Blast from the Past

Streets of Rage 3 (Mega Drive): 30 anos do jogo que encerrou a franquia nos consoles da SEGA

Um beat'em up sofisticado que oferece um enredo mais complexo com quatro finais possíveis.

em 23/03/2024

A franquia Streets of Rage foi a resposta da SEGA para suprir a ausência de beat’em ups fortes para o Mega Drive, uma vez que Final Fight da Capcom foi lançado nos consoles como um exclusivo do rival Super Nintendo (mais tarde, ele seria lançado para o SEGA CD). Aclamados pelo público e pela crítica, os dois primeiros jogos provaram que a SEGA também era boa de briga de rua. Lançado com exclusividade para o Mega Drive em março de 1994, a expectativa sobre Streets of Rage 3 era altíssima, dada a qualidade de seus antecessores.

O que mudou de SOR2 para SOR3

O novo jogo trouxe muitas novidades, apresentando uma trama mais elaborada com direito a cutscenes e possibilidade de quatro finais, que mudam de acordo com o desempenho do jogador durante a campanha.

Em Streets of Rage 2, o único personagem que podia correr era Skate. Já no terceiro jogo, todos os personagens podem correr. Também foi acrescentado um movimento de rolagem vertical, útil para escapar de cercos dos inimigos.


O Blitz Attack, realizado com dois toques para a frente e o botão de ataque, agora pode receber melhorias na forma de estrelas que se acumulam de acordo com a pontuação do jogador. Cada estrela proporciona uma melhoria no ataque. Ao perder uma vida, o jogador também perde uma estrela. Se o jogador usar um controle de 6 botões, é possível realizar um Blitz Attack avançado com comandos no direcional combinados com o botão X.

Outra melhoria interessante é o acréscimo de uma barra de energia especial, que é recarregada com o tempo. Quando completa, essa barra permite executar um ataque especial sem consumir parte do seu HP, o que permite intercalar ataques especiais com mais frequência do que era possível no jogo anterior.

Streets of Rage 3 aposta em um game design com apenas sete fases, porém elas são muito mais longas do que as de seu antecessor. Eu particularmente não gostei dessa escolha, pois como o jogo tem uma dificuldade mais elevada, passa a sensação de ser mais cansativo de zerar.

Por fim, é possível habilitar personagens secretos (dois na versão ocidental e três na japonesa) ao fazer certos comandos após derrotar NPCs específicos durante a campanha.


Duas histórias diferentes

Curiosamente, a trama da campanha possui divergências entre as versões japonesa e ocidental. No original japonês, o Sindicato do Crime deseja obter um novo tipo de explosivo recém-descoberto, com potencial para fazer bombas nucleares extremamente potentes e compactas. Para esse fim, Mr. X sequestra um general chamado Ivan Petrov e pretende usar as bombas para iniciar uma guerra mundial. Cabe aos nossos heróis libertar o general e desarmar as bombas, impedindo o plano de dominação do Sindicato.

Já na versão americana, Mr. X pretende substituir pessoas importantes da cidade por cópias robóticas, e usará diversas bombas para distrair a polícia enquanto sequestra e substitui os alvos. O grupo de heróis precisa resgatar o Chefe de Polícia que foi sequestrado e destruir a fábrica de robôs, a tempo de impedir que as bombas façam vítimas pela cidade.


Outras diferenças regionais

A principal diferença entre Bare Knuckle 3 (a versão japonesa) e Streets of Rage 3 está em sua dificuldade: na versão ocidental, os inimigos possuem uma resistência muito maior, os chefes têm mais barras de vida e causam mais dano ao jogador. Isso faz com que SOR3 seja bem mais cansativo de zerar do que seu antecessor. Já a versão japonesa tem a dificuldade mais equilibrada e agradável para o público geral.

Axel, Blaze e Skate possuem esquemas de cores diferentes nas duas versões, e Skate chama-se Sammy na versão japonesa. As vozes para alguns golpes especiais também são diferentes entre as duas variantes. As roupas das personagens femininas também foram alteradas e apresentam estilos mais comportados na versão americana.

Outra alteração importante é a remoção de um personagem chamado Ash, um estereótipo jocoso de um homossexual, que só existe na versão japonesa. Curiosamente, esse inimigo é também um personagem jogável secreto: se o jogador mantiver o botão A pressionado ao derrotá-lo, poderá escolhê-lo como personagem na próxima vez que fizer um continue.


Personagens

Axel Stone:
Axel é o protagonista da série Streets of Rage. Neste jogo ele é o personagem focado em força e técnica, com alcance razoável, mas seu salto e velocidade são baixos.
Ataques Especiais: “Dragon Wing” e “Dragon Smash”.

Blaze Fielding:
Blaze é outra protagonista presente em todos os jogos da série. Ela é a melhor lutadora técnica do jogo e tem os atributos mais equilibrados, tornando-a uma escolha versátil.
Ataques Especiais: “Embukyaku” (Backflip) e “Kikousho” (Fireball).

Eddie “Skate” Hunter:

Skate, também conhecido como Sammy na versão japonesa, é o irmão mais novo de Adam Hunter. Ele é o personagem focado em agilidade e capacidade de salto, mas é o mais fraco em termos de força.
Ataques Especiais: “Double Spin Kick” e “Rolling Punches”.


Dr. Zan:

Dr. Zan é um personagem exótico que, em tese, deveria assumir o papel clássico de “brutamontes” do grupo. Ele combina grande força física com um enorme alcance graças ao seu corpo robótico. Além disso, ele possui a habilidade única de transformar armas em bolas de energia.
Ataques Especiais: “Electric Body” e “Electric Reach”.

Personagens Secretos:
Além dos principais, há três personagens secretos desbloqueáveis:
  • Ash: um personagem estereotipado exclusivo da versão japonesa;
  • Shiva: um chefe secreto habilidoso em artes marciais;
  • Roo: conhecido como Victy na versão japonesa, é um canguru com muita velocidade e capacidade de salto.


Uma trilha sonora alternativa

Um dos pontos mais elogiados dos dois primeiros Streets of Rage foi a trilha sonora, composta pelo renomado Yuzo Koshiro, que se inspirou fortemente nos ritmos dance de música eletrônica, especialmente nos estilos house e techno. Pulsante e divertida, frequentemente as trilhas dos dois primeiros jogos são citadas como algumas das mais memoráveis do Mega Drive.

Em Streets of Rage 3, o compositor decidiu inovar com algo mais experimental, criando uma nova técnica chamada “Sistema de Composição Automatizada”, que usava sequências randômicas e algoritmos para criar novos ritmos que não seriam pensados por um ser humano, com sons robotizados e imprevisíveis.

O resultado obtido dividiu opiniões. Enquanto alguns consideraram a trilha sonora original e exótica, outros a acharam cacofônica e desagradável. Eu tenho uma opinião mista: para mim, algumas das músicas são interessantes, mas a maioria é realmente estranha para o meu gosto musical. Apesar de ser um experimento interessante, prefiro, de longe, a trilha sonora dos jogos anteriores


Os quatro finais de Streets of Rage 3

O jogo oferece múltiplos finais, dependendo das escolhas feitas durante o jogo e do desempenho dos jogadores. Cada final oferece uma experiência diferente e aumenta o fator rejogabilidade, incentivando a explorar todas as possibilidades do jogo.

Final de Principiante: este é o final para aqueles que jogarem no nível fácil. A campanha acaba prematuramente no quinto estágio, em que os jogadores não conseguem localizar os reféns de Mr. X. O vilão ainda zomba do jogador, dizendo: “Você joga como um novato!”

Final de Shiva: este final é desbloqueado se você jogar no modo normal ou hard e não conseguir salvar o Chefe de Polícia a tempo no estágio seis. Essa condição conduz a uma rota diferente, em que o inimigo final é Shiva e não o Mr. X. Neste desfecho, os planos do vilão são interrompidos temporariamente, mas ele segue livre para ameaçar a cidade no futuro.

Final Ruim: este é o final padrão se os jogadores não conseguirem derrotar Mr. X a tempo de desativar os dispositivos. O quartel general do Sindicato e a fábrica de robôs são destruídos, mas as bombas na cidade explodem, matando muitos inocentes e destruindo vários prédios.

Final Verdadeiro: este é considerado o final bom e é desbloqueado apenas se os jogadores conseguirem salvar o Chefe de Polícia e derrotarem Mr. X a tempo na batalha final. Neste desfecho, todas as bombas são desarmadas e a cidade é salva. As duplicatas robóticas são desmascaradas e as pessoas importantes que elas substituíram retornam a seus postos. Dr. Zan é perdoado pelos seus crimes devido à sua contribuição importante para destruir o Sindicato e o grupo de heróis passa um tempo junto na cidade antes de partirem em caminhos separados.


O menos querido da trilogia clássica

SOR3 foi sucedido por Streets of Rage 4, após um hiato inexplicável de 26 anos. Infelizmente a SEGA deixou de produzir consoles em 2001, fazendo com que Streets of Rage 3 seja o último jogo da franquia nos consoles fabricados pela própria empresa. É uma pena que, apesar de todas as suas inovações e melhorias técnicas, esse título normalmente seja considerado o menos querido da trilogia clássica. Ainda assim, é um ótimo game: ser a pior das Ferraris ainda é ser um excelente carro.

Talvez ele não tenha agradado tanto por não apresentar o mesmo salto estético e técnico que houve entre o primeiro e o segundo Streets of Rage, ou talvez pela ausência de Adam como personagem jogável. Meu palpite é que a trilha sonora exótica e o aumento exagerado de dificuldade contribuíram para que a percepção do público não fosse tão boa. Ainda assim, ele é um ótimo beat’em up, com jogabilidade divertida e muitas mecânicas inovadoras, e é uma parte importante na história da SEGA como desenvolvedora. O objetivo da série era mostrar que a empresa poderia criar uma franquia que fizesse frente à Final Fight e, de fato, conseguiu.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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