Análise: WWE 2K24 (Multi) coroa os 40 anos de Wrestlemania com um jogo à altura do seu legado

O novo título da 2K mantém o ritmo do ano passado e usa a história do maior evento de wrestling da história para trazer melhorias, e algumas mancadas.

em 12/03/2024
Parece que a WWE finalmente encontrou sua rota segura para manter uma sequência de bons jogos. WWE 2K24 continua o bom trabalho de seus dois últimos antecessores, adicionando novos recursos e bebendo da aura mística do quadragésimo aniversário do Wrestlemania, o maior evento esportivo que a luta-livre já viu.

40 anos do maior palco de todos

Para aqueles que não estão familiarizados com o evento Wrestlemania, eu explicarei brevemente. Trata-se do principal evento que acontece no ano no calendário da WWE. Este ano, acontecerá a edição de número 40 e, para fazer a celebração devida, partidas emblemáticas que aconteceram no evento foram trazidas de volta para o modo Showcase, que anteriormente focou na carreira de apenas um astro.

Somos agraciados com batalhas épicas que envolveram nomes do passado como Hulk Hogan, Andre the Giant, Rick Rude, Ultimate Warrior, Bret Hart, Shawn Michaels e Stone Cold Steve Austin, bem como combates mais recentes com Bianca Belair, Becky Lynch, Roman Reigns, Cody Rhodes e Seth Rollins. Em todas elas, sempre controlamos a superestrela que se sagrou vencedora.

O ritmo de cada uma das fases se mantém o mesmo: primeiro, é mostrada uma breve apresentação da luta com imagens da época, que são intercaladas com o jogo de fato. Temos que cumprir alguns objetivos que reproduzem momentos-chave, como aplicar alguns golpes ou derrubar o oponente em partes específicas da arena, ou fora dela. A maioria mantém a média de 15 a 17 objetivos, e isso influencia na sua duração, pois, mais uma vez, o Showcase mostra a necessidade de termos um jogo da WWE traduzido, visto que agora já temos transmissões nacionais, com narradores brasileiros.

Outro ponto incômodo está na qualidade dos vídeos. Além de alguns deles travarem no início da apresentação, a resolução dos mais recentes poderia ser bem superior, visto que muitos deles estão disponíveis em alta resolução no próprio canal oficial da WWE no YouTube. Ter arquivos dos anos 1980 e 90 rodando a 360p até é compreensível, mas os de depois dos anos 2000 já ficam mais feios.

Ainda assim, o modo Showcase 2K24 faz um bom trabalho em contar a história do Wrestlemania, mesmo tendo que lidar com alguns percalços. Uma questão curiosa foi o que fazer com as presenças de Brock Lesnar e Vince McMahon, visto que um participou de momentos marcantes do evento, enquanto outro foi o criador e figura ativa desde o primeiro. Além disso, ambos são integrantes recorrentes do elenco dos jogos.

Ambos foram retirados de todo material promocional possível, além de serem cortados do elenco regular, claro, e eu não tratarei isso como ponto negativo apenas pelo motivo que envolve problemas sérios com os dois na atualidade, os quais não detalharei aqui por não ser o foco deste texto, mas que são graves. Inclusive, o rosto de Vince McMahon foi borrado na maioria dos vídeos de apresentação, como se fosse uma pessoa desconhecida.


Entretanto, em respeito ao Wrestlemania em si, é possível disputar duas lutas com a participação de Brock Lesnar. Uma delas é o marcante Wrestlemania 30, no qual ele derrotou The Undertaker e encerrou a lendária sequência de vitórias do oponente. A segunda é o embate com Roman Reigns no Wrestlemania 31, no qual ele quase defendeu seu título de campeão, mas foi surpreendido, e derrotado, por Seth Rollins, que havia vencido o Money in the Bank que precedeu aquela edição do evento.

Novas possibilidades para um show inesquecível

WWE 2K24 aposta nos mesmos modos de antes, apenas fazendo melhorias significativas neles. As partidas livres ganharam novas variantes: a Casket Match coloca um caixão ao lado do ringue e ganha quem colocar o oponente dentro dele e fechá-lo com sucesso; já a Ambulance é bem parecida com a Casket, mas com o objetivo de colocar o adversário dentro de uma ambulância e fechar as duas portas.

Como a ambulância é bem maior que o caixão, é possível lutar sobre ela, e até aplicar golpes especiais. Por fim, temos minha variante favorita, a Special Referee, na qual podemos escolher qualquer integrante do elenco para ser o juiz da partida e também podemos controlá-lo; ou seja, podemos tornar o combate justo ou causar o caos ignorando submissões, errando contagens e até agredindo gratuitamente qualquer um dos lutadores envolvidos.

Juntar essas opções com as já variadas possibilidades de partidas aumenta a sensação de criar um show como sempre quisemos ver. O elenco-base enorme, com mais de 250 superestrelas, também ajuda bastante. Podemos fazer uma dupla dos sonhos com Cody Rhodes e seu pai, Dusty Rhodes; um embate sem regras com todas as versões possíveis de John Cena; e até colocar as icônicas estrelas da capa, Bianca Belair e Rhea Ripley, para se enfrentar no estacionamento até ver quem cede primeiro.

Se os combates livres entregam uma diversão sem tamanho, os modos específicos começam a demonstrar um certo cansaço. Houve um esforço notório para direcionar a atenção para o MyFaction, que é como se fosse um Ultimate Team, com seu grupo de lutadores baseados em cartas.

Se você quiser liberar alguns nomes específicos, terá que ganhar a carta deles no MyFaction, o que envolve disputar uma pilha de modos diferentes, mas com desafios iguais. Disputar partidas online até é divertido, mas não vale a pena entrar no MyFaction quando se pode fazer isso diretamente pelo Versus, sem depender da limitação imposta pelas cartas e classes.

O MyRise traz novamente duas histórias distintas: uma para o personagem masculino, que se envolve na disputa do cinturão deixado vago por Roman Reigns, e uma para a personagem feminina, famosa por promover uma federação de luta independente e acaba indo parar na WWE.

Diferentemente do ano passado, as narrativas deste ano não trazem mais tantas sidequests, o que as deixaram bem menos arrastadas, mas proporcionalmente genéricas. O mérito do MyRise está na participação de várias superestrelas reais, como Cody Rhodes, The Miz, Shotzi e William Regal, só para citar alguns.

O Universe se manteve mais do mesmo, nos colocando como o organizador de cada um dos eventos da companhia. Podemos escolher livremente quem disputa os cinturões, quem sobe e quem desce nos rankings e até trocar lutadores entre NXT, Raw e Smackdown. Podemos simular as lutas, assistí-las e até controlar um dos envolvidos. Logo, continua fazendo falta a possibilidade de um dos astros conduzir uma promo, que são as entradas solo de um deles ao microfone, seja para saudar o público, desafiar um campeão ou até mesmo provocar uma rivalidade.

No final das contas, o modo que se tornou mais interessante é o MyGM. Escolhemos um gerente, como Paul Heyman, Teddy Long ou Mick Foley, e travamos uma batalha pela audiência entre marcas, que dura 25 semanas. Vamos desde o draft de estrelas que compõem o elenco até a seleção de aparato técnico (luzes, cortinas de fumaça, pirotecnia, etc) e o local do show. Tudo direcionado para ter o maior número de fãs ao final de cada transmissão. 

A cada número determinado de semanas, podemos promover trocas com nossos rivais e usar cartas que os coloquem em desvantagens, como não poder escalar um de seus campeões para a apresentação da noite ou aumentar o custo de locação de uma arena.

Ter esses diferentes modos de jogo aumenta a versatilidade da franquia e até ajuda a dar uma compreensão de como funciona a WWE como um negócio. Só que repito pela quarta análise seguida da franquia: já passou da hora de termos textos em português, pois há muitos termos específicos que já possuem uma tradução mais clara na nossa língua, e quem não sabe inglês acaba beijando a lona.

Derrapando nos detalhes

Controlar cada um dos mais de duzentos nomes de WWE 2K24 parece uma tarefa complicada, ainda mais com tantos movimentos icônicos. Para ser justo, desde que a franquia readquiriu um certo nível de excelência, as coisas ficaram bem mais satisfatórias, tanto na execução quanto no visual.

A jogabilidade continua bastante fluida. Quem jogou 2K22 ou 2K23 já está apto para começar nas dificuldades mais altas; já os que escolheram este como seu primeiro título não estarão desamparados, pois o Tutorial faz um excelente trabalho em mostrar como lidar com cada mecânica e barra apresentada — Sem contar que, durante a luta, é possível deixar visíveis dicas que mostram os momentos propícios para golpes assinatura, finalizadores, revides e esquivas.

Alguns nomes, como Randy Orton e The Undertaker, ganharam um Super Finishing Move. Para usá-lo, é necessário ter os três espaços da barra de especial cheios. Pode parecer algo demorado, mas vale totalmente a pena, pois seu efeito é devastador e dificilmente um oponente consegue revidar este golpe.

A única mecânica que merecia uma finalidade mais forte é a de Trading Blows, ou “trocando socos” em tradução livre. Ela não precisa de um gatilho específico, apenas fica claro que ela pode acontecer no começo de uma luta. Nela, dois competidores revezam socos simples, baseados em medidores que aparecem na tela. Após essa espécie de minigame ser concluída, a luta continua, sem ocorrerem vantagens ou desvantagens. A ideia é ótima, mas parece que ficou solta.

Já no aspecto visual, a maioria das superestrelas ganhou uma reprodução bastante fiel dos seus modelos reais, mas alguns poucos têm ressalvas. Aqueles que possuem cabelos longos voltaram a sofrer com as madeixas que atravessam pescoços. Além disso, alguns rostos ficaram bastante aquém das suas versões de verdade, mas nada que um patch de correção não possa resolver.

O clima de transmissão televisiva também merece elogios. As entradas características foram recriadas nos mínimos detalhes com precisão. Desde as músicas até o show de fogos e gritos — ou vaias — do público, o ambiente transmite a energia das apresentações ao vivo. Há a opção de inserir replays dos momentos de destaque no meio da luta, ou até mesmo fazer um compilado dos highlights ao fim da transmissão.

Só há uma pessoa que parece não gostar da ideia: o juiz. Infelizmente, ele não perdeu o hábito de ficar na frente da ação durante a luta, principalmente na hora de momentos de clímax, como grandes demonstrações de força e agarrões, ou quando a briga vai para um dos cantos. Basta uma dessas situações acontecer para que ele pule na frente e encubra sua visão.

O Sonho Americano

Com melhorias contundentes, mesmo jogando em suas áreas seguras, WWE 2K24 consolida o caminho que a franquia começou a trilhar há dois anos, deixando para trás os momentos ruins e se colocando como o principal jogo de luta livre da geração.

Prós

  • A jogabilidade continua impecável e com boas adições, como os Super Moves;
  • As Casket Matches e Ambulance Matches são ótimas adições;
  • Controlar o juiz no Special Referee adiciona um novo tipo de diversão;
  • O modo Showcase traz grandes momentos do Wrestlemania que vale a pena conhecer;
  • Elenco-base com mais de 250 nomes;
  • O MyGM se tornou uma grata surpresa com ótima dinâmica.

Contras

  • Algumas partidas do Showcase são arrastadas e os vídeos têm momentos de congelamento e baixíssima resolução;
  • Alguns modelos estão feios e os cabelos longos continuam sem controle;
  • As histórias do MyRise estão um pouco mais genéricas;
  • Influência desnecessária do MyFaction no restante do jogo;
  • Ausência gritante de textos em português;
  • O juiz atrapalha a visão em determinados pontos do ringue.
WWE 2K24 — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisor: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela 2K

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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