personalidades e nomes; no total, podemos registrar 100 aventureiras distintas.
Para experimentar a jogabilidade, tentei montar uma equipe tradicional de RPGs: guerreira (Warrior), curandeira (Healer), elfa (Sylvan), maga (Wizard) e cavaleira (Knight), mas existem ao todo dez classes distintas para serem exploradas. Porém, o que mais me chamou a atenção mesmo foi a vasta árvore de habilidades de cada profissão, que garante que nenhuma bonequinha exerça o mesmo papel no time; ou seja, posso criar uma Warrior focada em espadas, como é o caso da minha principal, e também uma especializada no uso de machados.
Temos total liberdade de alocar os pontos de habilidades (skill points, abreviados por SP) conforme as menininhas sobem de nível, sendo que, no nível 1, elas já têm à disposição 3 SP. Além disso, na Guilda, podemos mudar a profissão das nossas Witch Hunters ou reaver os pontos de habilidade caso não gostemos da skill tree das personagens — contudo, a aventureira escolhida sofre redução de cinco níveis, então essas não são opções viáveis logo no começo da aventura.
A exploração do labirinto é bastante tradicional: temos uma câmera em primeira pessoa e o caminho é mostrado conforme andamos. Como de praxe no gênero, encontros aleatórios nos aguardam durante a exploração e os combates se dão em turnos; aqui, podemos escolher opções como atacar, defender, usar itens, ativar habilidades ou até mesmo fugir, e, ao que tudo indica, a ordem de ação é determinada pela agilidade (AGI) de cada combatente.
No entanto, logo de cara já pude perceber dois aspectos que me dificultaram o progresso em Witch and Lilies: a falta de um medidor de perigo para indicar quando entraremos em combate e também um compêndio que mostre fraquezas e resistências dos monstros que enfrentamos, até porque é bem chato tentar deduzir, a todo instante, que tipos de ataques causam mais danos neles. A ausência deste segundo foi perceptível quando cheguei ao segundo andar da Torre, que abriga inimigos de nível bem mais elevado — estes, sim, sinalizados no mapa.
Infelizmente, foi graças à presença desses oponentes mais fortes que precisei recorrer ao grinding, e, mesmo assim, telas de game over foram constantes, fazendo com que eu perdesse toda a exploração e evolução das personagens posteriores ao meu último salvamento. Ou seja, todo o meu “progresso” neste RPG foi o mapeamento dos dois primeiros andares da Witch's Tower, fugindo dos monstros mais poderosos e enfrentando aqueles que eu sabia que não me obrigariam a voltar à cidade tão cedo.
Também não ajuda muito termos que passar os diálogos de combate manualmente, sem uma opção de batalha automática após selecionarmos as ações de cada aventureira do time. Em certos momentos durante minhas sessões de grinding, senti que as batalhas mais se resumiam a apertar A no controle do que, de fato, pensar em estratégias para derrotar os monstros mais rapidamente.
Por mais que o cerne de Witch and Lilies seja a exploração da Witch's Tower, o jogo nos introduz a um inusitado sistema de relacionamento entre as nossas aventureiras, característica esta que fez com que o título da Stromatosoft caísse no meu radar. De acordo com o trailer e a descrição do jogo, há benefícios ao aumentar a afinidade das integrantes do time, porém não cheguei a ver os golpes em conjunto e outras ações exclusivas desse sistema devido ao grinding supracitado.
No entanto, é interessante ver as meninas compartilhando de atividades após a exploração do labirinto, às vezes até resultando em encontros. Esta espécie de simulador, aliada às missões que podemos aceitar na Taverna, faz com que explorar o labirinto se torne uma tarefa inusitada, pois nunca sabemos o que acontecerá ao voltar para a cidade.
Realmente é uma pena que eu não tenha podido experimentar a faceta girls love com tanto afinco, mas, como mencionei, revisitarei o jogo assim que ele estiver mais perto de um lançamento definitivo.
Um time invejável na produção
Deixando a jogabilidade de Witch and Lilies de lado, quero elogiar o contraste entre a arte estilo moe (isto é, fofinha e colorida) dos personagens principais, assinada por magodesu, que trabalhou em animações do estúdio Trigger (Space Patrol Luluco, Kill La Kill, Little Witch Academia e outras), e o visual grotesco (alguns até beirando o body horror) dos monstros da Witch’s Tower. Ainda, Yoshinori Yamagishi (das séries Star Ocean e Valkyrie Profile) se juntou à Stromatosoft para ajudar no planejamento de Witch and Lilies, enquanto a música ficou a cargo de AstroNotes (Wandering Witch: The Journey of Elaina).
Ou seja, com tantos nomes de peso por trás da produção deste dungeon crawler, não duvido de que o produto final seja excelente. No entanto, ainda faltam algumas ferramentas de qualidade de vida, como uma melhor localização de textos para o inglês (e, quem sabe futuramente, para o português) e a opção de aumentar a velocidade do texto.
Ao menos, um pequeno patch disponibilizado ontem (7) adicionou a funcionalidade de pular diálogos, explicação de cada estabelecimento na cidade e também um histórico de conversas dentro da torre. Outro aspecto digno de nota é a possibilidade de jogar tanto com um controle quanto com teclado e mouse, com atalhos que podemos configurar da maneira que preferirmos.
Ao menos a desenvolvedora parece estar atenta às críticas da comunidade, adicionando e corrigindo aos poucos as funcionalidades que mais têm causado dor de cabeça. Resta esperar para ver se outras qualidades de vida, como as que mencionei nos tópicos anteriores, também serão adicionadas.
No aguardo do lançamento definitivo
Infelizmente, no estado em que está, não dá para recomendar Witch and Lilies, ainda mais com opções mais sólidas disponíveis no mercado. No entanto, é inegável a qualidade que o jogo traz, em especial o sistema de personagens e formação de grupos, com várias opções de classes, builds e, acima de tudo, jogabilidade, mas sem abrir mão de uma fórmula já consolidada por outros dungeon crawlers, especialmente a franquia Etrian Odyssey.
Revisão: Alessandra Ribeiro
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida por Stromatosoft Inc.