Em agosto de 2017, a desenvolvedora britânica Ninja Theory nos presenteou com uma das experiências mais emocionantes dos videogames, nos colocando na pele da guerreira celta Senua, que embarca em uma viagem até o inferno para tentar resgatar a alma do seu falecido marido. Sete anos depois, agora em terras desconhecidas, sua saga continua e ela precisa livrar o seu povo das mãos dos tiranos escravagistas em Senua’s Saga: Hellblade II.
Durante sua missão, Senua embarca em uma jornada de autodescobrimento e aceitação, enfrentando diversos inimigos enquanto passa por todas as fases do luto. À medida que avança, Senua se torna cada vez mais forte, saindo de alguém indefesa que mal conseguia manejar uma espada a uma implacável guerreira.
Agora, Senua precisa embarcar em uma nova missão para livrar seu povo das mãos dos nórdicos escravagistas, os mesmos que invadiram suas terras tempos atrás e mataram seu marido.
Em terras desconhecidas
No início dessa nova aventura, Senua é capturada e levada de barco para as terras de Midgard por um grupo de vikings liderado por um homem chamado Thorsgestr (personagem de grande importância na trama), porém o mar agitado danifica gravemente o barco que naufraga. As ondas levam Senua até a praia, e ela, desesperada, tenta salvar o máximo de pessoas que pode.
As vozes em sua cabeça continuam, mas dessa vez mais calmas. Agora não são as vozes que a controlam, mas sim o contrário. Senua logo percebe que aquela terra não é o que parece. A fome, as pragas e os monstros amaldiçoam aquele lugar. Gigantes que vivem nos mares não permitem que os barcos saiam, e os que vivem na terra não poupam os que permanecem.
Os vikings, em um ato de desespero para proteger o seu povo, capturam escravos para oferenda em uma vã tentativa de acalmar feras imortais e manter a paz. Senua logo percebe que tirar seu povo daquelas terras não será o suficiente. Para trazer a paz ela terá que enfrentar os gigantes e descobrir uma forma de destruir o que antes pensava-se ser imortal.
Uma simples, porém densa história
Em progressão, Senua’s Saga se assemelha bastante ao primeiro jogo, o que pode agradar a alguns e afastar outros. Por ter um grande foco no enredo, a maior parte do tempo o jogador irá apenas andar enquanto ouve os incríveis diálogos entre os personagens, diálogos esses que são a melhor parte do jogo.
Toda a interação entre Senua e os outros personagens é regada de mitologias e discursos de tirar o fôlego, todas as frases têm um tom épico que vão te deixar na ponta da cadeira. As vozes que nunca param de falar na cabeça da protagonista deixam tudo ainda mais intenso e mantêm o jogador desconfortável com os constantes sussurros que dão arrepio na espinha.
Por outro lado, isso torna a história complexa, cheia de pequenos detalhes e em muitas partes interpretativa que exige que o jogador preste muita atenção para não se perder em meio aos monólogos filosóficos de minutos. Basta uma frase mal compreendida para não entender o que está acontecendo na cena.
É normal que o jogador chegue aos créditos com muitas dúvidas na cabeça mesmo prestando muita atenção na história, porém, isso parece ser proposital, já que ao terminar a aventura são desbloqueadas novas vozes que irão narrar toda a aventura por um ponto de vista diferente, dando outros significados aos feitos de Senua. Para ter um entendimento integral da história, é recomendado terminá-la pelo menos duas vezes.
Mas o jogo não se resume apenas a diálogos; para quebrar um pouco esse ritmo haverá alguns pequenos momentos de resolução de enigmas, alguns totalmente novos e outros semelhantes aos vistos no primeiro jogo, como os já conhecidos quebra-cabeças de perspectiva, que coloca o jogador para procurar padrões específicos no cenário para revelar alguma passagem oculta ou destrancar alguma porta. Também haverá os enigmas das esferas, nos quais Senua é transportada para uma dimensão paralela e precisa colocar um determinado número de esferas que estão espalhadas pelo cenário em um altar para poder voltar ao mundo real.
Um combate simples, mas divertido
Junto dos diálogos e enigmas, o combate também é uma parte muito importante da experiência, permanecendo simples, mas ainda muito divertido. Aqui, além dos nórdicos, Senua lutará contra os Draugr, homens que enlouqueceram por conta da fome e se transformaram em monstros após comer carne humana.
Todo o combate se baseia em defender no momento certo para desestabilizar a postura do inimigo e conseguir dar um golpe fatal, porém, o combate foi ligeiramente simplificado, sendo ainda mais fácil que do primeiro jogo, com Senua nunca enfrentando mais de um inimigo por vez.
Ao mesmo tempo, essa simplificação se torna um problema uma vez que o jogo carece de chefes memoráveis como os do primeiro jogo, com os grandes inimigos sendo derrotados em cutscenes ao invés de no gameplay.
A parte que mais chama a atenção em Senua’s Saga sem dúvidas é o seu visual estonteante, que foi desenvolvido na Unreal Engine 5, com incríveis expressões faciais extremamente realistas e cenários que às vezes podem ser quase indistinguíveis da vida real. Porém toda essa beleza teve seu preço, com o jogo sendo bem pesado nos computadores e rodando travado em 30 fps no Xbox Series X.
Por conta do combate simples e do foco na cinematografia, a quantidade de quadros por segundo não é um incômodo, mesmo que você já esteja acostumado aos 60 fps. Bastam alguns minutos controlando a personagem para o olho se acostumar e o jogador nem notar mais esse detalhe.
Se o aspecto que você mais gosta em um videogame é sua história, Senua’s Saga: Hellblade II é um prato cheio e te renderá boas horas de diversão — podendo ser finalizado em até sete horas —, porém, pode te frustrar caso você esteja buscando apenas ação desenfreada ou não se identifique com a história. O jogo também está disponível no Game Pass e pode ser jogado pelos assinantes desde o primeiro dia.
Prós
- História envolvente e cheia de interpretações;
- Bons quebra-cabeças;
- Gráficos fantásticos.
Contras
- Ausência de boas lutas contra chefes.
Senua’s Saga: Hellblade II — XSX/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para a análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator