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Análise: Astor: Blade of the Monolith (Multi) é uma aventura atraente, mas essencialmente medíocre

O primeiro título de consoles e PC da C2 Game Studio peca pela repetitividade e decisões estranhas de game design.

Desenvolvido pela C2 Game Studio, Astor: Blade of the Monolith é um jogo de ação e aventura com diversos elementos inspirados em títulos hack and slash, com a promessa de um mundo no estilo de The Legend of Zelda. O que parece ser uma premissa para uma aventura, no mínimo, divertida, acaba se tornando tediosa e ambiciosa demais para o escopo do projeto.

O espiritismo das máscaras

O planeta Gliese é habitado por criaturas conhecidas como Diokek, seres místicos criados por uma raça ancestral chamada de Criadores, que desapareceu há algum tempo. O lugar passou por uma era pacífica mesmo após o sumiço deles, mas a paz foi interrompida com o surgimento dos Hiltsk, uma raça selvagem que começou a causar caos por onde passava.

Em busca de uma solução para a situação, Astor e seu amigo Zan acabam encontrando um templo que parece fornecer pistas sobre o paradeiro dos Criadores. Logo na entrada, Astor cai em uma sala secreta e recebe poderes misteriosos que, segundo lendas, seriam concedidos ao Escolhido. Com esses poderes em mãos, o jovem guerreiro deve descobrir mais sobre sua raça, seus mestres, quem está por trás da agressividade dos Hiltsk e como acessar o Monólito, a promessa de solução para todos os problemas.

A história é contada por meio de diálogos com diversos personagens encontrados ao longo da aventura, incluindo outras espécies habitantes do planeta. Apesar de a narrativa não ser muito elaborada e cair em vários clichês, a cultura dos Diokek e suas personalidades são interessantes de acompanhar. As legendas estão traduzidas para português, mas apresentam alguns erros devido à falta de contextualização do texto original — como o nível de dificuldade “hard” ser traduzido como “duro”.

Controlamos Astor por diversos lugares de um colorido mundo, com foco em cores contrastantes e no uso de iluminação para apresentar localizações deslumbrantes, pelo menos nas áreas florestais. Naturalmente, regiões nevadas e mais artificiais não são tão vistosas, mas a parte visual consegue entregar uma ambientação interessante.

O jogo se divide entre áreas abertas e templos que servem como dungeons. Infelizmente, as regiões mais vastas servem mais para a ambientação do que para a jogabilidade, já que paredes invisíveis nos limitam ao explorar campos e desertos, apenas havendo alguns itens e missões secundárias espalhadas por aí.

Um combate competente numa estrutura repetitiva

A estrutura do mundo revela o maior problema da aventura do Escolhido. Astor: Blade of the Monolith é focado no combate, e boa parte das melhorias que recebemos adicionam ao nosso leque de habilidades contra as ameaças. Inspirado em jogos como Devil May Cry e Bayonetta, podemos construir nossos combos com base em ataques leves e pesados, além de adquirir, logo no início, um laser de longo alcance que serve para prolongar as sequências e lidar com inimigos voadores.

Ao longo da campanha, temos uma seleção limitada de aprimoramentos que podem estender os combos de Astor, aumentar o dano causado ou oferecer novos ataques. Para adicionar alguma variedade ao combate, quatro armas diferentes são oferecidas conforme progredimos, embora a manopla e a espada inicial sejam as mais eficientes. Além disso, temos um escudo de defesa que, se ativado no momento certo, serve como um parry, e uma esquiva que pode desacelerar o tempo se for executada antes de um ataque inimigo — semelhante ao Witch Time da série Bayonetta.

Também contamos com Constructos, habilidades especiais, como invocar um bloco de pedra sobre os inimigos ou uma barreira rotatória ao redor do protagonista. Com exceção da primeira, são opcionais e têm altos tempos de recarga, mas podem ajudar em alguns momentos. Poucas habilidades de mobilidade são dadas ao jogador, com a principal sendo a bolha para o reino dos espíritos que materializa ou faz desaparecer plataformas e paredes — e pode ser usada para ganhar mais ataque, em troca de uma barra de vida menor.

A sensação do combate, em geral, é competente, mas parece que tentaram incluir diversos elementos comuns de jogos de ação ao mesmo tempo, sem se preocupar com a coesão entre as mecânicas. Apenas ficar “apertando botão” aleatoriamente já resolve os combates sem dificuldade, com os chefes exigindo um pouco mais do jogador.

A repetitividade de Astor: Blade of the Monolith é constante devido à estrutura de jogo. Estamos sempre enfrentando uma variedade muito baixa de inimigos e chefões, correndo por áreas vazias e sendo interrompidos constantemente por diálogos. Alguns resquícios de quebra-cabeças aparecem vez ou outra, mas não passam de atividades como apertar um botão ou atirar em um cristal para abrir passagem. Como o combate não conta com o espetáculo visual e belas animações a favor, a aventura não se sustenta por muito tempo.

Outro fator que comprova a estrutura duvidosa são as missões secundárias. Cada capítulo que conta com áreas abertas possui algumas tarefas que devem ser cumpridas naquele momento e, caso sejam deixadas para depois, você não pode voltar para solucioná-las sem ter que reiniciar um capítulo. Ativei duas missões na região de neve e elas ficaram na interface do começo ao fim, pois achei que poderia voltar mais tarde sem problemas.

Tive alguns problemas técnicos, como o progresso ficar travado após um objetivo, ficar preso no chão ou ter a movimentação bloqueada, necessitando que eu levasse dano para meu personagem sair do lugar e voltar ao normal. No entanto, muitos dos bugs podem ser consequência da versão pré-lançamento.

Um jogo promissor, mas estruturalmente desinteressante

Astor: Blade of the Monolith sofre as consequências de um escopo que parece grande demais para a capacidade da equipe. Apesar do combate ser diversificado pelas melhorias e armas adquiridas, e da ambientação ser vistosa, a campanha se torna cada vez mais desinteressante e prolongada, sem apresentar variedade suficiente para manter o jogador engajado. O resultado é um jogo vazio que, apesar de não ser exatamente ruim, não traz nada de especial.

Prós:

  • Mundo bonito, especialmente as áreas de florestas com belas iluminações;
  • Sistema de combate competente, ao menos nas primeiras horas;
  • Apesar dos clichês, a lenda por trás do mundo de Gliese e seus habitantes é interessante.

Contras:

  • O combate acaba se perdendo ao tentar adicionar ferramentas demais que não casam fluidamente;
  • Animações desengonçadas deixam o combate desinteressante;
  • A ausência de puzzles interessantes e variedade entre lutas deixam a estrutura do jogo extremamente repetitiva;
  • Trilha sonora nada memorável, que não se destaca para a ambientação;
  • Áreas abertas vazias, com um sistema de missões secundárias limitado;
  • Erros de contexto na localização em português.
Astor: Blade of the Monolith — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital fornecida pela Versus Evil

Estudante de enfermagem de 24 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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