Um mistério para rir
Duck Detective conta a história de Eugene McQuacklin, um pato detetive que age como um tipo bem tradicional de investigador. Recém-divorciado, ele está à procura de serviço quando recebe um chamado para desvendar um caso de furto.
A sua missão é descobrir quem é o misterioso “Salami Bandit”, que roubou o almoço de uma funcionária do serviço de transporte público da cidade. Porém, as coisas não são tão simples quanto parecem e a trama evolui para uma conspiração maior.
Em termos de narrativa, é importante ter em mente que o jogo é voltado para o humor. A trama é toda pensada com frases de efeito e trocadilhos, sendo o tipo de história que funciona como uma paródia de mistérios mais sérios.
Para reforçar o tom de piada, temos uma dublagem em inglês feita sob medida. As falas dos personagens são extremamente caricatas e a forma como eles falam soa como uma série enlatada de detetive de décadas passadas.
Todas as falas, incluindo os monólogos do protagonista, possuem voz. Com isso, o mundo ganha vida e as piadas ganham as ênfases certas para se destacar. Embora o texto em si já seja bem-humorado, são essas performances de voz que elevam a experiência ao tom ideal.
Uma investigação recheada de reviravoltas
Apesar do tom de humor, a trama não se trata apenas de uma bobagem fazendo piada com histórias de detetive. Na verdade, todas as reviravoltas são muito bem pensadas e o mistério é envolvente do início ao fim.
O caso do Salami Bandit realmente levanta questionamentos sobre questões sombrias da sociedade humana. No fundo, todos os carismáticos personagens possuem camadas curiosas que lembram pessoas reais e são bem exploradas na trama.
Por conta disso, não sinto que o tempo é um fator negativo para o jogo. Pelo contrário, o jogo evita ser desnecessariamente inchado e o mistério como um todo acaba se tornando mais interessante graças ao tempo que gastamos aprendendo sobre os personagens e suas condições de trabalho.
O único porém fica por conta do próprio protagonista. No início do jogo, temos uma apresentação de sua situação de vida, mas isso acaba não voltando mais à tona. Ao final, fica a sensação de que a obra como um todo é um caso qualquer na vida dele e que talvez haja espaço para trabalhar a sua história pessoal melhor em outro momento. Porém, essa é uma escolha de escopo bastante compreensível.
Um escritório e vários segredos
Em termos de gameplay, precisamos conversar com os personagens e interagir com objetos do cenário para conseguir pistas. Podemos usar mouse, teclado ou um controle; e é possível remapear botões no menu.
Além do diálogo, podemos investigar a aparência dos personagens para obter informações. A ideia é passar uma lupa por cima de uma imagem ampliada deles e detectar pontos de interesse. Por exemplo, com a lupa podemos notar que o olho de um personagem está lacrimejando ou um detalhe na roupa que não é visível no sprite comum.
Essa forma de vasculhar também se aplica a alguns objetos do cenário. Assim, podemos ler post-its na parede, conferir o computador dos personagens e descobrir os detalhes de outros objetos.
Em ambos os casos, podemos encontrar três pistas em cada investigação desse formato. A lista é apresentada na lateral direita da tela e podemos fechar antes de vasculhar tudo e voltar depois. Efeitos visuais e sonoros indicam quando passamos com a lupa por cima de um objeto de interesse ainda não visto.
As palavras-chave que encontramos podem depois ser usadas nas “Deducktions”, que são missões parciais da investigação. A cada ponto da trama, precisamos descobrir algo, sendo necessário preencher frases com as palavras corretas. Já tendo deduzido a nova informação, o jogador avança na trama.
Um ponto que ajuda bastante esse sistema é que já podemos ver a quantidade de palavras que são potenciais respostas para cada missão e quantas já obtivemos. Em alguns momentos, quando concluímos as buscas, o próprio detetive menciona que já tem tudo em mãos para investigar, lembrando o jogador de abrir o menu.
Caso tenha dificuldade para encontrar algumas respostas, o jogo também conta com um sistema de dicas. Pensando na diversidade de públicos de títulos de mistério, a desenvolvedora colocou duas dificuldades.
Quem não tem muita experiência no gênero ou simplesmente prefere dicas mais claras, pode optar pelo Story Mode. Já quem quer apenas dicas sutis, pode optar pela outra dificuldade. Em ambos os casos, é possível jogar sem usar o sistema, porém é possível ficar um pouco perdido com a resolução de alguns puzzles que intencionalmente não são explicados, como o cofre na sala do chefe.
Os sistemas de investigação do jogo são simples, mas fantásticos. É muito divertido interagir com todos os itens e aprender mais sobre o mundo, então senti que a experiência valoriza bastante a vontade de vasculhar todos os cantinhos.
Uma experiência concisa e bem projetada
Prós
- Mistério bem apresentado e recheado de reviravoltas curiosas;
- Ambientação charmosa de um mundo com estilo fofo, visual colorido e personagens de recorte de papel;
- Trama verdadeiramente engraçada graças a um roteiro recheado de piadas e boas performances dos atores de voz;
- Bons puzzles, com uma mecânica de dedução fácil de entender e falas curiosas que motivam a interação com todos os itens possíveis.
Contras
- A obra acaba não aproveitando tão bem os detalhes de vida do protagonista apresentados na introdução.
Duck Detective: The Secret Salami — PC/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Happy Broccoli Games
