A era das máquinas
Oblivion Override nos apresenta a um universo hostil e futurista, em que os resquícios da humanidade se resumem no Oblivion Code, um código de conduta imposto e monitorado por meio de inteligência artificial que visa impedir rebeliões e maus comportamentos por parte das máquinas.
Nesse complexo cenário, somos convidados a assumir o papel de Crimson, um robô programado para o combate em uma misteriosa missão dentro de uma base industrial. Sem uma pista sequer sobre o motivo de sua existência ou objetivo, a única possibilidade é seguir em frente, destruindo qualquer máquina pelo caminho que se oponha à sua presença.
Embora possa desapontar alguns, o mistério no enredo acaba funcionando como um pretexto para colocar o jogador rapidamente no centro da ação: em menos de três minutos de gameplay, você já se verá serrando outras criaturas, coletando espólios dos inimigos vencidos e se familiarizando com os comandos e habilidades especiais à sua disposição.
Claro, o conceito de “aprender jogando” pode se provar traiçoeiro nos tempos atuais, mas, na minha opinião, aqui ele acaba funcionando muito bem graças à jogabilidade viciante e fluida. E, sendo Oblivion Override um roguelike, morrer em combate — algo inevitável na primeira partida — não é o fim de fato, é apenas o recomeço da aventura até que eventualmente se alcance a sua conclusão.
Conheça as suas influências
Na prática, Oblivion Override pode ser definido como um hack’n’slash de progressão lateral com pitadas de metroidvania. A cada nova partida, seu dever é explorar ambientes interconectados e gerados aleatoriamente, eliminando hordas de inimigos enquanto tenta chegar o mais longe possível.
Se a definição parece familiar, é porque ela realmente o é. Fãs de jogos como o clássico moderno Dead Cells (Multi) e até mesmo outros menos conhecidos, como Summum Aeterna (Multi), se sentirão em casa já nos primeiros momentos passados.
Muito se engana quem pensa que a obra da Humble Mill é uma cópia desinteressada de suas referências. Graças à qualidade de seus elementos, Oblivion Override consegue se destacar mesmo quando comparado a jogos já consagrados do gênero.
O maior motivo para isso, na minha opinião, é a sua jogabilidade empolgante e viciante. Ostentando um visual que lembra muito um certo robô vermelho da Capcom, Crimson é capaz de correr em paredes, esquivar-se velozmente em oito direções e manusear diferentes armas, das tradicionais espadas e machados até baionetas e outras ferramentas não convencionais.
Tanto a movimentação quanto o combate ocorrem com grande agilidade, mas o caráter fluido da obra garante que a memória muscular e os reflexos rápidos sejam correspondidos e devidamente recompensados na tela.
Como fã de jogos de ação à la Bayonetta e Devil May Cry, confesso que fui logo fisgado justamente por causa desse quesito. Mesmo depois da vigésima partida, eliminar uma sala cheia de inimigos continuou sendo satisfatório, o que, ao meu ver, é crucial para um gênero que, mais cedo ou mais tarde, sempre sofre com o fantasma da repetição.
Como se fosse a primeira vez, ou não exatamente
Como Hades, Into the Breach e tantos outros clássicos roguelike ensinam, um dos segredos para triunfar no estilo que tem entre suas principais características a morte permanente (permadeath) e a geração procedural de níveis está em oferecer algum tipo de bônus ou benefício entre as partidas e motivos para continuar a apertar o play, mesmo quando nos deparamos com sucessivas derrotas (às vezes no mesmo obstáculo, para piorar).
Aproveitando a temática futurista e a condição robótica de Crimson, Oblivion Override também acerta nesses pontos. Ao longo das partidas, é possível acumular três tipos de moedas, usadas para comprar novas armas, modificadores para as fases e até upgrades definitivos, como mais pontos de vida para seu robô ou a capacidade definitiva de reaparecer em batalha após um golpe mortal; cabe mencionar que há um modo fácil — o Virus Mode — para quem procura um nível de dificuldade mais brando.
Uma vez que você tenha encontrado itens especiais, como os Mecha Chips, obtidos a partir de chefes, é possível até mesmo desbloquear novos robôs para entrar no campo de batalha. Tudo isso acaba resultando em uma constante sensação de progressão que, juntamente com a jogabilidade prazerosa, torna a experiência criada pela Humble Mill bem agradável.
Até mesmo a narrativa, que inicialmente é deixada de lado em prol da ação, vai se desenrolando gradualmente conforme o jogador progride e encontra novos — geralmente carismáticos — personagens para habitar a base de operações, que funciona como hub e área de convivência entre as partidas. Mais um ponto positivo pro game, portanto.
Um ou outro arranhão na lataria?
Oblivion Override também se destaca no aspecto técnico, com visuais e contrastes que lembram bastante os quadrinhos dos anos 2000. As animações e os efeitos visuais são vistosos, e o design, principalmente de personagens como a mecânica Nico e os chefes, chama a atenção de forma positiva, reforçando a criatividade dos produtores.
Uma crítica que eu tinha inicialmente durante o período que tive para análise era que, em situações com muitos inimigos, infelizmente era um pouco fácil perder a conta do que acontecia na tela e até mesmo demorar a se localizar, dada a agilidade da gameplay e o caráter expressivo das animações.
Pois bem: desde o início de fevereiro, este não é mais o caso, pois, após a última atualização, tornou-se possível ativar um contorno para o protagonista, destacando-o no cenário e prevenindo a perda de foco em situações extremas.
Só é preciso avisar que, infelizmente, Oblivion Override não conta com suporte ao português brasileiro, o que pode dificultar o entendimento dos menus, diálogos e até mesmo a escolha entre bônus dentro das partidas. Posto que os desenvolvedores ainda estão aceitando feedback sobre o título, porém, fica a expectativa que, em breve, essa ausência seja retificada.
Enfrente a tecnologia, quantas vezes for preciso
Recém-saído do Acesso Antecipado, Oblivion Override une robôs, ação e muita agilidade em um ótimo roguelike. Ao respeitar suas influências e entender o que as torna tão especiais, a obra de estreia do estúdio Humble Mill conquista seu espaço e merece a consideração dos fãs do gênero. Seja na terceira ou vigésima partida, há certamente mais de um motivo para vestir a armadura e voltar à missão de Crimson.
Prós
- Sistema de combate ágil e empolgante que torna divertido enfrentar e vencer hordas de inimigos;
- Os upgrades e segredos constantes tornam recompensadoras as sucessivas partidas;
- Animações e efeitos visuais bem acima da média para o gênero;
- Recursos como o contorno para o protagonista e o Virus Mode promovem acessibilidade;
- Boa otimização no PC.
Contras
- Mesmo com todos os recursos empregados, não está imune à sensação de repetição;
- A abundância de itens e bônus pode confundir alguns jogadores;
- A ausência de um tutorial propriamente dito pode incomodar quem não tem familiaridade com o gênero;
- Não possui suporte ao português brasileiro.
Oblivion Override — PC — Nota: 8.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Paleo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Paleo