Terra Memoria é um RPG produzido pela La Moutarde e publicado pela Dear Villages ambientado em um mundo fantástico que enfrenta uma grave crise energética. Controlando um grupo de seis heróis, precisamos investigar o misterioso sumiço dos cristais que dão energia à região, enquanto ajudamos cada protagonista a resolver seus próprios problemas.
Os seis heróis de Terra
Terra é um local mágico no qual humanos e animais antropomorfizados viviam em harmonia. O que era para ser um ambiente próspero, com emprego, economia e serviços em pleno funcionamento, tornou-se um caos quando uma misteriosa escassez de cristais, principal fonte de energia do mundo, começou. Como tudo é movido por essa energia, as estruturas das cidades foram colapsadas, causando revolta na população.
Para piorar, robôs conhecidos como Carcaças começaram a despertar das profundezas das cavernas e atacar tudo o que está pela frente. Nesse contexto, conhecemos Moshang, um mago estudioso que procura a solução do problema dos cristais nos livros antigos e um dos responsáveis por defender a cidade de Constância dos ataques das Carcaças.
Moshang logo se une a Syl, uma maga que domina o poder dos espíritos ancestrais de seu clã, e Alto, um famoso bardo da cidade, para investigar a escassez em Terra a pedido do prefeito de Constância. Durante a campanha, outros três heróis se juntarão ao trio: Edson, o humano com braços robóticos; Opala, uma especialista em forjar equipamentos; e Meta, uma entidade milenar que tem a capacidade de se metamorfosear em diferentes criaturas.
Terra Memoria tem uma estrutura linear, dividido em missões principais, focadas no desenvolvimento da história, e secundárias, que nos recompensam com dinheiro e itens, além de nos apresentar melhor o mundo em que estamos. Por sinal, vale destacar que toda a mitologia criada é superinteressante, desde a explicação da importância dos cristais até os problemas comuns de cada cidade.
Além de todos os problemas criados pela escassez, cada protagonista possui sua própria motivação, com suas histórias sendo desenvolvidas a partir das missões que completamos: Syl procura por seus pais desaparecidos; Edson é um estudioso das Carcaças; Opala quer ajudar seu povo, que é dependente da extração dos cristais; Meta deseja entender sua existência; e Alto é apenas um bardo gente boa que quer ajudá-los.
No geral, todos os contextos estão bem amarrados com a questão da história principal. Um ou outro ponto da história acaba sendo pouco explorado, mas não chega a ser um grande problema. Um exemplo disso é a introdução de novos personagens na party, que em alguns casos ocorre sem uma boa apresentação ou com nenhum desenvolvimento de relação entre os demais protagonistas.
Três duplas em combate
Além de uma boa história, Terra Memoria traz um sistema de combate bem elaborado, contando com uma série de sistemas que, quando combinados, permitem que os jogadores elaborem muitas estratégias diferentes. Os confrontos ocorrem em turnos e a ordem dos ataques é definida por uma linha temporal exposta na parte inferior da tela. O personagem com maior atributo de velocidade ataca primeiro e, de acordo com o golpe escolhido, ele é mandado para diferentes posições desta linha — ataques mais fortes te atrasam mais, enquanto os mais fracos, menos.
Os seis protagonistas estão divididos em dois grupos: os atacantes, que contam com Moshang, Syl e Meta; e suporte, com Edson, Opala e Alto. Os atacantes estão na linha de frente do combate, que funciona em um sistema de vantagem e desvantagens elementais. Cada inimigo possui duas fraquezas específicas que podem ser exploradas com diferentes combinações de ataque, aumentando o dano recebido.
O grande diferencial é que os personagens de suporte mudam drasticamente a dinâmica de combate. Em cada luta, eles fazem dupla com um atacante de maneira aleatória atribuindo-lhes uma habilidade especial:
- Alto transforma ataques ofensivos em cura e vice-versa;
- Edson alterna a área dos ataques, modificando a quantidade de alvos;
- Opala muda o elemento de cada golpe: fogo vira gelo, raio vira vento, e assim por diante;
Como nunca dá para saber qual será a dupla do combate, cada jogador consegue ter uma experiência única, principalmente em batalhas contra chefes. Os inimigos comuns são fáceis de derrotar, mas os chefões costumam exigir mais cuidado na escolha dos ataques. Um lado bom é que o grinding é um processo fácil e não exige muito tempo e esforço, ou seja, em caso de dificuldade, não será necessário gastar tempo para aumentar o nível dos personagens.
Um mundo encantador
Terra Memoria chama atenção por conta da qualidade de seus elementos audiovisuais. O cuidado dos desenvolvedores em criar um universo cativante é visto principalmente nos detalhes de cada cidade, desde jardins até as praças com comércios movimentados. Os gráficos mesclam um ambiente 3D com personagens em sprites, que são belíssimos; já a trilha sonora instrumental complementa a ambientação de cada local de maneira impecável.
Efeitos de sombra, luz e partículas se destacam em cavernas e batalhas, deixando tudo visualmente mais impressionante, mesmo que os gráficos não sejam os mais elaborados possíveis. Outro fator interessante é o carisma de cada protagonista, que possuem personalidades únicas e as refletem a partir de suas falas e animações em cutscenes.
As cenas no acampamento também são interessantes, com diálogos únicos que desenvolvem a relação entre os protagonistas. Nesses locais, também podemos cozinhar e forjar broches, resultando em consumíveis que aumentam os status dos protagonistas ofensivos. Junto disso também temos o sistema de criação e construção: em determinado ponto da campanha temos a possibilidade de montar um vilarejo da maneira que bem entendermos. Um único porém desse sistema é a câmera fixa que atrapalha a visualização de alguns elementos espacialmente.
Um RPG surpreendente
Terra Memoria foi uma grata surpresa dentre os jogos que experimentei este ano. Dentro de suas limitações, ele apresentou uma história divertida e instigante, personagens carismáticos e um sistema de combate bem elaborado, que me chamou a atenção pela criatividade e por me obrigar a elaborar diferentes estratégias para cada dupla presente em batalha. Há alguns contratempos no desenvolvimento da história e no processo de construção, mas não são problemas que afetem significativamente a experiência.
Prós
- História envolvente e bem escrita, apresentando um mistério instigante e personagens carismáticos;
- Sistema de combate bem elaborado, com muitas mecânicas que possibilitam diferentes abordagens nos confrontos;
- Elementos audiovisuais impecáveis, com belíssimos efeitos visuais e uma trilha sonora cativante.
Contras
- Em alguns casos, a introdução de novos personagens é mal elaborada;
- A câmera fixa atrapalha os trechos de construção;
- Dificuldade desbalanceada entre inimigos comuns e chefes.
Terra Memoria — PS5/XSX/Switch/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise feita com cópia digital cedida pela Dear Villagers