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Análise: Echo Generation: Midnight Edition é uma aventura sobrenatural e nostalgica, mas simples até demais

Sem a pretensão de inovar em nada, game leva o jogador a uma aventura cheia de charme visual e perfeita para iniciantes.


Alguns games se propõem a inovar, mas nem todos são bem sucedidos, enquanto outros tentam ficar na segurança e, para bem ou para o mal, conseguem alcançar o objetivo proposto. Echo Generation: Midnight Edition é um belo exemplo desse segundo caso: um game disposto a não inovar em nada, mas que cumpre todos os fundamentos em uma diversão simples e direta com sua agradável apresentação, mas não sem alguns pontos que o fazem perder um pouco de brilho.

Aventura nem sempre ligada à Terra

Echo Generation é uma daquelas aventuras que começou a surgir no final da década de 2010 e parece ter ganhado uma tração muito grande graças à produções como Super 8 e Stranger Things, uma história sobre uma adolescente — que você escolhe entre vários modelos de personagens pré-definidos no início — que com a ajuda de sua irmã mais nova e aliados engraçadinhos, parte em uma jornada que conta com alienígenas, fantasmas e serial killers, durante as férias de verão de 1993.


A história do game é uma amálgama de elementos nostálgicos dessas aventuras que contam com um elenco de crianças e adolescentes enfrentando o sobrenatural e consegue levar essa narrativa de uma maneira agradável, mesmo que às vezes um pouco apressada, sem dar tempo de concluir algum “arco” para começar outro. Talvez seja para simular como funciona a cabeça do pré-adolescente de férias, entediado em casa.

O game, sim, possui um objetivo principal: encontrar seu pai, perdido durante cinco anos, algo tão dissolvido por um clima upbeat e com tom humorístico que acaba por passar batido na maior parte do tempo. Mas o jogo parece não se importar muito com uma história grandiosa, com elementos que iriam rivalizar grandes produções narrativas, na verdade, ele parece se calçar nos seus pequenos arcos e amarrar uma história que abraça o non-sense. E é o seu ponto mais forte.

O lixo de um pode ser o tesouro de outro


O progresso de Echo Generation pode envelhecer um pouco rápido para alguns, misturando uma eterna fetch quest com batalhas por turnos como num RPG oldschool, o jogo faz o básico do básico, mas que não quer dizer que não tenha uma base sólida. Durante o game, o jogador interage com NPCs não só na sua pequena cidadezinha suburbana, mas também em ferros-velhos, cemitérios assombrados e bases militares ultra-secretas (ou nem tanto, para serem descobertas por crianças).

E assim se estrutura o gameplay loop básico, indo de um lugar para outro, falando com NPCs, levando um item para ganhar outro, resolvendo fáceis e literais puzzles e, no meio disso tudo, tendo batalhas no melhor estilo Super Mario RPG, com golpes baseados em ritmo e timing, mas sem sua genialidade e variedade, o que agrava um certo tédio mais para o fim do jogo. No fim, fica clara a inspiração tanto no clássico do ícone da Nintendo, como no seu contemporâneo da mesma empresa, Earthbound.


Mas a simplicidade de gameplay e plot não significa necessariamente pontos negativos nesse caso. Pessoas que desejam uma aventura simples, sem compromisso e que possa ser apreciada sem muita pressa, de maneira relaxada, vão encontrar aqui um ótimo exemplar. O game parece também ser uma boa porta de entrada para quem deseja conhecer o gênero RPG, ou mesmo games no geral, já que sua curva de dificuldade é bem balanceada durante as batalhas mais intensas e recursos como uma agenda que anota todos os seus objetivos a serem cumpridos.

Climinha descontraído, mas não sem algumas coisas estranhas

Curiosamente, alguns dos temas que o jogo toca parecem um pouco fora do lugar às vezes, de uma forma que o deixa menos infantil do que parece. Enquanto muito do game é sobre buscar um osso sobrenatural para angariar um cachorro como membro para a party, ou fazer aliens ficarem felizes com música humana, há também temas como abdução — não do tipo extra-terrestres —, perda, culpa e até um certo inuendo em algumas piadas.


E esse tipo de coisa fica ainda mais interpretativa por conta de sua apresentação estética e visual: com gráficos que utilizam a técnica voxel e sustentam ainda mais o clima retrô do título, Echo Generation consegue sair um pouco do óbvio e evita gráficos 2D, tão comuns em jogos que focam em utilizar o tema nostalgia como parâmetro principal. Minha jogatina foi toda feita entre as telas da TV e do Steam Deck, e em ambos os casos, seja numa tela grande ou pequena, Echo Generation fica incrivelmente bonito.

Ajuda também o fato de que o estúdio Cococucumber fez um ótimo serviço adicionando uma boa variedade de locais para se explorar, alguns extremamente lindos de se olhar, além de inimigos que, apesar de serem um grande apanhado de referências genéricas, são diferentes entre si o bastante para surpreender toda vez que um novo surge. E isso é ótimo, já que poucas batalhas durante o jogo são aleatórias e na maior parte do tempo parece mais um boss rush, já que é constante em diversos momentos encontrar um chefe depois de batalhar contra outro chefe.

Potencial desperdiçado que limita a audiência

O que faz essas lutas — e o jogo no geral — não brilharem de verdade, é ponto principal para fazer um jogo de aventura e RPG ter sucesso e que contrasta com o que foi dito no parágrafo anterior: a sua equipe não ter muita variedade e adicionar pouco à variedade e estratégia do jogo. Durante o jogo, você até encontra companions, que são animais e outros seres que te ajudam como um terceiro membro da party. Uma pena que só se pode usar um por vez e isso limita um sistema que poderia ser mais customizável pelo jogador, mas, em vez disso, passamos toda a jornada com dois personagens fixos do início ao fim e um terceiro, muita das vezes até overlevel.

Echo Generation: Midnight Edition está longe de ser um jogo ruim, mas é um jogo que precisa de atenção para ser apreciado de maneira correta. Através de uma aventura enxuta e sem muita enrolação, o título é um pedido perfeito para quem quer uma receita feita sobre medida para novatos em RPG, ou mesmo videogames no geral. Mas alguns detalhes, ou mesmo falta de ambição (se é que os desenvolvedores buscaram isso) o fazem ser uma recomendação difícil para jogadores mais experientes ou que buscam desafios.

Prós:

  • Gráficos que fazem cenários simples ficarem extremamente agradáveis de se olhar.
  • Aventura enxuta para quem está começando.
  • Companions legitimamente engraçados e interessantes.
  • Não se prende a referências óbvias de outras obras para apelar à nostalgia.

Contras:

  • Desafio e estratégia nulos.
  • Gameplay se resume a ir do ponto A ao ponto B entregando e adquirindo itens.
  • História um tanto quanto sem ritmo.
  • Uma party que perde muito potencial por não oferecer variedade.

Echo Generation: Midnight Edition - PC/Switch - 6.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Cococucumber


Falo de tudo quanto é coisa, de Castlevania a Anatomy of a Fall, de Carolina Maria de Jesus a Hidetaka Miyazaki, de trilhas sonoras de Super Sentai a Mano Brown. Só não gosto de Deckbuilder Roguelike. Meu sonho é visitar o Japão. Se curtiu, continuo falando sobre meus textos em twitter.com/WesternYokai666
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