Impressões: No Rest for the Wicked (PC) é um RPG de ação impressionante e com muito potencial

O novo título do estúdio responsável por Ori encanta com sua ambientação elaborada, mas ainda tem muito o que melhorar.

em 01/05/2024

No Rest for the Wicked se inspira em inúmeros conceitos consagrados para criar uma aventura densa e envolvente. O novo projeto do Moon Studios, conhecido pela franquia Ori, é um RPG de ação com combate brutal que se passa em um mundo intrincado e repleto de segredos. Lançado em Acesso Antecipado, o título impressiona com suas mecânicas elaboradas e flexíveis, porém precisa de polimento em vários aspectos, como na performance técnica e no balanceamento.

Explorando uma ilha tomada pelo caos

Em No Rest for the Wicked, entramos na pele de um dos últimos Cerim, guerreiros lendários com poderes excepcionais. O grupo usa suas habilidades para combater a Pestilência, uma praga que transforma humanos em criaturas violentas. O nosso protagonista vai para a ilha de Sacra, que está tomada por monstros e se tornou ponto de disputa política após a recente morte do rei — além de enfrentar criaturas terríveis, será necessário lidar com um jogo de influência e interesses.


Depois de uma travessia complicada pelo mar, o Cerim chega à ilha de Sacra tendo como único pertence a roupa do corpo. E, para piorar, a região está infestada de humanos infectados pela Pestilência. Somente com os punhos e a perícia, o protagonista precisará arranjar um jeito de sobreviver a fim de chegar à cidade de Sacramento para continuar sua jornada.

Na prática, o jogo é um RPG de ação com elementos de soulslike cujo maior diferencial é a câmera com ângulo isométrico. No controle do protagonista, exploramos cenários em busca de recursos enquanto enfrentamos inimigos. O combate é brutal e focado em precisão, sendo essencial observar os movimentos dos oponentes para esquivar e golpear na hora certa — em boa parte das vezes, basta um único deslize para ser derrotado.


Pelo caminho, encontramos equipamentos diversos que aumentam a nossa chance de sobrevivência, assim como armas com estatísticas e golpes distintos. Como é de praxe de RPGs, flexibilidade é uma constante: os pontos obtidos ao subir de nível podem ser alocados livremente aos atributos do herói, como fôlego, força ou vida. Com isso, existe a possibilidade de montar personagens de diferentes estilos de jogo.

Em combates complicados e ferozes

Eu imaginava que No Rest of the Wicked seria só um soulslike com câmera diferente, mas logo fui surpreendido: o jogo gradualmente se revela mais denso conforme mergulhamos em seu mundo. O resultado é uma aventura envolvente que introduz mecânicas e ideias com frequência.

O combate está no centro da experiência. Como é esperado do gênero, os embates são cadenciados e com grande foco em precisão, apesar da agilidade da ação. Todos os movimentos, como atacar, esquivar ou aparar golpes, consomem a barra de fôlego, então é importante agir com cuidado para não ficar completamente aberto. Em boa parte das vezes, fui derrotado por ser afobado e atacar de qualquer jeito; só passei a sobreviver mais ao observar os padrões dos oponentes, ao desviar investidas e ao golpear na hora certa.


Fui surpreendido com as possibilidades na hora de enfrentar os inimigos. O herói é capaz de desferir sequências ágeis, um golpe lento e poderoso, uma investida para desestabilizar os oponentes e até mesmo um potente ataque furtivo. Além disso, as armas contam com técnicas especiais, como golpes giratórios, bolas de fogo e um salto seguido de um corte vertical. Essas habilidades consomem Foco, que só é recuperado com golpes físicos, e é possível customizá-las. Isso, em conjunto a diferentes tipos de criaturas, traz diversidade aos embates.

Naturalmente, a jornada é difícil e morrer é algo que acontece com frequência. Nesse aspecto, o título é um pouco menos punitivo em relação a outros representantes do gênero. Ao sermos derrotados, voltamos ao último checkpoint, aqui chamados de Sussurro do Cerim, e a única penalidade é perder um pouco da durabilidade dos equipamentos — inimigos anteriormente abatidos só retornam em situações específicas. Não sou muito bom neste tipo de jogo, mas com um pouco de insistência e mudanças na estratégia eu consegui superar boa parte dos desafios.


No lançamento em Acesso Antecipado o sistema de combate se mostra sólido, mas ainda são necessários ajustes: alguns inimigos são tão poderosos que são capazes de derrotar o herói com uma única sequência de ataques; certos golpes são difíceis de ler e desviar. Uma das maiores reclamações é a questão de perder durabilidade dos equipamentos ao morrer, pois isso enfraquece o protagonista aos poucos e, dependendo da situação, é difícil reverter esse estado. Já foram feitas algumas alterações no balanceamento, mas acredito que mais precisa ser feito.

Perdendo-se em uma ilha intrincada

Fora dos combates, há um mundo elaborado para desbravar. Os cenários têm inúmeros caminhos e segredos, muitas vezes escondidos em locais pouco óbvios ofuscados pelo ângulo da câmera — observar as cercanias com atenção é imprescindível para encontrar todas as rotas.


Um detalhe interessante é que há muita verticalidade nas regiões do jogo, apesar da câmera isométrica. Confesso que fiquei fascinado ao descobrir áreas imensas ao subir trepadeiras ou ao escalar as bordas de um penhasco. O personagem conta com alguns movimentos para proporcionar esse tipo de exploração, como saltos executados automaticamente em bordas, mas achei que ainda carecem de refinamento: muitas vezes caí de penhascos por causa da imprecisão dos pulos. O mapa também poderia ser melhor, pois ele não separa os diferentes níveis de locais que se sobrepõem.

Há uma vasta gama de atividades espalhadas pela ilha de Sacra, o que torna a aventura imersiva. Além das tradicionais missões paralelas, podemos coletar materiais para criar e melhorar estruturas na cidade, construir e customizar equipamentos, cozinhar refeições na fogueira, participar de caçadas e mais. No momento, algumas dessas tarefas são um pouco repetitivas, como juntar itens para restaurar construções, mas a desenvolvedora tem feito ajustes constantes neste aspecto.



Beleza problemática

Um ponto que chama a atenção em No Rest for the Wicked é a ambientação: os gráficos usam texturas que lembram pinceladas de tinta, resultando em um visual único e belo. Além disso, os cenários são elaborados e repletos de elementos, como vegetação, dispositivos e construções, que os tornam ricos e instigantes. Destaco também as ótimas cenas não interativas com personagens e dublagem expressivos.


Apesar de muito bonito, o jogo sofre com problemas significativos de performance. Mesmo utilizando uma máquina com configuração acima do recomendado, vi engasgos na fluidez e no áudio — nada muito significativo, mas que incomoda um pouco. No entanto, outros jogadores têm reclamado bastante do desempenho do jogo, especialmente em configurações mais modestas e no Steam Deck. A desenvolvedora tem trabalhado nisso e já liberou alguns patches com melhorias, porém ainda está longe do ideal.



Um RPG incipiente, mas que já vale a pena

No Rest for the Wicked se destaca por nos transportar para um mundo repleto de desafios e complexidade em um RPG de ação que equilibra habilmente combate brutal e exploração rica. A ambientação detalhada, enriquecida por gráficos estilizados e mecânicas bem trabalhadas, oferece uma experiência envolvente, apesar de ainda estar em desenvolvimento.

No entanto, a experiência é parcialmente prejudicada por questões de performance técnica e de balanceamento, que podem frustrar especialmente novos jogadores. Porém, por se tratar de um título em Acesso Antecipado, esses aspectos devem mudar, afinal atualizações e ajustes contínuos serão constantes durante o desenvolvimento.

No fim, No Rest for the Wicked apresenta um potencial impressionante que, com o devido polimento, poderá se solidificar como um título de destaque no gênero RPG de ação, mantendo os jogadores imersos e desafiados em seu mundo caótico e intrincado.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Private Division

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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