Lembro-me como se fosse ontem quando a Sony revelou que Horizon Zero Dawn — um dos títulos first-party mais aclamados do PlayStation 4 — ganharia uma versão para os computadores. Como bem sabemos hoje, o surpreendente anúncio acabaria se tornando um dos primeiros e mais fortes símbolos de uma mudança de estratégia significativa para a gigante japonesa, que nos anos seguintes passou a adaptar os seus principais jogos para a plataforma, inclusive criando uma publicadora específica para a missão: a PlayStation PC.
Pois bem, quase quatro anos após a estreia da obra-prima da Guerrilla Games nos computadores, é a vez da sua elogiada sequência Horizon Forbidden West chegar aos PCs, sob a alcunha Complete Edition. Com diversas opções gráficas, suporte a tecnologias como DLSS, FSR e XeSS e a expansão Burning Shores incluída, este é um ótimo port de um dos melhores jogos da Sony e desta geração. Confira a análise.
O retorno da Salvadora
Aviso: os parágrafos a seguir contêm spoilers da história de Horizon Zero Dawn. Logo, caso ainda não tenha jogado a primeira aventura e esteja interessado somente na análise técnica desta adaptação, recomendo avançar para a próxima seção.
Horizon Forbidden West é uma sequência direta do primeiro Horizon, passando-se em 3041, seis meses após os eventos que culminaram na batalha com a inteligência artificial HADES e na descoberta de que Aloy é na verdade um clone da cientista Elisabet Sobeck, a principal responsável pelo sistema de terraformação Zero Dawn.
Graças ao triunfo sobre HADES, Aloy hoje é reconhecida como a Salvadora de Meridiana por grande parte da população. Porém, a sua missão maior ainda está longe do fim: com uma peste violenta se espalhando pela Terra, a protagonista começa a vasculhar instalações antigas em busca de um backup ou pistas da GAIA, a inteligência responsável pelo controle do Zero Dawn e capaz de reverter o prognóstico de deterioração do planeta.
É justamente em uma dessas expedições que a caçadora acaba descobrindo que o HADES não foi completamente desligado e a humanidade, surpreendentemente, continua sob risco — inclusive, maior do que o imaginado até o momento.
Agora, a sua missão é descobrir o que está por trás dessas ameaças e restaurar a ordem e o equilíbrio do mundo, inclusive viajando às terras distantes do Oeste Proibido, onde guerreiros e máquinas ainda mais perigosas que as do primeiro jogo habitam. Preparado(a)?
Maior, melhor e mais impactante
O fato de a história de Forbidden West ser uma continuação direta faz com que, sim, o ideal seja jogar a primeira aventura de Aloy antes. Desta forma, também torna-se mais fácil apreciar as várias novidades preparadas pela Guerrilla para este título, como os novos itens de exploração (destaque para o gancho e o planador), as novas armas para a guerreira e a exploração subaquática tão evidenciada nos trailers.
Assim como em outras sequências com o selo PlayStation Studios, notadamente God of War: Ragnarök (PS4/PS5) e Marvel’s Spider-Man 2 (PS5), o que temos aqui não é exatamente uma revolução, mas sim uma ampliação de tudo o que já deu certo no primeiro jogo, com adições pontuais. Portanto, caso já tenha familiaridade com a saga, espere continuar a aventura em outro belo e impressionante mundo aberto, aproveitando melhorias no combate tanto com arco, quanto à curta distância, missões mais variadas e ainda mais inimigos — humanos e máquinas — para enfrentar.
De fato, a evolução é tão considerável e perceptível que, mesmo que Zero Dawn não tenha capturado a sua atenção, eu recomendaria dar uma chance a Forbidden West. Se o primeiro título demora a engrenar (podendo inclusive desmotivar graças ao seu início arrastado), aqui com aproximadamente uma hora de jogo você já estará explorando terras inóspitas à la Uncharted/Tomb Raider e enfrentando criaturas como o Rastejador — uma máquina de combate em formato de cobra e tão grande quanto letal.
Há até uma recapitulação em vídeo da história, caso você não lembre de todos os acontecimentos anteriores ou este seja o seu primeiro contato com a franquia. “Maior, melhor e mais impactante” é, então, um clichê que se aplica perfeitamente a esta sequência: da história à apresentação cinematográfica, é honestamente difícil não ser continuamente cativado por tudo o que é apresentado no monitor.
Dito isto, convém observar que os pontos negativos destacados em nossa análise original do jogo continuam bem perceptíveis mesmo com as diversas atualizações desde o seu lançamento original, como a ocasional (e frequentemente irritante) arrogância da Aloy em relação a outros personagens e as fraquíssimas mecânicas de escalada.
Sobre esse último tópico, na prática, acaba sendo praticamente obrigatório recorrer ao Foco para descobrir onde a guerreira pode se apoiar e nem sempre os comandos de salto entre plataformas são correspondidos na tela, o que acaba quebrando a imersão e contrastando com a qualidade de outros elementos mais responsivos da obra, como o combate.
Considerando que jogos mais antigos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Switch/Wii U) já mostraram há tempos como tornar a mecânica de escalada mais imersiva e intuitiva para o jogador, não faz muito sentido a Guerrilla Games ter optado por verticalidades confusas e frustrantes. Pelo menos agora no PC podemos ajustar o campo de visão para ajudar a enxergar alguns detalhes, o que nos leva ao próximo assunto: a qualidade e as funcionalidades desta adaptação para os computadores.
Um ótimo port para os computadores…
Horizon Forbidden West foi lançado tanto para PlayStation 4 quanto para PlayStation 5, o que indicava uma certa flexibilidade da obra para atender diferentes configurações de hardware. Essa característica se confirmou na versão de PC, cujos requisitos oficiais englobam desde placas de entrada como a RX 5500XT e a GTX 1650, até titãs modernos como a RTX 4080, do lado da NVIDIA, e a RX 7900XT, da AMD (a única obrigatoriedade é a instalação em um SSD para uso do Direct Storage, algo cada vez mais compreensível nos tempos atuais).
Para esta análise, utilizei o meu PC principal, com um Ryzen 7 5700x, 16GB de RAM a 3200MHz e uma RTX 3060 de 12GB, o que enquadraria a experiência entre a “recomendada” (média) e a “alta”, segundo os próprios desenvolvedores. De fato, foi o que aconteceu: no preset médio do jogo e com o apoio do DLSS no modo qualidade, a taxa de quadros se manteve sempre acima dos 80 frames por segundo em 1080p, proporcionando uma experiência bonita, fluida e bem agradável.
Já no preset alto, foi possível identificar uma variação de aproximadamente dez a quinze quadros por segundo dependendo da complexidade da cena, trazendo a performance para a casa dos 60 a 70 quadros por segundo, também em 1080p. O interessante é que no próximo nível, alterando do preset alto para o “muito alto” (máximo), não observei um impacto tão grande como o anterior na performance. Ainda assim, com quedas mais acentuadas para a casa dos 50 quadros, o ideal para conservar a fluidez seria ficar realmente entre os presets médio e alto no caso de placas de poder próximo à RTX 3060, na minha opinião.
Algo muito interessante e digno de elogios é que, assim como em outros ports da Sony, como Marvel’s Spider-Man Remastered (cuja adaptação também foi conduzida pela Nixxes e também tive o prazer de analisar), o menu de configurações gráficas exibe as alterações na tela em tempo real. Dessa forma, é possível alterar individualmente cada um dos mais de quinze parâmetros selecionáveis, como sombras, reflexos e campo de visão (FOV), e notar instantaneamente o seu impacto na performance e na qualidade visual do título, permitindo ao jogador encontrar a sua “cena ideal”, caso assim desejar.
…com algumas pequenas omissões.
Como anunciado antes do lançamento, esta adaptação também conta com alguns recursos exclusivos, como suporte a altas taxas de quadros por segundo (acima dos 60 fps oferecidos pelo PlayStation 5), resoluções ultrawide (21:9) e super ultrawide (32:9) e três monitores (48:9). Também há suporte aos elogiados recursos do DualSense, mapeamento de teclas — caso prefira jogar com mouse e teclado — geração de quadros via DLSS 3 (recurso exclusivo da série 4000), DLAA e Reflex, caso você possua uma placa da NVIDIA com esses recursos.
Dito isso, embora o port esteja em ótimas condições, senti falta de algumas outras implementações mais técnicas, especialmente do novo FSR 3, que insere quadros interpolados à renderização tornando a jogabilidade mais fluida sem perda significativa de qualidade de imagem (há somente suporte ao FSR 2.2 na versão atual).
Vários títulos recentes, como Starfield (PC/XSX) e Avatar: Frontiers of Pandora (Multi) já oferecem a tecnologia da AMD em suas versões de PC, e seria bem interessante ter visto e testado ela aqui, principalmente porque o jogo já conta com a geração de quadros da NVIDIA (lembrando, o recurso é exclusivo da série 4000). Há a promessa da NIXXES de que o FSR 3 chegue ao jogo em breve, no entanto.
Infelizmente, também não há uma ferramenta interna de benchmark. Esta omissão me chamou a atenção porque a versão de PC de Horizon Zero Dawn conta com uma e eu esperava revê-la aqui. Não é algo extremamente significativo ou que comprometa a qualidade da adaptação — muito longe disso — mas, em termos de funcionalidade e recursos, Returnal (PC/PS5) continua sendo o “menino de ouro” e o port da Sony a ser superado, na minha opinião.
Para encerrar em uma nota positiva, porém, convém lembrar que, além de extras como a trilha sonora e a história em quadrinhos oficial, a expansão Burning Shores, exclusiva de PS5, está inclusa nesta Complete Edition, adicionando pelo menos mais sete horas de (bom) conteúdo a um jogo que já é extenso por natureza. Também convém destacar que o preço recomendado aqui no Brasil na versão digital é menor no Steam e na Epic Games Store que na PSN — sempre um ponto positivo para quem escolheu esperar e não aproveitou o game no console da Sony.
A versão definitiva de um dos melhores jogos da geração
Horizon Forbidden West Complete Edition é mais um ótimo port da Sony e mais um acerto da iniciativa PlayStation PC. Com uma vasta quantidade de opções gráficas ajustáveis, suporte a altas taxas de quadros e notável escalabilidade, a sequência da história da Aloy impressiona e se firma não somente como um dos jogos mais belos de todos os tempos, mas também como uma obra recomendável a todos os entusiastas de uma boa aventura em um fascinante mundo aberto.
Tendo em vista a qualidade da adaptação, posso afirmar: esta não é somente a edição completa como anunciado, mas sim a definitiva. A paciência, neste caso, foi recompensada.
Prós
- Amplia de forma maestral o fantástico universo mostrado no primeiro jogo com adições incrementais, como a exploração subaquática, que justificam a existência desta sequência;
- Apresentação e qualidade visual e artística do título estão entre as mais impressionantes da indústria e devem ser referência para testes futuros do poder de placas de vídeo e processadores;
- Suporte a altas taxas de quadro, resoluções ultrawide, recursos do DualSense e tecnologias específicas do PC, como DLSS, tornam esta a versão definitiva do título, dependendo do seu hardware;
- Inclui a expansão Burning Shores e extras como a trilha sonora.
Contras
- A ocasional arrogância da protagonista pode incomodar em algumas partes da narrativa;
- Mecânica de escalada e seções de plataforma são confusas e frustrantes, tornando praticamente obrigatório o uso do Foco para conseguir prosseguir;
- Sem suporte a FSR 3 no lançamento;
- A ausência de uma ferramenta de benchmark interna é estranha, dada a sua presença no port de Horizon Zero Dawn.
Horizon Forbidden West Complete Edition — PC/PS5 — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC