Análise: Arzette: The Jewel of Faramore (Multi) é uma homenagem com cara de paródia

Ajude a princesa Arzette a salvar o reino de Faramore em uma aventura repleta de altos e baixos.

em 13/03/2024
Se você está familiarizado com a história dos videogames, certamente se recordará do console CD-i. Desenvolvido pela Philips, foi lançado em outubro de 1991, sendo um dos primeiros a utilizar mídias ópticas para jogos, em vez dos tradicionais cartuchos.

O console foi um dos únicos que receberam jogos sob a licença da Nintendo, o que resultou no lançamento simultâneo, em outubro de 1993, de dois títulos: Link: The Faces of Evil e Zelda: The Wand of Gamelon, ambos desenvolvidos pela Animation Magic e que tinham como base a licença de The Legend of Zelda.


Os protagonistas dos jogos eram Link e Zelda, em aventuras de plataforma com jogabilidade deficiente e gráficos peculiares para a época. O principal destaque foram as cutscenes, com uma direção de arte original em estilo de desenho animado e dublagem com atores.

Atualmente, trechos e imagens dessas cutscenes tornaram-se memes na internet. Os jogos, devido à sua má recepção, fizeram a Nintendo rever sua política de licenciamento, não permitindo mais que seus personagens fossem usados em jogos de terceiros, restringindo seu uso apenas para projetos da própria Big N.


Trinta e um anos depois, o meme ressurge em Arzette: The Jewel of Faramore, desenvolvido pela Seedy Eye Software e publicado pela Limited Run Games. O jogo se inspira nos dois famigerados títulos do passado, buscando homenageá-los enquanto corrige seus erros e faz uma paródia da clássica história do reino que precisa ser salvo das forças do mal.

Daimur e a Joia de Faramore

Faramore era um reino próspero e seguro, até que, uma década atrás, o tirano Daimur foi derrotado pelo rei e aprisionado em um livro mágico, graças ao poder da Joia de Faramore. No entanto, de forma misteriosa, o selo da joia se rompeu, libertando o vilão, que jurou vingança contra o reino com o auxílio de seus fiéis servos malignos.


O rei, já idoso e incapaz de enfrentar Daimur novamente, passa a responsabilidade de proteger o reino para a jovem princesa Arzette. Equipada com sua leal espada mágica, capaz apenas de ferir seres malignos, a herdeira do trono embarca em uma jornada pelos quatro cantos de Faramore. Seu objetivo é recuperar os fragmentos da joia e utilizar seu poder mágico para derrotar o vilão mais uma vez e restaurar a paz.


Assumindo o papel da princesa Arzette, nossa missão é percorrer as diversas regiões do reino de Faramore e enfrentar os lacaios de Daimur. Esta tarefa nos reserva uma série de desafios, momentos humorísticos e alguns obstáculos em nossa jornada.

Os perrengues de Arzette

Arzette: The Jewel of Faramore é uma aventura em plataforma estrelada pela princesa que dá nome ao game. Nesta jornada não linear pelo reino de Faramore, nossa missão principal é derrotar os cinco servos de Daimur e recuperar um fragmento da Joia de Faramore de cada um deles.

A aventura se desenrola em um formato não linear, em que orientamos nossa heroína por diferentes cenários em busca dos elementos necessários para alcançar nosso objetivo. O principal foco de Arzette é reacender faróis mágicos que possibilitam o acesso a novas áreas do reino. Em cada uma delas, Arzette enfrenta inimigos e cumpre tarefas para obter novos itens, aprimorar seu equipamento e, crucialmente, auxiliar os habitantes do reino em missões secundárias.

Equipada com sua confiável espada, Arzette mais tarde adquire uma pistola mágica, capaz de lançar tiros de magia colorida. Esses tiros são usados para destruir barreiras mágicas que bloqueiam passagens em certas áreas das fases, além de escudos mágicos de alguns inimigos, todos sinalizados com sua respectiva cor. Por exemplo, barreiras azuis só podem ser destruídas com magia azul. A mesma ideia para as de cor verde e vermelha.


Os níveis estão divididos em cenários nos quais Arzette precisa explorar para encontrar velas mágicas que a permitam remover estandartes enfeitiçados, liberando o acesso aos chefes, elementos cruciais para o avanço do jogo. Em muitos casos, em um estilo similar ao de jogos metroidvania, ela precisa adquirir itens ou melhorias para superar obstáculos que impedem seu progresso.

No entanto, cada nível precisa ser revisitado várias vezes à medida que Arzette adquire mais itens e habilidades, permitindo-lhe explorar novas áreas em cada local, especialmente nas fases com chefes. Esta rotina pode se tornar um pouco cansativa devido à necessidade constante de revisitar fases.


Durante minha experiência com o jogo, algo que dificultou meu progresso foi minha dificuldade em memorizar a localização de elementos importantes em determinados níveis. Por exemplo, em uma fase específica, uma barreira mágica bloqueava meu caminho, então precisei deixar a fase e explorar outra. Ao encontrar o que precisava para remover a barreira em outro estágio, já havia esquecido em qual fase estava o obstáculo que me impedia de progredir anteriormente.

Embora siga o estilo de metroidvania, o jogo apresenta áreas não diretamente conectadas entre si, o que às vezes atrasa meu avanço e me leva, em alguns casos, a visitar níveis que não são necessariamente os que deveria explorar naquele momento.

Propositalmente “feio”

O destaque mais notável em Arzette: The Jewel of Faramore é sua direção de arte. A Seedy Eye Software optou por fazer uma homenagem criativa aos jogos do CD-i e, fazendo valer o famoso meme brasileiro do "copia mas não faz igual", inspirando-se diretamente no estilo visual de Link: The Faces of Evil e Zelda: The Wand of Gamelon.

As cutscenes são o ponto alto neste aspecto, reproduzindo fielmente o estilo dos jogos do finado console em sua arte, animação e até mesmo na dublagem dos personagens. O roteiro, impulsionado pelo bom humor, destaca-se com piadas e até mesmo algumas referências que alfinetam os projetos mal executados de 31 anos atrás.

A trilha sonora, composta por Jake "Button Masher" Silverman, complementa essa atmosfera nostálgica dos anos noventa, oferecendo composições animadas e de alta qualidade sonora, emulando o padrão encontrado nos jogos lançados em CD-ROM na época. Confira alguns trechos publicados pelo próprio a seguir.

No que diz respeito à jogabilidade, Arzette traz controles mais precisos e responsivos, proporcionando uma experiência de jogo agradável, bem diferente de seus "antecessores". No entanto, pequenas falhas de execução, como a necessidade de acessar o menu para trocar de itens, em vez de usar comandos diretos no controle, podem causar certa fadiga durante a jogatina.


Arzette é destinado a um público que aprecia títulos independentes diferenciados, especialmente aqueles familiarizados com a história dos jogos da série Zelda para o já extinto CD-i. Eu me enquadro em ambos os grupos e devo admitir que o jogo atendeu minhas expectativas ao oferecer uma abordagem fresca em um jogo propositalmente antigo, inspirado em dois títulos que continuam a ser alvo de zombaria na comunidade gamer.

É como o jogo perdido de um console extinto

Arzette: The Jewel of Faramore oferece uma experiência única que mistura nostalgia, humor e uma abordagem criativa nesta homenagem aos controversos jogos de Zelda do CD-i. Com sua direção de arte fiel aos títulos que o inspiraram, trilha sonora envolvente e controles mais responsivos, é uma adição bem-vinda ao universo dos jogos independentes, oferecendo uma experiência divertida e nostálgica para os jogadores que apreciam uma abordagem criativa e bem-humorada de produtos baseados no passado.

Prós

  • Direção de arte autêntica, capturando fielmente o estilo visual dos jogos do CD-i com gráficos rebuscados e cutscenes com acabamento ruim;
  • Trilha sonora envolvente, evocando a nostalgia dos jogos da época;
  • Jogabilidade refinada e controles responsivos, diferente de seus “irmãos mais velhos”;
  • Abordagem criativa na homenagem aos controversos jogos do CD-i, agregando humor à narrativa.

Contras

  • A natureza não linear do jogo pode levar a momentos de confusão e repetição ao revisitar áreas já exploradas;
  • Ausência de ferramentas melhores para ajudar na exploração, atrasando o progresso;
  • A necessidade de revisitar níveis diversas vezes para adquirir itens ou acessar novas áreas pode tornar a experiência um tanto cansativa.
Arzette: The Jewel of Faramore — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Limited Run Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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