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Análise: Nightmare Kart é o que nem todo fã de Bloodborne pediu, mas o que quem quer qualidade recebeu

Projeto que teve início como uma irreverente homenagem ao título da From Software, saiu do papel como um dos jogos mais divertidos dos últimos tempos.

em 13/06/2024

Em uma temporada de infinitos anúncios de novos jogos dos mais diversos escopos  ninguém esperava que um dos games mais irreverentes do ano surgisse: Nightmare Kart, o jogo de corrida anteriormente conhecido como Bloodborne Kart. O que começou como uma brincadeira de primeiro de abril por parte de fãs, agora é uma verdadeira carta de amor para quem curte o título exclusivo da Sony que vive preso no mundo dos sonhos.

Prazer, Bloodbo… Digo, Nightmare Kart

Para quem não sabe, Nightmare Kart surgiu como uma brincadeira de primeiro de abril da desenvolvedora Lilith Walter com Bloodborne, cujo legado permanece “preso” ao PlayStation 4, enquanto uma legião de fãs ainda aguarda um port do game para PC. Juntando de maneira inusitada os personagens do game ao subgênero dos jogos de corrida em kart, Lilith — ou Bunlith, como é conhecida no X —, que já tinha dado um gostinho do que era capaz de fazer com o demake Bloodborne PSX, trouxe agora Bloodborne Kart ao mundo.


Infelizmente, pouco antes do lançamento, Bloodborne Kart teve que ser rebatizado e todas as nomenclaturas de personagens e itens tiveram que ser mudadas por conta de uma medida protetiva da Sony. Mas já com uma atração imensa nas redes e tendo muita criatividade por parte da equipe LWMedia, o game foi rebatizado de Nightmare Kart e viu a luz do dia com lançamento via Steam e o melhor: sendo totalmente grátis.

Homenagem descontraída, mas sem deixar o gameplay de lado

Nightmare Kart é, em primeiro lugar, um jogo feito para descontração: A começar pelo gênero, que coloca o jogador para pilotar os pequenos carrinhos em pistas com curvas fechadas e em desafios descontraídos. Além disso, ele é uma experiência feita sob medida para quem já jogou Bloodborne pelo menos algumas vezes, visto o nível dos detalhes aplicados em elementos narrativos e de gameplay.


É interessante apostar uma corrida e ver as inúmeras referências ao game, e mesmo que estas estejam descaracterizadas de seus nomes e designs, são criativas o bastante para serem reconhecidas de primeira. Logo no início do jogo, somos apresentados ao mundo Miralodia, um knock-off da cidade de Yharnam, na qual se passa o clássico game da From Software. Nele assumimos o papel do Caçador — que é chamado assim graças à escolha de design do game original em não dar um nome próprio ao protagonista — e sem mais delongas, colocamos o pé no acelerador.

Uma aventura tão robusta que parece um sonho

Um dos aspectos mais positivos de Nightmare Kart é a quantidade de conteúdo que ele traz, sendo um jogo totalmente gratuito capaz de rivalizar até com concorrentes do gênero que por muitas vezes se classificam como “cash grabs”. O game conta com uma campanha completa estruturada em 15 diferentes circuitos e uma história que reconta alguns momentos marcantes de Bloodborne.


E aí mora o brilho de Nightmare Kart: durante a campanha, corremos em pistas como Miralodia Expressway, Angel Graveyard e Pocket Dream Course, referências às primeiras áreas que conhecemos em Bloodborne, como a Hunter’s Dream e Central Yharnam. Essas corridas são detalhadas a partir de  momentos da história que são contados por textos, cutscenes animadas e até dublagem em inglês.

Claro que como bom jogo de kart, não é só de corrida que o game vive e outros modos também fazem parte da experiência, como batalhas free-for-all na qual devemos sobreviver até o final, quase como um battle royale; disputas para ver quem coleta mais insights em menos tempo e até boss fights contra icônicos antagonistas. Essas lutas contra chefe inclusive fazem qualquer fã do game original abrir um sorriso com a recriação de cutscenes clássicas que hoje fazem parte da mitologia dos Soulsborne.

Qualidade x quantidade, um problema que o Caçador supera aqui


Como jogo de corrida, Nightmare Kart mais do que dá para o gasto, cumprindo todos os requisitos básicos para ser um game divertido com pequenas sessões, e consegue ir além do que apenas um “fan game”. O jogo traz uma jogabilidade que não é perfeita de maneira alguma, até meio dura se comparada com os bastões do estilo, como Mario Kart 8, e a inteligência artificial peca tanto em balanceamento quanto na própria inteligência, visto que não é incomum ver algum dos últimos colocados nas disputas ficarem travados em algum canto, incapazes de dar ré e manobrar para voltar ao páreo.

O game conta com 21 personagens diferentes, alguns deles secretos, 13 karts que possuem diferentes propriedades de balanceamento e também várias armas corpo-a-corpo, que podem não influenciar tanto na hora da jogatina, mas que são adições legais de qualquer forma. Durante a campanha, o jogador pode fazer o mix que quiser para se digladiar contra seus oponentes nas 15 diferentes pistas do game e dão uma interessante aprofundada no gameplay que a princípio parece raso.

Direção artística no ponto certo acompanhada de muitos bangers

A escolha de direção artística do game também é outro ponto positivo que dá charme ao game, misturando de maneira inteligente nostalgia e o forte apelo que gráficos remanescentes do primeiro PlayStation ou Nintendo 64 estão tendo atualmente. O menu de opções do game possui tantas configurações para customizar seus gráficos retrô que o jogador pode passar um tempo considerável ajustando tudo o que for possível.


Para acompanhar a intensidade das pistas, vale destacar um dos aspectos mais únicos do game e que honra todas as influências dos os desenvolvedores enquanto fãs de video-games: a sua trilha sonora. Contando com faixas que beiram o synthwave, o jungle e outros subgêneros da músicas eletrônica, é muito fácil assimilar as músicas que acompanham as acirradas disputas à sons vindo diretamente do já citado Mario Kart e também de clássicos como Castlevania e Metal Slug. A compositora Evelyn Lark não poupou esforços de maneira nenhuma na hora de fazer algo para um jogo que, apesar de todas as qualidades, se propõe a ser uma paródia e, sobretudo, grátis.

Muita qualidade embalada como irreverência

Nightmare Kart consegue aliar duas pontas extremamente distantes e difíceis de serem unidas quando se fala de “tributos”: a homenagem e a qualidade. Muitas das vezes games (autorais ou fan works) que querem muito fazer parte do universo de sua influência escorregam em alguma coisa, seja com um gameplay genérico ou com uma narrativa rasa. Aqui, o game de corrida que surgiu como uma piada foi levado à sério pelos seus desenvolvedores e poderia ser um produto vendido nas principais storefronts sem problemas.


Claro, a curta duração do game em questão de conteúdo pode chamar um pouco a atenção à primeira vista, com suas duas horas de playthrough, mas isso não é importante em um game feito para ser jogado várias vezes. Ainda mais contando com um modo multiplayer em tela dividida, o que faz tudo ficar mais divertido, e audaciosos segredos que podem causar um fator surpresa maior se o jogador procurá-los às cegas, sem ajuda de dicas pela internet.

Se você for fã de jogos de kart e curtir uma boa trilha sonora apenas, esse jogo já é uma recomendação e tanto. Se além disso você for fã de Bloodborne e quiser revisitar sua história da maneira mais irreverente e perspicaz o possível, ele se torna uma obrigação. Então pegue sua tricky weapon, entre no seu carrinho de escolha e corra para ser o primeiro em todos os circuitos, pois um caçador é um caçador até em corridas de kart.

Prós:

  • Homenagem com qualidade sem parecer rasa ou vazia.
  • Direção artística que prende a atenção numa mistura de nostalgia com tendências.
  • Trilha sonora absurda.
  • Uma campanha completa, incluindo batalhas contra chefes.

Contras:

  • Jogabilidade um pouco travada.
  • Alguns glitches gráficos durante a navegação em menus.
  • Inteligência artificial fraca e desbalanceada.
Nightmare Kart - PC - Nota: 8,5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital distribuída gratuitamente pela LWMedia

 


Falo de tudo quanto é coisa, de Castlevania a Anatomy of a Fall, de Carolina Maria de Jesus a Hidetaka Miyazaki, de trilhas sonoras de Super Sentai a Mano Brown. Só não gosto de Deckbuilder Roguelike. Meu sonho é visitar o Japão. Se curtiu, continuo falando sobre meus textos em twitter.com/WesternYokai666
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