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Análise: Monster Hunter Stories traz um mundo vasto para explorarmos com nossos parceiros monstros

RPG da franquia MonHun continua uma experiência sólida do gênero.

A franquia Monster Hunter é bastante conhecida por seus jogos de ação, mas a Capcom também investiu em transportá-la para uma outra perspectiva: a de RPG de coleta de monstrinhos. Com uma pegada mais infantil, assim nasceu Monster Hunter Stories no 3DS em 2016. Agora, a empresa revive o jogo para o PC, PS4 e Switch, mostrando que o seu encanto permanece vivo.

Caçador não, montador!

Monster Hunter Stories conta a história de um jovem montador (ou montadora) advindo da pequena vila Hakum. Junto com um rapaz chamado Cheval e uma garota chamada Lilia, nosso personagem era o tipo de criança que saía escondido da vila em busca de aventuras. Um dia, os três encontram um ovo de Rathalos, criando assim um novo amigo.

Infelizmente, eventos sinistros acabam acometendo a vila pouco depois, trazendo à tona os perigos de uma névoa sombria que parece corromper os monstros. Anos depois, já velhos o suficiente para realizar o Rito de Afinidade, cada personagem do trio acaba seguindo seu próprio caminho.

É aqui que começamos de fato o jogo, com o nosso protagonista tendo acabado de se tornar um montador. Ao contrário dos caçadores, que tiram seu sustento da caçada de monstros e da retirada de materiais úteis de seus corpos, os montadores criam vínculos duradouros com as criaturas.

Ou seja, na prática, as disputas agora envolvem lutar lado a lado com monstros parceiros, que o jogo chama de “Monsties”. Como se trata de um mundo bem focado em combate, nosso personagem também usa armadura e uma arma poderosa para se defender.

Chama atenção no jogo a forma como ele representa vários aspectos tradicionais da franquia. Por exemplo, em um certo ponto, chegamos a uma cidade de caçadores que se organizam em guilda e usam as partes dos monstros que caçam para construir armas e armaduras. Além disso, a coleta de ingredientes e toda a exploração são características tradicionais de Monster Hunter, aqui transformado em RPG de coleta e criação de monstrinhos.

Para quem é fã da série, é notável o respeito que o jogo tem pelo universo de Monster Hunter. Ao mesmo tempo, temos uma abordagem pensada para um público mais infantil, o conceito de amizade com os monstros, os redesigns pensados em fazer com que monstros e contextos sejam mais cartunescos e coloridos. O resultado é uma obra que também vale a pena para quem é fã de jogos de coleta de monstrinhos e que não tenham esse apego à série, o que inclusive é o meu caso em particular.

Combate em turnos e parceria

Monster Hunter Stories é um RPG cujo combate é baseado em turnos e nossa equipe é composta pelo nosso protagonista e aliados monstros, com apenas um deles disponível por vez em combate. Podemos alternar entre várias criaturas ao longo do jogo e trocá-las durante o combate sem penalidades de turno, tendo em mente mudanças de estratégia.

As batalhas seguem um esquema de triângulo de forças, com ataques do tipo “Potente”, “Técnico” e “Veloz”. Cada criatura possui uma tendência a usar golpes específicos e padrões que podemos dominar ao enfrentá-las repetidas vezes. Além dos ataques básicos, poderes especiais que não estão atrelados aos três estilos de combate estão disponíveis, podendo não apenas causar dano, mas também servir como buff, debuff ou causar efeitos (ex: envenenamento).

Durante o combate, podemos enfrentar vários monstros de forma simultânea, mas controlamos diretamente apenas o nosso montador. O monstro age espontaneamente com base em seus parâmetros de inteligência artificial, porém podemos pedir a alteração do golpe para uma habilidade especial, o que é especialmente bem-vindo caso o ataque não seja uma boa pedida contra o inimigo selecionado.

Uma vez com os ataques definidos, os personagens partem então para o embate. Se um aliado e um inimigo têm um ao outro como alvos, teremos um Confronto Direto, o que amplia o dano do golpe que for superior de acordo com o triângulo de forças e reduz o mais fraco. Se um “Confronto Direto” pode ser ativado, vemos linhas vermelhas com faíscas entre os personagens, permitindo um controle estratégico das nossas ações.

Se tanto o nosso Monstie quanto o nosso protagonista atacarem o mesmo inimigo usando um ataque básico de mesmo tipo e ele for vitorioso no Confronto Direto, utilizaremos um Ataque Duplo. Nesse caso, o ataque do oponente é totalmente anulado e causamos um dano massivo à criatura. Porém, não é possível mandar o Monstie executar o ataque básico desejado, adicionando um elemento de sorte ao bom planejamento de ações.

A vitória nesses confrontos, assim como em alguns minigames de quick-time event que podem aparecer durante o combate, leva ao ganho de pontos de afinidade. São eles que nos permitem usar habilidades especiais e uma técnica de montaria, unindo os nossos HPs e liberando ataques muito poderosos (e que podemos melhorar vencendo confrontos diretos nesse estágio combinado).

Caso o HP do nosso protagonista ou do Monstie chegue a 0, não perdemos o jogo automaticamente, mas sim um dos nossos corações, sendo três o máximo. O personagem é então revivido com vida cheia, mas se todos os corações foram destruídos, a luta será perdida, seremos expulsos da toca de um monstro se estivermos lá e será necessário voltar para alguma cidade ou usar itens para restaurar nossos corações ao máximo.

A vastidão ao nosso redor

Fora do combate, Monster Hunter Stories também chama a atenção, com várias coisas para fazer. Muito além da história principal, podemos explorar livremente vastas áreas, realizar missões para os moradores de cada cidade do jogo e nos infiltrar nas tocas dos monstros para conseguir mais aliados na forma de ovos.

A quantidade de tarefas é alta e há muitas coisas que podemos fazer por conta própria, como vasculhar os mapas em busca de tocas douradas que possuem monstros raros e adquirir recursos para criar itens de cura e equipamentos. Outro elemento que ajuda nesse sentido são os Poogies, porquinhos colecionáveis que podemos encontrar durante a exploração e que nos rendem bons itens de recompensa.

Tentar conseguir todas as criaturas é uma ótima motivação para vasculhar tudo, mas vale a pena ter em mente que níveis melhores dos mesmos monstros são desbloqueados com a progressão na história. Por conta disso, pode valer a pena tentar avançar a narrativa com um time mais simples antes de mergulhar mais a fundo na exploração.

Em especial, isso afeta os genes disponíveis, que são os fatores para habilidades passivas e ativas dos monstros. A ideia é que cada monstro possui genes específicos dispostos de formas variadas em um esquema 3x3, sendo possível desbloquear vantagens se fizermos um “bingo” preenchendo linhas, colunas ou diagonais.

Através do ritual do legado, podemos sacrificar um aliado, passando uma de suas habilidades para outra criatura, desde que ela tenha o slot na mesma posição disponível. Esse é um ótimo sistema de customização, dando liberdade para criar várias criaturas diferentes com combinações de habilidades que achamos mais interessantes.

Apesar da alta qualidade dos sistemas, vale destacar que várias funcionalidades do jogo demoram a ser desbloqueadas. Isso acaba deixando a experiência inicial mais inconveniente e valorizando mais um jogador que corre para avançar antes de explorar.

Qualidade de vida em um mundo primitivo

Um ponto que merece destaque no jogo é a possibilidade de jogar em português do Brasil. Quando avaliei Monster Hunter Stories 2, comentei que o sucessor tinha vários erros de tradução contextuais, mas o relançamento do primeiro jogo evitou com louvor esses problemas.

Notei errinhos apenas em ocasiões bem pontuais, como uma pequena fala de história que erroneamente menciona o monstro adversário saindo do combate sem que isso de fato ocorra, mas o jogo como um todo está em um excelente nível de tradução. É admirável, especialmente tendo em consideração a estilização da escrita, que inclui, por exemplo, um personagem que fala em rimas, e a forma como os personagens todos conseguem ter uma voz bem apropriada para a sua personalidade.

Vale destacar ainda que o jogo conta com uma galeria recheada com ilustrações do jogo e comentários sobre a criação dos personagens. Além disso, temos um mecanismo de acelerar batalhas, o que agiliza muito a experiência como um todo.

Como um jogo originalmente de 3DS, a nova versão mostra um pouco de defeitos em texturas, mas o seu estilo visual altamente colorido e estilizado é muito atraente. Tendo vindo do segundo jogo, senti falta de um multiplayer mais robusto, já que neste temos apenas o PvP “Batalha em Rede”.

Além disso, como costumo destacar em jogos com alta carga textual, falta aqui opções de log (registro de falas anteriores), skip (pular diálogos) e auto (passar automaticamente as falas). Até temos skip para as cutscenes, que também podem ser reassistidas no quarto do jogador, mas vários diálogos até mesmo da história principal não são contemplados por esse sistema.

Um retorno excelente

Monster Hunter Stories
é um ótimo RPG de captura de monstrinhos e uma adição de alta qualidade para o PC, PS4 e Switch. A experiência ainda é cativante e vale a pena conferir para qualquer jogador interessado no gênero.

Prós

  • Boa quantidade de missões que incentivam sair explorando as regiões do jogo;
  • Combate com ótimas opções estratégicas baseadas em entender as tendências dos monstrinhos aliados e inimigos;
  • A dinâmica de genes e ritual do legado permite customizar nossos monstrinhos em busca da melhor combinação;
  • Os Poogies são um ótimo sistema de colecionável e recompensam o jogador com itens de alta utilidade;
  • Ótima tradução para o português com pouquíssimos erros;
  • Galeria com belas ilustrações do jogo;
  • Aceleração das batalhas é um ótimo fator de qualidade de vida.

Contras

  • O desbloqueio das funcionalidades importantes do jogo demora mais do que o ideal;
  • Mesmo com o upgrade visual, algumas texturas não são muito agradáveis de olhar;
  • Em comparação com a sequência, o multiplayer se resume a PvP;
  • Ausência de log, skip e auto.
Monster Hunter Stories — PC/PS4/Switch — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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