No mundo do entretenimento é comum obras de grande sucesso serem adaptadas para outras mídias. Quadrinhos acabam virando filmes, livros acabam virando séries e, no fim, tudo acaba virando videogame. Durante as décadas de 1990 e 2000, um fenômeno bem peculiar acontecia no jogos eletrônicos, centenas de filmes famosos — e não tão famosos — acabaram ganhando adaptações para os videogames, algumas excelentes e outras não tão boas. Ótimos exemplos desse fenômeno são: Enter the Matrix, X-Men Origins: Wolverine, GoldenEye 007, Spider-Man 2 e Wanted: Weapons of Fate.
Em 22 de agosto de 2008, foi lançado no Brasil O Procurado. Dirigido por Timur Bekmambetov, o filme é uma adaptação do quadrinho de mesmo nome lançado em 2003. Apesar de as histórias do quadrinho e do filme serem diferentes, a premissa e os personagens são os mesmos em ambas as obras.
A obra conta a história de Wesley Gibson, um homem que odeia sua vida, tem um emprego ruim e uma namorada que o trai com seu melhor amigo, mas não faz nada para mudar essa situação. Ao invés disso, prefere manter a vida pacata e ficar longe de problemas.
Mas um dia — sempre há um dia — ele percebe que não é tão normal quanto imaginava. Wesley descobre que em seu sangue corre uma habilidade extremamente rara que o possibilita fazer coisas incríveis, como curvar balas.
Um grupo de assassinos conhecidos como “A Fraternidade” recruta Wesley e o treina para despertar o seu verdadeiro potencial e ver até onde suas habilidades podem chegar. E é com essa premissa que a obra se desenvolve.
Para não estragar as surpresas dos que quiserem ver o filme, não haverá spoilers neste texto.
O filme é bom, mas e o jogo?
Em seu lançamento, O Procurado foi um sucesso de bilheteria, arrecadando cerca de 352 milhões de dólares, mas infelizmente o filme nunca teve uma sequência, o que acabou deixando os fãs muito frustrados.
Porém, para os amantes de videogames a história é diferente. No ano seguinte, em 23 de março de 2009, a desenvolvedora sueca Grin ficou responsável por lançar uma adaptação do filme, mas, diferente do que todos esperavam, ele seria uma sequência direta, contando o que aconteceu após o final do filme e colocando Wesley em novas aventuras.
No entanto, apesar de a história ser interessante, o que mais chama a atenção em Weapons of Fate é a sua jogabilidade. O maior desafio de adaptar um filme para os videogames é traduzir de forma satisfatória e jogável algo que antes só assistimos, e ele faz isso com maestria.
À primeira vista o jogo aparenta pegar muitas inspirações de Gears of War, um jogo de tiro em terceira pessoa de se esconder atrás do murinho, mas ele tem coisas que o tornam especial. A sensação de tiro é extremamente satisfatória. O simples ato de atirar com os diferentes tipos de pistolas que o jogador desbloqueia no decorrer da jornada é inexplicavelmente bom. Mas, sem dúvidas, a melhor parte do jogo é poder curvar as balas.
Se você assistiu ao filme, sabe que os personagens precisam acumular uma certa quantidade de concentração para usar suas habilidades. No jogo, essa concentração é adquirida matando uma certa quantidade de inimigos. Com o nível de concentração no máximo, você pode atirar uma bala curva, ideal para acertar inimigos atrás de muros.
Essa habilidade faz toda a diferença durante o gameplay, já que os inimigos são espertos e vão se esconder sempre que puderem.
Mas Wesley não irá lutar apenas contra inimigos normais. Ao final de cada fase, o jogador terá que enfrentar chefes que possuem habilidades parecidas ou totalmente diferentes das suas, dando um pouco de variedade ao gameplay de apenas andar para frente e atirar.
É bom, mas faltou dinheiro
A Grin não é uma desenvolvedora muito conhecida por sua qualidade. No seu portfólio, o estúdio conta com jogos como Bionic Commando Rearmed, Terminator Salvation e os portes para PC de Ghost Recon Advanced Warfighter 1 e 2. Todos esses jogos têm uma coisa em comum: eles são ruins.
Wanted foi o primeiro projeto do estúdio a apresentar uma jogabilidade boa, mas é nítido que o jogo teve um desenvolvimento apressado e poucos recursos, já que ele pode ser facilmente finalizado em menos de duas horas; e, mesmo sendo curto, pode ficar enjoativo para alguma pessoas já na metade.
Mesmo apresentando conceitos interessantes que nunca mais foram replicados em outros jogos, como a mecânica de curvar balas, é fato que ele não é um jogo para qualquer um, principalmente para quem não está acostumado com jogos antigos ou medianos.
Vale a pena tirar a poeira do meu console para jogar hoje em dia?
Se você ainda tem um Xbox 360 ou um PS3 pegando poeira e está procurando uma desculpa para religar o coitado, vale muito a pena. Se você pegar esse jogo naquele domingo chato que não tem nada para fazer, é certeza que irá zerar no mesmo dia.
Se você é do PC e não dispensa uma velharia, também vale muito a pena. O jogo roda muito bem em computadores modernos e continua extremamente lindo.
Infelizmente, Wanted: Weapons of Fate não pode mais ser comprado em nenhuma loja digital hoje em dia, podendo apenas ser adquirido por meios alternativos ou cópias usadas. Apesar de ser um bom jogo, ele acabou não atingindo as expectativas da Grin, o que fez o estúdio fechar as portas no final de 2009 e o jogo acabar caindo em esquecimento.
Dificilmente teremos uma sequência de Wanted, seja nos quadrinhos, filmes ou principalmente nos videogames. Mas, apesar dos problemas, é uma obra que vale a pena ser consumida hoje em dia, independente da mídia que você escolher.
Revisão: Ives Boitano