Star Gladiator — Episode 1: Final Crusade (Arcade/PS) é a primeira tentativa da Capcom nos jogos de luta 3D

Relembre os combates interplanetários com toques de Star Wars e anime.

em 14/04/2024
Na era dos jogos de luta, a Capcom produziu poucos títulos que exploravam suas especializações no combate 1v1 em ambientes tridimensionais. Apesar da criatividade ao se afastar do tradicional, seja na temática, como em Rival Schools (Arcade/PS), ou na jogabilidade, como em Power Stone (Arcade/DC), nada se comparava ao legado de seus charmosos jogos em pixel art.


A primeira tentativa da empresa, no entanto, foi promissora com Star Gladiator — Episode 1: Final Crusade, lançado em 1996 para fliperamas e, pouco tempo depois, para o PlayStation. O jogo explora uma temática de combate entre humanos e alienígenas, com inspirações evidentes em Star Wars — por razões talvez bastante claras.

O futuro é de Plasma

A história de Star Gladiator se desenrola em um futuro distante, no ano de 2348, era em que os humanos conseguiram explorar o universo e estabelecer contato pacífico com diversas raças extraterrestres. No entanto, os terráqueos temiam ser atacados a qualquer momento por seres de outros planetas e, para enfrentar essa incerteza, a Federação da Terra iniciou um projeto de preparação para a possibilidade.

Durante suas pesquisas, o Dr. Edward Bilstein descobriu que era possível utilizar a energia da mente para criar armas, em uma técnica denominada “Poder de Plasma”. No entanto, a Federação da Terra logo descobriu que o cientista havia usado pessoas como cobaias em experimentos terríveis, o que resultou em seu exílio do planeta. Antes disso, a notícia sobre sua pesquisa se espalhou por toda a galáxia, causando instabilidade nas relações interplanetárias.


Como todo tirano exilado, não demorou muito para que Bilstein retornasse, agora liderando seu batalhão conhecido como o Quarto Império, ameaçando a paz do universo. Sem alternativas, a Federação da Terra convocou seres capazes de utilizar o Poder de Plasma para proteger o planeta e toda a galáxia.

A construção da história de Star Gladiator incorpora várias referências da ficção científica, sendo a mais evidente a influência de Star Wars. Curiosamente, há rumores de que o título originalmente deveria ser um jogo de luta baseado na obra de George Lucas, uma história fortalecida por Seth Killian, ex-gerente sênior de comunidade da Capcom, durante o extinto podcast Bit Transmission, do Destructoid.

O estilo encontra a precisão

Star Gladiator se afasta completamente do combate ágil com golpes especiais e segue uma abordagem mais semelhante à de Soul Edge (Arcade/PS1), focando em lutas mais cadenciadas e voltadas aos contra-ataques. O esquema de controle também se assemelha ao jogo da Namco, com dois botões para ataques com armas, diferenciando entre golpes verticais e horizontais, além de um botão para chutes e outro para defesa. As arenas contam com limites de espaço, incluindo a possibilidade de cair para fora da plataforma, o ring out.

Os ataques variam com o uso do direcional combinado com algum ataque e combos, tanto livres quanto em sequências pré-estabelecidas (ou strings, conforme chamado no vocabulário dos jogos de luta). A parte única está na didática de como essas combinações são exibidas, pois a execução delas aparece na interface. Nem todos os combos prendem o inimigo nos ataques, mas o jogador deve prestar atenção na direção em que o golpe está sendo desferido (para cima, meio ou baixo) e como responder.

A parte de defesa também tem seus detalhes. Além do bloqueio tradicional, podemos contar com o Plasma Reverse, que serve tanto para aparar um ataque quanto para realizar um movimento forte para derrubar o oponente. Também temos acesso a um ataque super poderoso chamado Plasma Strike, que só pode ser utilizado uma vez por round.

O ritmo das lutas é lento, com os ataques tendo diversos quadros de recuperação, o que pode provocar um choque para quem está acostumado com jogos mais acelerados. Além de avanços e recuos rápidos, esquivas que usam a profundidade das arenas também podem ser utilizadas, não se limitando a um eixo 2D como em Street Fighter EX.

Os personagens são bem diversificados e cada um possui estilos de luta e armas bem distintos. Temos personagens alienígenas, que são Zelkin (que tem um design iradíssimo), Gamof e Saturn; os seres mutantes como Ramgal, Gore e Kappah, esse último sendo um lutador secreto; e os humanos Hayato, June, Gerelt, Blood (desbloqueável) e Bilstein; além de Vector, um robô. Cada um possui sua própria história e razão para ajudar ou atrapalhar a luta contra o Quarto Império e, em matéria de design, temos uma seleção de personagens bem carismáticos, estilosos e diferentes.

Apresentação galática

Star Gladiator foi originalmente lançado na placa Capcom Sony ZN-1. Em resumo, essa placa era essencialmente um PlayStation com mais RAM, utilizando cartuchos (ROM) como mídia e contando com o Q Sound, um hardware de som amplamente utilizado pela Capcom após a sua placa CPS II. A conversão para o PS1 não demorou muito e era praticamente 1:1 com o original, com a adição de tempos de carregamento devido ao uso de CD.

A Capcom começou com grande destreza técnica no título, apresentando uma visualização deslumbrante, considerando as limitações de hardware da época. A modelagem dos lutadores exibe algumas arestas poligonais e articulações visíveis para os padrões atuais, mas o detalhamento das texturas e elementos adjacentes, como armas e roupas, é impressionante para uma produção de 1996.

Essa qualidade também se estende aos cenários, que optam por priorizar o detalhismo. As arenas são repletas de elementos ao redor, como construções metálicas e naves. A primeira fasedo modo arcade, por exemplo, ocorre em um elevador em movimento, e até mesmo letreiros animados aparecem na segunda.

A consequência dessa abordagem é que o jogo roda a 30 fps, em contraste com os tradicionais 60 fps de jogos como Tekken, que utilizava cenários mais vazios e imagens pré-renderizadas para manter a fluidez. Outro título que seguiu essa decisão foi o já mencionado Soul Edge, que rodava em hardware com o mesmo conceito do ZN-1. 

As músicas são extremamente “estilo Capcom” pelo uso do Q Sound como hardware de som, então aqueles familiarizados com os jogos de arcade da desenvolvedora reconhecerão de cara as guitarras estridentes e bastante energia nas batidas. A trilha vai numa direção mais puxada para o jazz, sendo uma decisão bem curiosa para um jogo com temática espacial, mas também apresenta algumas composições mais grandiosas e orquestrais. No geral, são faixas excelentes e algumas são bem marcantes, e a versão de PS1 fez rearranjos que, apesar de maior qualidade, são instrumentalmente bem parecidos com as originais.

Stage 2 (Arcade)

Stage 4 (Arcade)

Special Stage (PS)

O episódio 1 não é o final

Star Gladiator — Episode 1: Final Crusade é uma interessante produção que ficou esquecida pela enxurrada de jogos de luta da época, mas é importante para o conhecimento técnico da Capcom sobre o 3D, que a partir de 1996 começaria a se tornar mais presente (lembrando que é o ano do primeiro Resident Evil). Hayato e sua turma tiveram mais uma chance dois anos depois, mas que mudou completamente a direção do primeiro título, por bem e por mal. Falarei sobre ele em breve.

Revisão: Davi Sousa

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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