Mesmo diante do (re)lançamento de alguns RPGs estratégicos de alta qualidade nos últimos anos, o anúncio do mais recente título da Vanillaware, Unicorn Overlord, conseguiu despertar um grande entusiasmo. Felizmente, o jogo não só atendeu, mas superou todas as expectativas, destacando-se principalmente em um aspecto crucial do gênero: a diversidade tática.
Todo um continente nas garras de um traidor
Unicorn Overlord nos apresenta a história de Alain, o herdeiro do trono de Cornia, um dos cinco reinos que compõem o continente de Fevrith. Em uma noite trágica, Valmore, um dos generais da rainha Ilenia, inicia um golpe para usurpar o poder, forçando a mãe do protagonista a enviar o confiável Josef para escoltar seu filho para longe do perigo.
Anos se passam e o continente inteiro é subjugado pelo ex-general traidor, agora autoproclamado Galerius. Neste contexto sombrio, nosso herói, que se dedicou ao treinamento durante seu exílio, retorna para libertar Fevrith das garras deste imperador maligno. Essa jornada o leva a visitar cada um dos cinco territórios, onde ele conhece e se une a outros indivíduos que também resistem ao regime tirânico.
Embora a trama de Unicorn Overlord possa parecer familiar em muitos detalhes e não explore a guerra com a mesma densidade que obras-primas do gênero, como Tactics Ogre e Final Fantasy Tactics, ela se destaca ao apresentar e desenvolver arcos focados em personagens intrigantes, tornando-se uma narrativa envolvente do início ao fim. Ademais, mesmo lidando com alguns conceitos já batidos, há espaço reservado para reviravoltas.
Vale destacar que a experiência narrativa é enriquecida pela excelente dublagem em japonês (também há opção de vozes em inglês). No entanto, considerando o crescente cuidado da SEGA com o público brasileiro e a alta carga de texto que o título possui, é lamentável a ausência de legendas em português. Outra característica que deixa a desejar nesse sentido são os momentos de interação entre os personagens que o jogador pode promover, os quais acontecem diretamente no mapa e sem dublagem, limitando um pouco do impacto e valor emocional dessas cenas.
Libertando e reestruturando cidades
A história de Unicorn Overlord entretém, mas é em sua jogabilidade que o jogo realmente brilha, oferecendo um vasto e fascinante mundo para explorar e batalhas envolventes com um altíssimo nível de customização, nos convidando a passar horas e mais horas desenvolvendo estratégias únicas.
Entrando no aspecto da exploração, esta acontece em um mapa gigantesco, abrangendo as regiões dos cinco reinos. Como o continente está sob os domínios de Galerius, grande parte das cidades estão controladas por inimigos, e conseguimos libertá-las por meio das lutas, que podem ocorrer em missões principais ou opcionais.
Após a emancipação de um centro urbano, temos a oportunidade de contribuir para sua reestruturação por meio da entrega de materiais diversos, coletados ao redor do mundo. Essa ação é recompensada com recursos importantes, como dinheiro e honor, um elemento necessário para aumentar o número de aliados que cada unidade suporta.
Apesar de certas limitações impostas por desafios de níveis altos e pontos bloqueados pela própria campanha, a liberdade para explorar o mundo de Unicorn Overlord é notável. Além disso, os jogadores mais curiosos terão muito segredos para descobrir, pois algumas missões vão além do simples confronto.
A aquisição de novos aliados é outro aspecto intrinsecamente relacionado à exploração. Enquanto alguns membros se juntam ao time ao progredirmos na história principal, outros estão disponíveis em quests secundárias, com certos indivíduos possuindo requisitos específicos para serem recrutados.
Em suma, a navegação por Fevrith é verdadeiramente rica e organicamente conectada à progressão da história e ao fortalecimento de nossas unidades. Apesar de parecer simples inicialmente, há muito para descobrir e aprender, e os exploradores serão sempre recompensados pela sua curiosidade.
Incontáveis possibilidades estratégicas
Com a narrativa e a exploração abordadas, podemos adentrar o ponto mais cativante de Unicorn Overlord: os combates. Embora apresente algumas semelhanças com alguns RPGs estratégicos clássicos, o título da Vanillaware possui identidade própria e é um dos mais viciantes que já experimentei.
Como em um RTS, durante os confrontos, somos capazes de movimentar nossas equipes pelo cenário ao mesmo tempo que os adversários se deslocam. Caso duas unidades opostas se choquem, um embate direto se inicia, o qual se desenrola automaticamente por meio de definições pré-estabelecidas.
Quem aprecia o sistema de Gambit de Final Fantasy XII não conseguirá deixar de sorrir enquanto joga Unicorn Overlord, pois aqui os comportamentos de cada indivíduo nos combates também são estabelecidos prévia e individualmente pelo jogador. Nesse sentido, cada plantel possui seis espaços, três dianteiros e três traseiros, e é capaz de abrigar até cinco lutadores.
Configurar um personagem é, por si só, um aspecto muito rico e desafiador, mas as batalhas são totalmente focadas em grupos, exigindo que pensemos em indivíduos e habilidades que se complementam para formar uma equipe eficaz. Para aumentar esse grau de personalização, as alternativas são extraordinariamente vastas, com dezenas de heróis e classes únicas, inúmeras skills e condições de ativação, além de uma enorme variedade de equipamentos que não apenas alteram os status, mas conferem maestrias distintas.
É importante mencionar que cada ação desencadeada por um herói consome AP ou PP. Enquanto o primeiro atributo é voltado para talentos ativos, cujos requisitos de ativação podem ser completamente estabelecidos pelo jogador, o segundo diz respeito a técnicas passivas, que geralmente já possuem um pré-requisito. Dessa forma, devemos considerar esses dois elementos, pois maximizá-los permitirá que o time realize mais ações.
É verdadeiramente fascinante observar como, antes de um embate rápido e automático, há um longo período de preparação. Assim, antes de pisar no campo de batalha, precisamos escolher sabiamente as opções de ataque, defesa ou cura, distribuir cuidadosamente os melhores equipamentos e configurar os momentos e as habilidades que serão realizadas por cada membro do plantel.
Há muito o que se considerar em uma guerra
Como se não bastassem todos os detalhes de customização que o jogador deve ponderar, há ainda diversos outros elementos exteriores que merecem atenção. Um exemplo disso diz respeito às especificidades criadas pelo ambiente de cada mapa, como a redução da locomoção no deserto, a baixa visibilidade em nevascas ou o aumento de força de indivíduos bestiais no período noturno.
Algumas lutas oferecem condições diferentes para serem vencidas, mas na maioria das vezes o objetivo primordial será dominar o ponto de controle principal do inimigo, geralmente guardado por sua unidade mais forte. Claro que também temos o nosso próprio posto, cuja perda resultará em um game over. Contudo, não basta avançar diretamente para a base do adversário, pois, ao longo do caminho, encontraremos unidades inimigas e estruturas prontas para nos deter, como armadilhas, torres com atiradores de elite e catapultas.
E não para por aí: nossas tropas têm energia limitada, consumida a cada confronto direto. Esgotar esse recurso deixa a unidade sem conseguir se locomover, mas pontos urbanos conquistados durante o embate podem ser usados para recuperar a energia e a saúde dos aliados.
Com tantos elementos a serem analisados, os combates de Unicorn Overlord transcendem a simples noção de nivelamento, permitindo que um jogador experiente vença inimigos de níveis superiores. Da mesma forma, um time mal construído enfrentará dificuldades contra adversários com menos níveis.
O título da Vanillaware é simplesmente extraordinário em sua abordagem estratégica, oferecendo inúmeras possibilidades a serem combinadas e exploradas da forma que a imaginação do jogador permitir. Para garantir que todos os tipos de pessoas sejam desafiadas, o jogo oferece diversas opções de dificuldade, incluindo uma alternativa adicional ainda mais complicada após a conclusão da campanha.
Lindo e fluido
Além de todos os méritos já abordados sobre o combate e a exploração, Unicorn Overlord reserva outros traços que merecem destaque. Para começar, a marcante identidade visual da Vanillaware está novamente em evidência, com cenários e personagens deslumbrantemente retratados em um excelente estilo 2D, complementados por agradáveis animações de movimentos durante os embates.
Outro ponto notável é a fluidez e agilidade do jogo, com as viagens rápidas ocorrendo de forma instantânea, carregamentos praticamente imediatos e opções para acelerar as animações dos duelos ou visualizar diretamente os resultados, garantindo uma experiência extremamente dinâmica.
Para concluir, além das missões alternativas já mencionadas, Unicorn Overlord oferece um coliseu, onde podemos testar nossos grupos em batalhas ranqueadas online e offline. Vale destacar que minha experiência lutando contra adversários reais foi impecável, sem qualquer tipo de problema de conexão ou demora para encontrar oponentes.
Um RPG estratégico de qualidade invejável
Unicorn Overlord é um RPG estratégico extremamente divertido e viciante. Com um vasto elenco de personagens e um sistema de combate automatizado que encoraja os jogadores a explorar e conhecer profundamente todas as suas opções para construir uma equipe poderosa, o título brilha justamente no que há de melhor dentro desse gênero: as variações táticas.
Prós
- A história apresenta e desenvolve diversos arcos focados em inúmeros personagens interessantes;
- Diversas opções de dificuldade, oportunizando que diferentes tipos de jogadores possam viver essa experiência;
- O mundo é vasto e cheio de segredos, com a exploração nos recompensando constantemente com novos aliados e recursos que ajudam a melhorar nossas equipes;
- O jogo é extremamente fluido e ágil, com carregamentos quase imediatos e opções para acelerar ou pular as animações das batalhas;
- Os elementos que compõem o cenário fazem com que as batalhas vão muito além dos confrontos diretos, exigindo que tenhamos atenção com a movimentação;
- As possibilidades estratégicas são vastas, com inúmeras alternativas de personagens, classes, equipamentos, habilidades e condições de ativação;
- O coliseu oferece confrontos desafiadores para os jogadores se colocarem a prova, com as partidas online não apresentando nenhum problema de conexão;
- Visualmente deslumbrante, tanto nos momentos de combate quanto nos de exploração, com animações 2D de altíssima qualidade.
Contras
- Embora seja interessante, a história é cheia de elementos já batidos e não explora a guerra com tanta densidade como já vimos em outras excelentes obras do gênero;
- Os momentos de interação entre os personagens são muito simplificados, ocorrendo diretamente no mundo explorável e sem dublagem, o que acaba reduzindo o impacto emocional de algumas situações das narrativas individuais;
- Ausência de legendas em português.
Unicorn Overlord — PS4/PS5/XSX/Switch — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
