Análise: Hauntii (Multi) - assombrando tudo em um agradável e criativo passeio pelo além

Controle objetos e explore um mundo misterioso neste título indie singular.

em 22/05/2024

Em Hauntii, um fantasminha usa seus poderes para explorar um misterioso mundo de pós-vida. Em sua essência, este indie é um jogo de tiro controlado por duas alavancas bem curioso: além de derrotar inimigos, as balas espectrais permitem que o espírito possua e controle objetos. Essa habilidade é explorada em áreas repletas de puzzles e desafios criativos que instigam a imaginação em uma aventura suave, bela e contemplativa cujo ritmo lento às vezes atrapalha a experiência.

Buscando respostas em um plano espiritual

Hauntii é um fantasminha que acabou de chegar à Eternidade e não se lembra de nada de sua vida. Em busca de respostas, ele acaba fazendo amizade com uma Eterniana, membro de uma raça misteriosa que, supostamente, ajuda as almas a ascenderem a um plano superior. O ponto para alcançar o mundo elevado é uma imensa torre, mas algo dá errado: correntes arrastam Hauntii para baixo, que cai em uma região desolada.

Logo ele descobre que, para ascender, primeiro será necessário recuperar suas memórias, que assumiram a forma de estrelas e estão espalhadas por todo o Além. Sendo assim, ele parte em uma jornada em busca desses objetos brilhantes para tentar entender quem ele era em vida. Fora isso, o espírito busca reencontrar sua amiga ao mesmo tempo que procura entender os mistérios dos Eternianos.


Apesar de ser o pós-vida, a Eternidade não é um local tranquilo, sendo assolado por almas corrompidas e agressivas. Para dar conta dessas criaturas, Hauntii libera sua energia espectral na forma de esferas, bastando apontar com a alavanca para atirar na direção desejada. O fantasminha consegue escapar de perigos com uma investida, que recarrega automaticamente após alguns segundos.

Fora os inimigos, o mundo está repleto de enigmas e obstáculos, e a melhor maneira de superá-los é assombrando coisas. Hauntii consegue tomar o controle de certos objetos ou inimigos ao atirar neles, liberando interações diversas, como mover blocos para abrir caminhos, derrubar pilastras em grupos de oponentes ou possuir criaturas com habilidades exclusivas. Há uma infinidade de coisas para possuir e experimentar as possibilidades é essencial para avançar.



Assombrando e possuindo para resolver enigmas

Confesso que comecei Hauntii achando que se tratava de um twin-stick shooter de ritmo mais lento, mas rapidamente fui surpreendido com uma mudança de estrutura. O jogo é, na verdade, uma aventura de exploração e puzzle com grandes cenários que nos instigam a desbravar todos os cantos.

O objetivo principal em cada uma das inúmeras áreas de Eternidade é coletar estrelas, que são utilizadas para desbloquear novos caminhos e as memórias do fantasminha. Para encontrá-las, precisamos completar todo tipo de tarefa, como derrotar grupos de inimigos, atravessar rapidamente anéis em sequência, coletar chaves que abrem dispositivos, e assim por diante.


O grande diferencial é que a solução de muitos dos enigmas exige assombrar objetos e criaturas. Em uma floresta, controlei uma joaninha para saltar por árvores em sequência para fazer surgir uma estrela; em um parque de diversões, alterei o formato de uma montanha-russa ao possuir monstros que seguravam a estrutura; em uma batalha contra espectros sombrios, precisei alternar entre um lançador de fogos de artifício e canhões fixos na arena para dar conta de todos os oponentes; em outro ponto, manipular cristais fez surgir caminhos que me possibilitaram alcançar novas áreas.

A diversidade de situações é grande e me diverti explorando as possibilidades proporcionadas pela habilidade de possuir coisas. Cada região conta com conceitos únicos e constantemente tive que experimentar novas abordagens. Além das estrelas, há muitos colecionáveis para encontrar, como chapéus e moedas especiais, o que me incentivaram a investigar com cuidado todos os cantos. A progressão é bem suave, existindo mais estrelas do que o necessário para desbloquear os caminhos, o que me permitiu avançar de maneira relaxada.



Uma jornada de cadência meditativa

Apesar de ter tiro como sua mecânica principal, Hauntii é uma experiência serena: a ação tem andamento menos acelerado, os desafios são suaves e a dificuldade é moderada. Há muitos momentos de tiroteios intensos e até morri várias vezes nesses embates, mas isso raramente foi frustrante — o personagem só perde um pouco do dinheiro e reaparece no ponto de salvamento mais próximo.


O foco está na exploração e o mote principal de ritmo mais cadenciado acaba atrapalhando um pouco. A movimentação do protagonista é um pouco lenta, então ir de um lugar para o outro às vezes acaba sendo devagar e entediante. Para piorar, cada região é dividida entre várias áreas, então muitas vezes é complicado revisitar alguns locais em busca de coisas que ficaram para trás.

Também tive dificuldade em entender certos objetivos: as frases são vagas, apesar do texto estar em português, e é fácil acabar perdido ou preso em algum ponto. Um mapa com um marcador indicando o próximo passo tenta mitigar esse problema, mas ele só mostra todas as regiões do mundo de maneira simplista. Particularmente, acredito que seria melhor esquemas detalhados de cada área, com direito a viagem rápida no menu. A sorte é que o andamento é majoritariamente linear, então esses detalhes incomodam menos.



Perdendo-se na beleza assombrosa

Por trás de atirar e possuir coisas, Hauntii nos envolve com seu universo simultaneamente charmoso e misterioso. A arte chama a atenção com visual minimalista em line art que usa traços simples e contraste entre poucas cores para trazer identidade e personalidade ao mundo — o resultado é belo, lembrando uma história em quadrinhos monocromática em movimento. Pianos e cordas em composições suaves complementam as sensações proporcionadas pelo visual.


Fora isso, a aventura cativa com seus personagens e trama. O conceito principal é simples, mas há algumas reflexões interessantes: qual é o real valor das memórias? Você estaria disposto a sacrificá-las para ficar junto de quem é importante? O tom é um pouco melancólico e agridoce, mas um elenco exótico de personagens dá um ar pitoresco e brincalhão ao universo.



Uma agridoce e calorosa viagem

Hauntii é um título indie que vai além de um simples twin-stick shooter, oferecendo uma rica experiência de exploração e resolução de puzzles em um mundo envolvente. A habilidade única do fantasminha de possuir objetos e criaturas traz criatividade aos desafios, instigando a curiosidade em desvendar todos os segredos do Além. O visual minimalista e a trilha sonora suave complementam a atmosfera meditativa do jogo, tornando a jornada tanto uma aventura visual quanto emocional.

No entanto, a experiência é marcada por um ritmo cadenciado que pode frustrar devido à movimentação lenta e à dificuldade de navegação entre áreas. Apesar desses pontos, Hauntii cativa com sua narrativa melancólica e personagens carismáticos em uma jornada que equilibra desafio e contemplação, oferecendo uma experiência única e bela.

Prós

  • A mecânica de possuir objetos e criaturas é repleta de usos criativos;
  • Grande variedade de atividades e situações com bom equilíbrio entre ação e exploração;
  • Vasto mundo para desbravar;
  • Atmosfera aconchegante com ótimos visual, som e temas.

Contras

  • A movimentação lenta do personagem atrapalha o ritmo da exploração;
  • Alguns objetivos são vagos demais;
  • O backtracking é custoso.
Hauntii — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Firestoke
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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