Recentemente a Sony anunciou uma pausa da produção do PlayStation VR2, o acessório de realidade virtual de última geração para o console PlayStation 5, devido ao baixo número de vendas. Isso me fez pensar sobre o motivo do encalhe do aparelho e se, nesse contexto, valeria a pena possuí-lo, especialmente porque também recentemente foi anunciado que a Sony está desenvolvendo uma atualização que permitirá o uso do equipamento em PCs.
Eu testei o PS VR2 por conta própria, para tirar minhas próprias dúvidas a respeito desse sistema e chegar às minhas próprias conclusões, e vou dividir minhas impressões nesse texto.
Olhos nos olhos
O PS VR2 é um aparelho bonito, com excelente qualidade de construção, que mantém a identidade visual dos produtos PlayStation. Seu design minimalista em plástico branco é agradável à vista. O headset pesa aproximadamente 560 g e, além do visor, conta com dois fones de ouvido intra-auriculares integrados.
O aparelho apresenta uma série de melhorias em relação ao seu antecessor, atacando especificamente pontos críticos que eram frequentemente citados no modelo para PS4. Agora é necessário um único cabo USB C, que vem preso ao aparelho. Ele é bastante longo (4,5 m) e ao contrário do que eu pensava, na prática não atrapalha em nada o seu gameplay. Você literalmente esquece que ele está lá, é como se ele não existisse.
As telas internas foram o maior salto tecnológico em relação ao aparelho anterior. Elas apresentam agora uma resolução de 2000 x 2040 pixels para cada olho, com um campo de visão ampliado para 110 graus e tecnologia OLED, que proporciona contraste infinito e pretos extremamente realistas. Isso é excelente para jogos com atmosfera sombria, como o Resident Evil 4 Remake, ou para corridas noturnas no Gran Turismo 7. São dois monitores 4k OLED com taxa de quadros de 120 Hz, um para cada olho.
O rastreamento é feito por quatro câmeras integradas ao headset, dispensando o uso de acessórios externos para esse fim. Além disso, uma novidade interessante é a tecnologia Eye Tracking, que utiliza uma câmera interna para rastrear o movimento dos seus olhos. Isso ajuda a selecionar itens e mostra com mais detalhes os elementos dentro do jogo em que você fixa o olhar.
Por fim, o headset possui um sistema de feedback háptico próprio, que é usado em alguns jogos para aumentar a imersão durante o gameplay. Sentir um feedback tátil na cabeça é algo bastante inusitado e incomum na história dos videogames.
Controles
Os controles VR Sense são outra inovação de destaque no novo sistema. Eles encaixam super bem na mão, de forma extremamente natural, e possuem as mesmas tecnologias de feedback háptico e gatilhos adaptáveis do controle Dual Sense, o que por si já torna esses controles fenomenais.
É possível encaixá-los só pelo tato, mas o visor possui um modo de busca, que permite visualizar seu ambiente através das câmeras. Esse modo funciona muito bem, é como se a lente frontal do headset fosse transparente, exceto pelo fato que a imagem transmitida é toda em preto e branco. Infelizmente não funciona no escuro.
A bateria dos controles oferece quatro horas de autonomia, muito mais que o necessário para uma jogatina “normal” em realidade virtual, que costuma ser de aproximadamente uma hora. A recarga completa leva duas horas, mas cerca de quinze minutos de carga já são suficientes para uma jogatina padrão.
É incômodo ou pesado? Dá pra usar com óculos?
Em comparação a outros aparelhos de realidade virtual que já experimentei, o PS VR2 é bastante leve e confortável. Ele fica bem balanceado na cabeça e quando ajustado corretamente, pode ser usado por bastante tempo sem desconforto.
O espaço interno do visor é bastante amplo e pela minha experiência de uso dá pra jogar confortavelmente com óculos, mesmo que eles sejam grandes. A distância entre as lentes internas e seus óculos é suficiente para não haver risco de ambos se arranharem. Eu tenho sete graus de miopia e infelizmente não consegui ajustar a regulagem de foco para conseguir usar o PS VR2 “a olho nu”.
Um incômodo que senti durante a jogatina é que, durante os dias de muito calor, a lente dos meus óculos embaçam após uns vinte minutos de uso, me obrigando a parar. O headset possui um sistema de respiros que impede que as lentes internas do PS VR2 embacem, mas infelizmente esse sistema não é suficiente para impedir que isso aconteça com as lentes dos meus próprios óculos. Em dias de clima frio ou ameno, as lentes demoram muito mais para embaçar, permitindo jogatinas de aproximadamente uma hora.
Dá enjoo? Seu uso cansa?
A única vez em que senti um pouco de enjoo foi durante um combate mais intenso em Resident Evil 4 Remake, em que eu precisei me movimentar muito rapidamente. Na maior parte da minha experiência não senti tonturas ou enjoo, eu consegui jogar sessões longas, de aproximadamente uma hora, com Gran Turismo 7 e Horizon Call of the Mountain sem problema algum.
Isso certamente é um assunto que varia de pessoa para pessoa, pois meu irmão ficou enjoado com uma sessão simples de míseros 5 minutos dirigindo em Gran Turismo 7, algo que achei estranho pois é um game que se joga sentado e, pelo menos para mim, nunca foi desconfortável. Parece muito com a experiência de jogar no Nintendo 3DS com a tela de 3D ligada, algumas pessoas conseguem jogar sem problemas por horas, outras sentem enjôo muito rapidamente.
Em média, eu consigo fazer sessões de aproximadamente uma hora de jogo antes de sentir algum cansaço. Por mais que seja confortável, o PS VR2 ainda é um trambolho de meio quilo pressionado contra a sua cara, então em algum momento o gameplay cansa mesmo que você não sinta enjoo. E, no meu caso, o maior limitante é que em algum momento as lentes dos meus óculos acabavam embaçando, impedindo um gameplay mais prolongado.
O catálogo é bom? Dá pra jogar com jogos que não são VR?
Uma das maiores mancadas no novo aparelho é a falta de retrocompatibilidade com jogos do PS VR original. O vice-presidente senior de Experiência de Plataforma da Sony, Hideaki Nishino, afirmou no episódio 439 do podcast oficial que “Jogos do PS VR não são compatíveis com o PS VR2 porque o PS VR2 foi desenhado para entregar uma verdadeira experiência de realidade virtual de nova geração”, uma desculpa que, pelo menos para mim, não cola. O aparelho claramente poderia entregar uma experiência de nova geração e ser retrocompatível com jogos VR anteriores, já que uma coisa não anula a outra.
Apesar dessa limitação, a biblioteca disponível para o PS VR2 é bastante robusta, contando com 265 títulos no momento em que escrevo este texto. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o PS VR2 vai além dos simuladores de montanha-russa e rail shooters. Ele possui um catálogo vasto com jogos de diversos gêneros, como roguelike (Timeless Heart VR), simuladores de vôo (Aces of Thunder), social games (Amon Us VR), construção de cidades (Cities: VR), puzzle de ação (Tetris Effect Connected) e muitos outros. Muitos jogos já acompanham seus títulos base como “extras”, não exigindo uma compra à parte para desfrutar a experiência, como é o caso de Resident Evil 4 Remake e Gran Turismo 7.
Além disso, o PS VR2 oferece a possibilidade de jogar games convencionais (não VR) usando o Modo Cinematográfico, que simula uma tela gigante na frente do usuário. Na prática, a sensação é bastante parecida com jogar em uma tela de cinema. Além dos jogos, também é possível assistir a conteúdo de mídia, como vídeos no YouTube e Crunchyroll.
Vale a pena?
Indo direto ao ponto, pra maioria das pessoas a resposta é não. Trata-se de um acessório de luxo que exige um PS5 para funcionar e que aparentemente não possui uma perspectiva muito boa por parte da Sony para desenvolvimento de novos exclusivos de peso.
Por outro lado, o PlayStation VR2 oferece uma experiência única em consoles, já possui exclusivos interessantes em sua biblioteca e, apesar de seu custo elevado, oferece um hardware tecnologicamente bastante avançado pelo preço que se paga. Para o seu nicho específico de usuários, as pessoas que gostam simultaneamente de exclusivos PlayStation e tecnologia VR, é um acessório que oferece uma ótima experiência.
Para os interessados eu diria que convém acompanhar as próximas notícias a respeito do aparelho. Se o suporte a PC for confirmado e se mostrar funcional (não exigir configurações malucas de hardware ou software) ou se forem adicionadas novas funções como retrocompatibilidade com PS VR original, aí eu diria que a compra fica muito mais interessante.
Revisão: Vitor Tibério