Contra é uma franquia que foi bem maltratada pela Konami nos últimos anos. Apesar do sucesso que ela teve nos 8 e 16 bits, o pai dos run and gun perdeu seu brilho a partir da ascensão do 3D. Tivemos bons jogos nos últimos 20 anos, mas sem muitas atenções da desenvolvedora.
Após o tenebroso Contra: Rogue Corps (Multi), milagrosamente recebemos um título novo que não quis reinventar a fórmula, nas mãos da WayForward. Contra: Operation Galuga é um retorno às origens 2D que presta homenagem ao legado da série com elementos reconhecíveis, mas falha no que faz Contra ir além da jogabilidade.
Reimaginando a guerra, mas nem tanto
Operation Galuga traz uma releitura das origens da franquia, contando a primeira missão de Bill e Lance contra a facção Falcão Rubro no arquipélago de Galuga, na Nova Zelândia, mas que não demora para se revelar uma trama de invasão alienígena. Na reimaginação, a história ganhou alguns detalhes a mais, principalmente relacionados aos bastidores da operação e a ligação desses eventos com a franquia. Quem conhece a história da série reconhecerá elementos durante os diálogos entre fases, e me surpreendi com alguns acontecimentos.
Alguns soldados são destravados durante o modo história. |
A base de Operation Galuga reúne diversas mecânicas que já apareceram antes, como a possibilidade de carregar duas armas, a barra de vida e as manobras de movimentação, como o pulo duplo, avanço rápido e a possibilidade de atirar em 360º — que pode ser trocada para a clássica mira de oito direções, caso prefira. É bem fácil pegar o ritmo da jogabilidade, e a boa curva de dificuldade das fases ajuda na masterização dos controles.
Os armamentos tradicionais, como Spread Shot, Machine Gun, Homing Missile e Laser Beam estão todos de volta, e não tivemos novas adições. Como novidades, o jogo apresenta duas mecânicas para aprimorar nosso poder de fogo. A primeira é o sistema de evolução de armas, bastando pegar duas do mesmo tipo para melhorá-las; a segunda é a sobrecarga, que destrói o equipamento selecionado em prol de uma habilidade mais poderosa, como um buraco negro que suga todos os tiros inimigos e drones auxiliares.
A maior novidade está na Loja de Vantagens, em que podemos comprar alguns recursos com pontos obtidos no final de cada fase. Vidas extras, começar com uma arma específica, melhoria automática de armas e maior tempo de invencibilidade são algumas das vantagens que nos são oferecidas. Além disso, a loja conta com alguns extras bem bacanas, como personagens extras e trilhas sonoras, incluindo seleções de faixas musicais de Castlevania e outros clássicos da Konami. Porém, o preço dos melhores itens é bem alto em comparação com o que recebemos.
O conteúdo de Contra: Operation Galuga é bem simplório, se sustentando totalmente na repetição de jogadas. O título conta com o modo arcade para até quatro jogadores e um modo de seleção de desafios diversos, que estendem a duração de menos de duas horas da campanha principal (além da mencionada Loja de Vantagens), mas estaremos sempre visitando as mesmas fases com personagens diferentes. Seria aceitável se o preço fosse justo com o que se espera de uma produção mais simples — como Blazing Chrome (Multi) dentro do mesmo gênero —, mas o valor base de R$ 199 chega a ser ofensivo.
Um jogo da Xbox Live Arcade de 2008 em 2024
E chegamos no grande contra (com o perdão do trocadilho) de Operation Galuga: a parte visual e musical. Começando pelas composições que nos acompanham durante o tiroteio, nos são apresentados alguns rearranjos das faixas do título de 1987, num tom mais épico e orquestral. O problema é que não tem impacto algum nelas, transformando as reconhecíveis faixas originais em algo que tenta demais ser cinematográfico e acaba ficando sem personalidade. Ao menos os efeitos sonoros, tanto os novos e mais modernos quanto aqueles que são diretamente retirados dos jogos 8 e 16-bits, são muito satisfatórios, assim como a dublagem em inglês.
Já a parte visual é bem datada. Não é a primeira vez que vemos Contra em 3D, mas não é uma novidade que não conseguiram buscar o mesmo charme da era 2D. As fases acabam ficando genéricas pela falta de uma arte mais criativa, o trabalho técnico de texturas e efeitos é pobre e a parte de animação, tanto na jogabilidade quanto em cenas, é travada. Os designs de interfaces e as ilustrações também não ajudam a melhorar essa visão sem personalidade, parecendo que tudo saiu de um jogo de celular de baixo orçamento ou do começo da era digital dos consoles.
Contudo, algo em que o 3D ajuda é na construção de momentos de set pieces, especialmente na aparição de chefões, que contam com câmeras dinâmicas e apresentações impactantes. É algo que particularmente adoro em títulos 2.5D, trazendo um diferencial bacana quando é feito interessantemente. É uma pena que a WayForward anda decepcionando com a arte de suas produções recentes, e até na qualidade geral de alguns jogos.
Divertido, mas com muitas ressalvas
Prós:
- Um retorno às origens que respeita as tradições da franquia;
- As mecânicas de evolução de arma e de sobrecarga são boas adições à fórmula;
- A Loja de Vantagens é interessante, apesar do preço absurdo dos melhores itens;
- Os diversos personagens jogáveis, ainda que não estejam no mesmo nível de Contra: Hard Corps, ajudam na variedade da jogabilidade;
- Multiplayer cooperativo local para até quatro jogadores no modo arcade.
Contras:
- Direção de arte complemente datada e sem personalidade;
- Músicas esquecíveis que não fazem justiça ao material original;
- Ausência de multiplayer cooperativo online;
- Conteúdo raso em relação ao preço cobrado.
Contra: Operation Galuga — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami