Blast from the Past

Thousand Arms (PS): um RPG bem-humorado e despretensioso

Relembre este curioso título lançado pela Atlus que combinava elementos de RPG e simulação de namoro.

em 10/05/2024
Indiscutivelmente, o PlayStation original se destaca como uma das plataformas mais ricas quando se trata de RPGs. Thousand Arms, lançado pela Atlus para o console da Sony em 1998 no Japão e em 1999 no Ocidente, está longe de figurar entre os melhores títulos do gênero que esta lendária plataforma tem a oferecer, mas apresenta características intrigantes que o tornam uma experiência singular.

A ameaça dos Dark Acolytes

Thousand Arms nos coloca na pele de Meis Triumph, um ferreiro em treinamento que pertence a uma famosa linhagem de artesãos capazes de forjar armas imbuídas de poderes elementais. Após fugir de sua terra natal devido a um ataque perpetrado por estranhas criaturas robóticas conhecidas como Dark Acolytes, o protagonista conhece uma jovem chamada Sodina.

Juntamente com alguns outros indivíduos que se juntam à equipe durante o decorrer da campanha, essa dupla parte em uma jornada para desvendar quem é a mente por trás dos Dark Acolytes e frustrar seus planos malignos.

A história de Thousand Arms apresenta uma série de particularidades que já eram clichês em sua época, como o conceito do herói escolhido, a figura de um imperador que transcendeu as barreiras do tempo e alguns altares sagrados que o mocinhos precisam visitar antes de enfrentar o desafio final. No entanto, isso não se torna um problema, pois o jogo não leva sua narrativa muito a sério e se concentra bastante no humor.

Apesar de nenhum indivíduo apresentar uma grande profundidade ou evolução e de o título geralmente não conseguir transmitir a urgência nos momentos mais sérios, a trama ainda consegue prender nossa atenção por oferecer muitas situações engraçadas e personagens bem carismáticos.

Um atacante e dois auxiliadores

À primeira vista, Thousand Arms pode parecer um RPG extremamente comum; no entanto, ele gradualmente revela características que o tornam singular, especialmente quando comparado às opções disponíveis no Ocidente na época de seu lançamento. Nessa perspectiva, talvez o aspecto da exploração seja o mais tradicional: temos um amplo mapa externo repleto de pontos com navegação interna, como cidades, castelos e masmorras.

Por outro lado, o sistema de combate traz algumas nuances curiosas, embora também utilize o modelo padrão de encontros aleatórios tanto no mapa-múndi quanto dentro das dungeons. Aqui, as lutas se desenrolam em uma perspectiva lateral e a nossa equipe é composta por três indivíduos, com um deles permanecendo na linha de frente enquanto os demais oferecem apoio na retaguarda.

Cada grupo possui uma barra de tempo que permite a execução de uma ação, semelhante ao sistema ATB de Final Fantasy. Entretanto, apenas o herói posicionado à frente pode causar danos significativos aos inimigos, enquanto os outros integrantes do time se limitam ao uso de itens ou habilidades de suporte, como curas.

Um aspecto interessante é que os personagens de apoio também podem realizar gritos de incentivo ou provocação, concedendo buffs aos aliados ou debuffs aos adversários, respectivamente. Além disso, é possível alternar entre quem ataca e quem ajuda no meio de um embate.

Embora possa parecer que essas peculiaridades tornam o combate um tanto lento, devido ao fato de apenas um indivíduo atacar, na verdade é justamente o oposto, pois o tempo de espera entre as ações é curto, mantendo os jogadores sempre ativos. Além disso, os diferentes sujeitos que podem ser posicionados como apoio nos permitem criar estratégias distintas, fazendo com que as lutas de Thousand Arms sejam bem agradáveis.

Um ferreiro que precisa de companheiras

Como mencionado anteriormente, Meis é um ferreiro capaz de criar armas imbuídas com poderes elementais. Esse talento é apresentado no jogo por meio de um curioso sistema de crafting que traz consigo aspectos de simulação de namoro.

Já nos primeiros momentos da campanha, descobrimos que os homens da família Triumph precisam do auxílio de uma mulher para forjar boas armas. Sendo assim, o protagonista deve se relacionar com garotas para conseguir criar equipamentos poderosos. Quanto maior a intimidade, melhores serão os resultados.

Apesar de simples, a mecânica de dating sim é divertida e proporciona algumas cenas engraçadas. Nesse sentido, somos capazes de entregar inúmeros tipos de presentes para as jovens do grupo, com cada uma delas possuindo itens que gostam e desgostam.

O aspecto verdadeiramente intrigante relacionado ao namoro é a possibilidade de sairmos em encontros com as pretendentes. Além de podermos caminhar pela cidade com a moça escolhida, conseguimos parar em pontos específicos para conversar. Nessas situações, a menina geralmente faz diversas perguntas e o jogador tem alternativas para responder. Naturalmente, cada opção pode agradar mais ou menos a garota.

O curioso é que existem variações de humor entre as moças dependendo do momento em que o encontro se inicia. Assim, é possível que uma mesma mulher esteja sensível e pouco receptiva a certas respostas em determinado dia e completamente alegre e bem-humorada em outro.

Além de as garotas possuírem personalidades distintas e proporcionarem experiências singulares em cada cortejo, elas também estão ligadas a elementos específicos, o que faz com que a alta intimidade com cada uma possibilite a criação de equipamentos diferentes e poderosos.

Nuances visuais notáveis

As características audiovisuais de Thousand Arms também possuem particularidades surpreendentes. Em primeiro lugar, a maioria das falas é dublada, o que contribui bastante para aumentar o carisma dos indivíduos. Nesse sentido, algumas vozes são competentes, enquanto outras são um tanto exageradas. No entanto, mesmo a dublagem caricata acaba se encaixando bem com o humor do jogo.

Visualmente, o título traz cenários em 3D e personagens em 2D. Durante os momentos de exploração, os sprites das pessoas acabam não sendo tão polidos quanto os de outros games lançados na mesma época. Apesar disso, os heróis, principalmente Meis, apresentam mudanças de feições e reações que se adequam perfeitamente às situações cômicas, enriquecendo esses instantes.

O que realmente chama atenção são as animações que Thousand Arms exibe em alguns diálogos, as quais se iniciam imediatamente e se sobrepõem aos próprios cenários 3D, sem nenhum tipo de carregamento para trocar a perspectiva. Essas cenas possuem movimentações consideráveis e também são dubladas, criando uma agradável sensação de que estamos assistindo a um anime.

Diferente e divertido

Thousand Arms possui uma história bobinha e está longe de figurar entre os melhores RPGs disponíveis dentro da vasta biblioteca do PlayStation. No entanto, ele certamente é um jogo diferenciado e completamente capaz de proporcionar algumas boas horas de diversão.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut

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