Análise: Read Only Memories: Neurodiver (Multi): a mágica futurista de mergulhar nas memórias

Jogo de aventura da Midboss brilha nos aspectos audiovisuais, mas merecia uma trama e gameplay melhor trabalhadas.

em 15/05/2024
Read Only Memories: Neurodiver
é uma sequência de 2064: Read Only Memories e desta vez acompanhamos a história de uma nova personagem capaz de mergulhar nas memórias das pessoas em busca de respostas. Com essa habilidade, temos a missão de perseguir Golden Butterfly, um perigoso indivíduo que se espalha nas lembranças das pessoas.

Explorando o passado

Neurodiver conta a história de Luna Cruz de la Vega, uma jovem com poderes especiais que também é mais conhecida como ES88. Com habilidades psíquicas que a diferenciam de humanos comuns, ela se juntou a uma organização especial chamada MINERVA para utilizar seus poderes em parceria com um esper artificial cujo nome integra o título desta sequência.
 
Já dentro da organização, Luna recebe uma missão bastante complexa: procurar um esper chamado Golden Butterfly. De acordo com a chefe Fortuna, ele se embrenha nas memórias de vários indivíduos e o motivo para escolher as vítimas é desconhecido.
Assim começa a nossa jornada em busca desse invasor de alta periculosidade. Para encontrarmos pistas do seu paradeiro, teremos que mergulhar nas memórias de várias pessoas.
 
Indivíduos atingidos por Golden Butterfly acabam tendo as suas memórias afetadas pela presença dele. Por conta disso, acabamos tendo que reconstituir os eventos, utilizando elementos dos cenários para desvendar as verdades escondidas em meio a ruídos.

Uma visão interessante de futuro

O que chama a atenção em particular em Neurodiver é a sua visão de futuro. Temos um mundo fascinante que consegue demonstrar muito bem a integração da tecnologia na vida das pessoas ao mesmo tempo que certos elementos mais antiquados coexistem com a inovação tecnológica.
 
Em particular, o conceito de reviver memórias é fascinante e o jogo toca de forma sensível na questão ética envolvendo a habilidade da nossa protagonista. Ironicamente, apesar do nome “Read Only Memories”, as habilidades de ES88 envolvem modificá-las. Embora a personagem tenha como objetivo usar esse poder para recuperar as memórias das pessoas, qual é a ética que define que memórias merecem ser lembradas e quais podem ser esquecidas para um bem maior?
Embora a ambientação de Neurodiver seja leve dentro do gênero de ficção científica, evitando sistemas distópicos opressivos, é fácil ver a responsabilidade envolvida com esses poderes. A forma como o jogo trabalha com essa questão não é nada sutil, mas abre uma discussão honesta sobre o tópico.
 
Infelizmente, quando falamos sobre a trama como um todo, saí do jogo com a sensação de que os seus elementos poderiam ser melhor aproveitados. Em particular, a reta final da aventura apresenta uma reviravolta grande que acaba soando forçada: o mistério em torno do Golden Butterfly possui uma resolução que parece ter sido pensada apenas em termos de impacto para a personagem principal, mas é apresentada às pressas e de forma anticlimática.
Apesar disso, no quesito personagens, a obra tem um ótimo destaque, apostando em indivíduos carismáticos que chamam a atenção, cheios de energia e vida própria. Os diálogos do jogo são leves e bem agradáveis, fazendo com que a condução ofereça uma leitura suave. Ao final, porém, o conjunto da obra precisava ir além para se destacar.
 
Junta-se a isso um grande esmero pelos aspectos audiovisuais, fortalecendo quão agradável a experiência é. Temos aqui um trabalho com sprites altamente colorido, recheado de animações detalhadas e expressivas.
 
Assim como o visual busca inspiração em jogos retrô do gênero, a trilha sonora chiptune é cativante e reforça a imersão no ambiente futurista. A dublagem dos personagens também é de qualidade e faz com que as cenas ganhem um peso a mais, embora a versão que joguei tenha problemas quanto ao volume oscilante que, torço, serão corrigidos com o lançamento.

Um sistema arbitrário

Read Only Memories: Neurodiver é um point-and-click no qual usamos apenas o mouse, sem possibilidade de interagir com o teclado, embora seja possível usar controles. Entre momentos de diálogo que lembram o formato conhecido como visual novel, devemos interagir com elementos do cenário em busca do próximo ponto de interação.
 
Tanto no mundo real quanto nas memórias, os ambientes podem fornecer passagens clicáveis ou um botão de escape no canto inferior direito da tela. Geralmente, há poucos elementos interativos, o que desestimula a exploração, mas há alguns momentos engraçados como a protagonista reagindo a suas mercadorias otaku.
Dentro das memórias, existem trechos corrompidos e claramente fora de lugar, inadequados para a memória que estamos analisando e extraídos de outros momentos da psique das pessoas. Cabe a nós corrigir o problema usando outros itens encontrados por perto, vasculhando a área e conversando com pessoas.
 
O conceito é bem interessante, mas na prática acaba sendo totalmente arbitrário. Temos que tentar selecionar itens que parecem mais se encaixar com o que deve estar presente na cena verdadeira. Porém, a lógica disso é muito confusa e abstrata, sendo fácil pensar em combinações diferentes que talvez funcionariam.
Para piorar a situação, como se trata de mais de um item, mesmo se quisermos tentar todas as opções, é muito mais difícil e maçante buscar a opção correta por tentativa e erro. Felizmente, a pouca quantidade de itens no inventário acaba amenizando um pouco o problema, mas fica a sensação de que a mecânica em si precisava ter sido melhor pensada para não soar tão arbitrária.

Um mergulho que poderia ser mais profundo

Read Only Memories: Neurodiver
é um jogo de aventura com um mundo fascinante. Com bons personagens e um trabalho fenomenal em seus aspectos audiovisuais, é uma experiência confortável. Infelizmente, no aspecto do enredo e da mecânica principal, a sensação geral é a de que o jogo precisava ter mergulhado mais fundo para poder de fato permanecer nas memórias coletivas como um grande clássico do gênero.

Prós

  • Ambientação futurista fascinante;
  • Personagens carismáticos;
  • Visual e trilha sonora deslumbrantes que combinam perfeitamente com a proposta.

Contras

  • A reviravolta final acaba soando forçada em vez de um conclusão na qual todas as peças se encaixam;
  • O sistema de reparar memórias é arbitrário, confuso e mal explicado.
Read Only Memories: Neurodiver — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chorus Worldwide Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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