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Análise: Ghost of Tsushima Versão do Diretor (PC) é um dos ports mais belos e polidos da Sony

O jogo conta com tecnologias como DLSS 3, FSR 3, Intel XeSS, dentre outras.


Seguindo o sucesso de títulos como Helldivers 2 (PC/PS5) e Horizon Forbidden West (PC), a Sony trouxe mais um clássico da era PS4 para os jogadores do Steam e Epic Games. Ghost of Tsushima Versão do Diretor é a edição definitiva de um dos jogos mais cativantes e cheios de personalidade da Sony, oferecendo uma experiência ainda mais imersiva e refinada.

Ambientado no Japão do final do século XIII, o jogo acompanha a jornada de Jin Sakai, um samurai que luta contra uma invasão mongol. Jin enfrenta o desafio de equilibrar honra e dever, uma tarefa árdua, pois sua luta não se limita apenas à defesa da ilha de Tsushima, mas também envolve a preservação de seu legado e da figura do samurai. 

Repleto de referências de alto nível, como as obras do renomado cineasta Akira Kurosawa (que inclusive dá nome a um modo de jogo) e influências de jogos icônicos como Red Dead Redemption, o título aproveita o potencial quase ilimitado dos PCs para entregar sua melhor versão, maximizando os recursos gráficos e de desempenho com tecnologias atuais para proporcionar a experiência única.

Sergio Leone encontra Kurosawa



Os desenvolvedores da Sucker Punch já mencionaram em diversas entrevistas como o cinema de Akira Kurosawa (1910-1998) foi a principal influência para Ghost of Tsushima. Em homenagem ao icônico diretor, o jogo inclui um modo de jogo nomeado "Modo Kurosawa", que evoca a estética de seus filmes com granulação e preto e branco característicos da época. Kurosawa, por sua vez, foi influenciado por John Ford e seus filmes do velho oeste americano.

É fascinante como a arte se retroalimenta. Outro grande diretor que acabou sendo influenciado por ambos foi Sergio Leone (1929-1989), que se tornou referência no gênero de faroeste nas décadas de 1960 a 1980. Neste caldeirão de obras e estilos, o jogo da Sucker Punch bebe das melhores fontes. O samurai de Kurosawa, o cowboy de John Ford (1894-1973) e os conflitos do velho oeste de Leone se encaixam em uma sinfonia perfeita.




Red Dead Redemption também deixa sua marca em Ghost of Tsushima, principalmente nos grandes duelos presentes no jogo. Mecanicamente, esses confrontos se assemelham ao trabalho da Rockstar, mas esteticamente lembram os grandes duelos que marcaram os filmes dos diretores mencionados. Essa combinação de influências resulta em uma experiência de jogo rica e multifacetada, que celebra o legado cinematográfico de forma magistral.

Cada frame, uma pintura



Nos jogos modernos, boa parte das discussões sobre a fidelidade gráfica é acompanhada por um discurso vazio de um desejo de representação da realidade pela técnica. Essa demanda é muitas vezes associada ao preço de uma obra, com a expectativa de que um jogo caro deve necessariamente apresentar gráficos realistas.

Se compararmos o trabalho de modelagem dos rostos dos personagens de Ghost of Tsushima com jogos lançados no mesmo ano, como The Last of Us Part II (PS4), pode-se argumentar que há uma inferioridade técnica em Tsushima. No entanto, há um limite até onde se pode forçar a fidelidade visual sem comprometer a experiência geral do jogo. É aqui que entra a direção de arte, responsável por ditar não apenas a aparência das coisas, mas como elas devem parecer em conjunto.




Nesse aspecto, vejo poucos jogos AAA que se comparam ao trabalho realizado em Ghost of Tsushima. Do início ao fim, em cada missão principal, secundária ou atividade de mundo, cada ângulo que você olha é uma verdadeira obra de arte. É evidente que houve uma influência significativa da arte Nihonga, um estilo de pintura tradicional do Japão, que inspira não somente as artes dentro do jogo, mas também a forma como o próprio design estrutura cores, vegetação e clima.

Não se engane: no nosso mundo natural, raramente se vê cores tão vivas e horizontes tão belos e esculpidos como os da ilha de Tsushima. Mas é precisamente nesse aspecto que a arte, ou o videogame, pode superar a realidade e o fetiche pela fidelidade gráfica. Além disso, Ghost of Tsushima oferece o que é provavelmente o melhor modo foto da indústria até hoje. Passei inúmeras horas emoldurando e fotografando a ilha, talvez até mais tempo do que passei jogando no modo online.

Modo Legends



Recentemente houve uma polêmica sobre a Sony exigir a conexão com uma conta PSN para que os jogadores do Steam pudessem acessar Helldivers 2, isso criou uma grande comoção da comunidade, o que fez a publisher desistir da ideia. Na mesma época, foi avisado que o modo online de Ghost of Tsushima, o Legends, teria a necessidade dessa conexão.

De fato, atualmente é necessário ter uma conta PSN ligada a sua conta Steam para acessar o modo, que conta com crossplay com jogadores de consoles da Sony. Legends é uma boa adição à experiência, une o bom combate do jogo com uma ambientação sobrenatural e mística que combina muito bem com o universo criado pela Sucker Punch, mas não sei se vai atrair tantos jogadores assim, principalmente pelo foco na história principal. Tive minha boa parte de dificuldade em achar algumas partidas recentemente.
Mundo aberto e design

A experiência sobre uma obra sempre enfrenta o impasse da subjetividade. O que é bom para mim pode não ser bom para outra pessoa. Um aspecto que me desagrada profundamente nos jogos modernos é a necessidade de inflar o design para justificar o preço final. Todo grande jogo dos estúdios precisa ter mais de 60 horas de conteúdo e dezenas de atividades secundárias. É até raro ver experiências como a de Hellblade 2 (XSX/PC), que se destacam pela sua concisão.




Dentro dessa lógica, vejo boa parte do mundo de Tsushima dessa forma. Facilmente, o jogo poderia ser fechado em hubs muito menores. Porém, ele segue a tendência da Ubisoft de encher o mapa com inúmeras atividades e itens. São quase 450 itens espalhados pelo mapa, além de atividades como seguir raposas e pássaros, limpar campos de bandidos, cortar bambu, compor haikus, entre outras.

Na minha experiência, muitas dessas opções serviram apenas como desperdício de recursos. Mal fiz uso delas, e isso não impactou em nada minha experiência com a história principal, apesar da promessa de melhorias de itens que essas atividades oferecem. Em contrapartida, o sistema de quests, tanto as dos companheiros de Jin, quanto as fábulas míticas, são muito bem-vindas. Elas não apenas aprofundam e exploram personagens interessantes, mas também adicionam um toque especial aos itens e lendas que compõem aquele mundo.

As missões dos companheiros de Jin proporcionam uma visão mais profunda das relações e dos conflitos internos dos personagens, enquanto as fábulas míticas acrescentam uma camada de mistério e encanto ao universo do jogo. Esses elementos enriquecem a narrativa e a imersão de uma forma que as atividades secundárias mais triviais não conseguiram na minha experiência. Felizmente, é possível ignorar quase todas elas.

Performance e tecnologias



Como um bom port para PC, Ghost of Tsushima conta com as mais novas tecnologias de ajuste de resolução e de geração de quadros, como NVIDIA DLSS 3, AMD FSR 3 e Intel XeSS. A implementação dessas tecnologias é decente, principalmente porque o jogo está muito bem otimizado. Muitas das avaliações no Steam são positivas, destacando como o jogo roda bem em PCs menos robustos.

Dado o histórico da Sony com ports para PC, sempre há uma incerteza sobre a qualidade do port, podendo variar entre um ótimo desempenho ou problemas como os vistos em The Last of Us Part I. Felizmente, a Sony está em uma boa fase em 2024, lançando títulos bem polidos. Até as tecnologias de controle foram bem implementadas aqui, e funcionam perfeitamente no controle do Xbox Series. Ao puxar o arco, é possível até sentir o gatilho tremer como o carburador de uma moto potente.

Versão definitiva de um clássico moderno

Além do jogo base refinado e das tecnologias já mencionadas, Ghost of Tsushima Versão do Diretor inclui frames destravados, o DLC Ilha Iki e o modo Legends. Isso torna o pacote tudo o que os jogadores de PC esperavam de um dos exclusivos mais singulares da Sony. Apesar dos meus problemas quanto ao design de mundo aberto, esse aspecto pouco impactou minha experiência geral.

Minha jornada por Tsushima foi uma grande aventura, combinando o melhor do velho oeste e do mundo samurai, numa homenagem impecável aos diretores que eu admiro. A integração das influências cinematográficas e da própria indústria cria uma jogatina que atingiu todos os meus padrões de satisfação.

Prós

  • Direção de arte que transforma cada frame em uma verdadeira pintura com suas cores vibrantes e ambientação impressionante;
  • Sistema de contos secundários que aprofunda personagens e expande o misticismo do mundo;
  • Boa otimização e implementação de tecnologias de melhoria de performance e gráfico;
  • Inspirado no trabalho de grandes nomes do cinema como Kurosawa, Ford e Leone.

Contras

  • Design de mundo aberto inflado que não agrega tanto além de melhorias mecânicas à gameplay;
  • Necessidade de ter uma conexão com uma conta PSN para jogar online.
Ghost of Tsushima Versão do Diretor — PC— Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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