Jogos também são uma ótima maneira de contar histórias mais profundas. One Last Breath foca seus esforços em uma narrativa séria, em vez de priorizar mecânicas complexas e cheias de variantes. O resultado disso é uma interessante aventura, que tem bons momentos, mas que é um tanto curta.
A filha da mãe natureza
Não há sequência introdutória, falas ou legendas em One Last Breath. Tudo é 100% interpretativo, e aqui isso faz mais bem do que mal. Controlamos um ser místico com poderes de manipular a natureza e que está em busca de purificar o meio ambiente após esse ter sido destruído por uma empresa que realizou diversas experiências poluentes sem medir as consequências.
Ao longo de 12 fases, saímos do nosso lar na natureza selvagem e atravessamos favelas, laboratórios, fábricas, florestas queimadas - durante e após um incêndio - e até uma instalação submarina. Todas elas em ruínas e habitadas por algumas criaturas horrendas que irão nos devorar se nos virem.
Tudo isso fica subentendido pelos lugares pelos quais passamos e esse desenvolvimento, embora simples, fica bem claro. Nossa tarefa é recuperar a terra, as florestas e os demais biomas afetados. A maneira que essa missão será cumprida vai sendo descoberta à medida que avançamos pelo jogo.
Optar pela construção 100% visual para fazer os jogadores entenderem a narrativa sem contar com nenhum tipo de apoio com cenas, diálogos e narrações, pode ser um tiro no pé, mas no caso de One Last Breath foi uma escolha acertada. A identidade sonora do jogo se faz presente pelo silêncio, e pelo barulho (intencionalmente) incômodo das máquinas, da chuva, das queimadas e até de pedaços das construções caindo.
A aventura dura no máximo duas horas, e chegar ao final me fez perceber que a história, mesmo apresentando boas nuances, poderia contar com cenas melhores. Digo isto pois o jogo conta com dois finais, o normal e um secreto. Ambos são mostrados em belas cenas desenhadas e esse recurso poderia ter deixado a saga da protagonista muito mais rica.
É até curioso como essa sensação só aparece após vermos as cenas finais, pois antes não havia indício nenhum de que o jogo teria animações desse porte e tudo se manteria com a visualização 2.5D, que permanece durante todo o tempo, sem muito polimento.
Uma heroína raiz
Se a narrativa é atrativa e utiliza bem diversos recursos, a jogabilidade dá umas derrapadas. Nossa protagonista pode pular, agachar e interagir com algumas mudas de planta que estão em pontos específicos dos cenários. É por eles que resolvemos algumas espécies de quebra-cabeças, como utilizar raízes gigantes para desobstruir caminhos ou levantar plataformas, e também adquirimos flores que nos fornecem um escudo de curta duração para atravessar áreas contaminadas com gás.
Acontece que a movimentação dela é um pouco estranha, com a infame “corrida lenta”. Isso fica mais evidente quando temos que correr de alguma criatura, que sempre nos alcança. Os saltos mais longos também podem dar uma certa dor de cabeça, já que por muitas vezes, quando parece que vamos alcançar a plataforma distante, caímos na imensidão de um buraco e temos que tentar novamente até ter uma ideia do ponto ideal para o pulo.
Outro ponto incômodo é a falta de informações sobre os objetivos que o jogador tem que alcançar. Fica claro logo de cara que temos que ir do início ao fim das fases, passando por uma série de interações e obstáculos. O que pode fugir dos olhares mais atentos é que temos que interagir com 10 terminais (não tão) escondidos para alcançar o final secreto.
Todos eles são sinalizados com plaquinhas e símbolos, por isso não são difíceis de achar. Entretanto, se quem estiver no controle finalizar o jogo e só quiser revisitar os estágios específicos para alcançar seu 100%, essa pessoa vai ficar a ver navios, pois nem o nome deles aparece na seleção de fase. É mais rápido jogar tudo de novo e ficar de olho nas marcações do que tentar lembrar onde está o terminal que foi deixado para trás.
Uma exploração válida
One Last Breath focou na narrativa e deixou sua jogabilidade com recursos mais simples. Essa foi uma escolha acertada, mas um pouco mais de cuidado seria bem-vindo, desde a inclusão de mais cenas desenhadas, até um polimento gráfico maior. A jogabilidade também precisaria de alguns ajustes, mas no geral, é uma aventura que consegue entregar o que promete sem desapontar.
Prós
- Usar os cenários e a própria interpretação do jogador para entender a história é uma boa sacada;
- Jogabilidade simples, descomplicada e intuitiva;
- O final é ilustrado com cenas muito bem desenhadas;
- O impacto sonoro da trilha pontual e os ruídos geram bons momentos de tensão.
Contras
- Mesmo que interpretativo, o jogo poderia ter mais cenas desenhadas;
- Gráficos necessitam de um polimento maior;
- A velocidade da protagonista gera imprecisão em momentos de saltos longos e perseguição;
- Ausência de informações das fases para orientar os jogadores.
One Last Breath — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Moonatic Studios