Ryse: Son of Rome (Xbox One/PC) — o primeiro jogo de Xbox One

Relembre o jogo que abriu as portas para uma nova geração.

em 06/04/2024

Em 22 de novembro de 2013, começava a oitava geração de consoles. Naquela época, o Xbox One e o Playstation 4 estavam chegando ao mercado com um universo de novas possibilidades para os jogadores.


Para dar as boas vindas a esse novo universo, alguns títulos ficaram responsáveis por fazer a alegria dos jogadores no primeiro dia dos novos consoles. Enquanto do lado azul da força tínhamos títulos como Knack e Killzone Shadow Fall, do lado verde tínhamos Forza Motorsport 5, Dead Rising 3 e Ryse: Son of Rome.

Geralmente, títulos de lançamentos de consoles não costumam ser lembrados ou ficar para a história. Eles funcionam mais como uma promessa do que está por vir na geração, um vislumbre do que ela irá proporcionar. Mas, infelizmente, nem sempre essa promessa é cumprida.

Novas tecnologias levam tempo para serem aperfeiçoadas e muitas vezes só no final de uma geração recebemos jogos maduros o suficiente que justifiquem a compra de um determinado console.

O resultado disso são jogos que sempre são lembrados por serem os pioneiros, mas que raramente são lembrados por serem bons, e infelizmente Ryse: Son of Rome também foi um jogo que sofreu da maldição do início de geração.

Ele tinha a difícil tarefa de ser o jogo que todos teriam no primeiro dia do Xbox One, e se não gostassem do que vissem, provavelmente comprariam o console da concorrente.

Um desenvolvimento conturbado


Ryse é um daqueles típicos casos de jogos que mudam drasticamente durante sua produção. Apesar de ter sido lançado em 2013, ele começou a ser idealizado em meados de 2006 para o Xbox 360.

Nessa época, a desenvolvedora alemã Crytek, que havia trabalhado no primeiro Far Cry e que futuramente seria conhecida pela trilogia Crysis, uniu forças com a gigante Microsoft para criar um jogo em primeira pessoa ambientado na roma antiga e focado em lutas corpo a corpo.

O jogo foi apresentado pela primeira vez na E3 de 2010 com um trailer conceitual, sendo apelidado de Codename: Kingdoms.


As recepções ao trailer na época foram mistas; enquanto alguns estavam empolgados com uma nova franquia exclusiva nascendo para o Xbox, outros só conseguiam ver mais um jogo de gladiadores genérico.

Foi então que no ano seguinte, na E3 de 2011, o jogo teve sua primeira mudança drástica: ser exclusivo de Kinect. Claro que hoje em dia lembramos do Kinect como uma tecnologia que nunca conseguiu emplacar, mas no auge de 2011, controlar bonequinhos virtuais através de movimentos era  “o futuro”.

Mas os anos foram se passando e fazia cada vez menos sentido lançar o jogo para um console que já estava no fim da sua vida, foi quando veio a segunda mudança drástica: em vez de ser lançado para o Xbox 360, Ryse seria um dos títulos de lançamento do Xbox One e mudaria sua perspectiva para terceira pessoa, algo que seria um problema para um estúdio que em toda a sua carreira fez apenas FPS.


Ryse conseguiu despertar o interesse dos jogadores?


Em seu lançamento, Ryse era um primor tecnológico. Nunca se havia visto um nível gráfico tão elevado em um console antes. Cada aspecto foi trabalhado para deixar o jogador de queixo caído, seja por suas expressões faciais, texturas ou sistema de partículas que só era possível graças à CryEngine 3, mesmo motor gráfico utilizado em Crysis 3.

Mas, infelizmente, toda essa beleza gráfica teve um preço: o de fazer todas as outras partes do jogo não serem tão boas.

A falta de expertise do estúdio em jogos de terceira pessoa é um problema que eles não conseguiram esconder. O gameplay em si não é ruim, porém, não dispõe de uma variedade no combate, o personagem principal não evolui, nem ganha novas habilidades no decorrer da jornada, fazendo com que mesmo sendo extremamente curto — podendo ser finalizado em pouco mais de quatro horas — comece a ficar enjoativo na metade.

Em seu gameplay, o jogo apresenta uma versão simplificada do combate visto na franquia Batman Arkham, que girava em torno de contra-atacar o inimigo no momento certo com o seu escudo para deixá-lo vulnerável a finalizações.

E falando em finalizações: o jogo dá bastante ênfase a elas e não poupa esforços quando o assunto é violência. Os desmembramentos são extremamente detalhados e podem chocar os de estômago mais fraco.

Durante a progressão o jogador acumula XP que pode ser usado para desbloquear novas finalizações cada vez mais violentas, sendo este o único tipo de evolução de personagens que o jogo apresenta.

A ideia do Kinect também não foi totalmente jogada fora (para a infelicidade do jogador). Durante as fases, o jogador pode dar ordens às suas tropas através de comandos de voz que são captados pelo microfone do Kinect, o que na prática é uma ideia boba.

Imagine você sentado no sofá da sala e tendo que gritar comandos como “disparar descarga” ou “tropas, avançar”. Felizmente todos esses comandos são opcionais e podem ser desativados nas configurações do jogo.

Talvez um dos aspectos mais interessantes de Ryse (além dos seus gráficos) seja a sua história, que apesar de simples é bem desenvolvida.


O jogo conta a história do general Marius Titus, apresentando uma visão alternativa da batalha dos romanos contra os bárbaros. Através de alguns flashbacks, o jogador acompanha a trajetória de Marius indo desde um simples soldado a general do império romano.

Um ponto que vale ser destacado é que na versão de Xbox One o jogo está totalmente em português do Brasil, contando com uma excelente dublagem. Infelizmente, a versão de PC não contém dublagem em português, apenas legendas.

O jogo também conta com alguns modos online que, por incrível que pareça, ainda funcionam hoje em dia, podendo ser jogado em até dois jogadores contra hordas de inimigos. Se você gostou muito do loop de gameplay de defender no momento certo e contra-atacar, pode disparar descargas online junto com seus amigos.

Mas vale a pena jogar hoje em dia?


Se você é dono de um Xbox One ou Series S|X, eu diria que ele é um título recomendado, mas não obrigatório. Se você está naquele domingo chato que não tem nada para fazer e não sabe o que jogar, vale experimentar. É bem provável que você o termine no mesmo dia ou se canse no primeiro comando de voz não reconhecido pelo console.

Se você joga no PC, o jogo sempre aparece por R$ 5,00 nas promoções do Steam. E por esse preço ele é mais do que recomendado.

É nítido que Ryse: Son of Rome foi um jogo feito às pressas, por uma equipe que não tinha experiência em jogos de terceira pessoa, para acompanhar o lançamento de um novo console, o que gerou um jogo que se sustenta apenas em seus aspectos gráficos, sendo quase uma tech demo disfarçada de AAA.

Talvez nunca vejamos Ryse em listas de melhores jogos do Xbox ou melhores jogos da história. Ele não foi revolucionário, não ganhou prêmios e foi esquecido até mesmo pelos fãs da caixa verde, mas que ainda pode ser divertido para uma pequena parcela de jogadores que deem uma chance a ele.

Revisão: Vitor Tibério


Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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