Em meio à atual trindade das franquias dos fighting games, Tekken 8 parecia ser a que se esforçaria menos em seu novo capítulo, pois o título anterior bateu o recorde da série, atingindo 10 milhões de cópias vendidas.
Entretanto, Jin, Kazuya e companhia trouxeram tudo de melhor que Tekken poderia oferecer, com direito a personagens inéditos, uma história memorável, uma dose generosa de novidades para os recém-chegados e referências para os fãs de longa data.
Jin Kazama vs. Jin Mishima
A saga de Tekken começou em 1994, com a desavença entre Heihachi e Kazuya Mishima. Pai e filho desencadearam uma guerra que afetou todos os demais personagens que aparecem ao longo da série.
Como nem tudo é ódio, Kazuya teve tempo para descobrir o amor com Jun Kazama, com quem teve seu único filho, Jin. A criança sabia que seu pai era mau, e sempre se recusou a usar o nome Mishima — como explicado na série Tekken Bloodline, da Netflix.
Após o embate derradeiro entre Heihachi e Kazuya, com a derrota do velho patriarca da família, os holofotes agora se voltam para outra briga geracional — só que, ao contrário de seu pai, Jin se arrependeu das mortes que causou, e isso faz com que seu gene demoníaco recue, impedindo sua transformação em Devil Jin.
É esse o ponto de partida da história de Tekken 8, que vai além do combate entre Jin e Kazuya, e também dá destaque para a guerra interna de Jin com sua persona Devil. Para quem nunca acompanhou nada da série, a Galeria traz vídeos resumindo os acontecimentos de cada episódio. Isso ajuda bastante a situar quem só veio conhecer a franquia neste momento.
Entretanto, se você, assim como eu, joga desde o começo, além de ficar envolvido do começo ao fim por cada um dos 15 episódios da história, com certeza se sentirá num verdadeiro túnel do tempo nos dois últimos capítulos.
Sem querer dar spoilers, mas o embate final entre Kazuya e Jin é recheado de referências que deixam qualquer fã pulando na cadeira de emoção (sim, talvez eu tenha feito isso). A principal delas está em Jin Kazama revezando seus estilos de luta a cada round, alternando entre seu moveset novo, os golpes antigos de Tekken 3 (sua primeira aparição), baseados no karatê Mishima, e os golpes que Jun Kazama usava em Tekken 2.
Junte isso com algumas poses bastante características e um remix sensacional do tema de Jin Kazama em Tekken 3, e temos um dos melhores finais para jogos de luta da atualidade, sem exagero nenhum.
Vale salientar também que o controle de personagens durante a história não fica restrita apenas à dupla antagonista. Algumas passagens envolvem outros participantes, pois retratam situações paralelas, que fazem total sentido para a trama principal, como o capítulo em que podemos jogar cada luta do torneio Rei do Punho de Ferro.
Outro episódio que chama a atenção é o embate entre as forças da G Corporation contra os aliados de Lars e Lee, que traz um gosto do antigo Tekken Force, mudando a perspectiva para uma ação no estilo beat ‘em up.
A minha única reclamação nisso tudo é que os estilos alternativos de luta de Jin, bem como algumas variantes dos trajes dele, Devil Jin e Kazuya, ficam restritos ao modo História, sem poderem ser utilizados livremente.
Ainda assim, este detalhe não tira o brilho do desfecho (será?) da narrativa da franquia, que está no Guinness Book com o recorde de mais entradas seguindo uma linha narrativa coesa. Nada mal, hein?
Aumentando o calor da batalha
Há quem diga que Tekken sempre foi um pouco mais técnico que os demais jogos de luta, dada a sua perspectiva tridimensional, com golpes horizontais e deslocamento lateral. Isso não quer dizer que o sistema de luta em Tekken 8 não receberia inovações que o tornassem mais inclusivo.
O Estilo Único e o Heat System vieram para dar uma mão a quem quer utilizar uma gama maior de movimentos com poucos botões. Ao acionar o Estilo Único de cada lutador, aparecem atalhos para agarrões, combos aéreos, golpes especiais e o Power Crush, um movimento que consegue atravessar as investidas rivais, mas que pode ser bloqueado.
Já o Heat System aumenta o poder dos jogadores que mantêm sua postura agressiva durante a luta. Com o toque de um botão, podemos acionar o Heat Burst, que modifica as propriedades dos nossos combos, aumentando significativamente o dano causado. Outro recurso que fica disponível é o Heat Rush, uma corrida automática após um ataque, para colocar o oponente sob pressão.
Apesar da facilidade que esses mecanismos proporcionam, isso não significa uma vantagem injusta para quem optar pelos controles tradicionais. Cada um dos lutadores conta com uma vasta lista de movimentos especiais, que podem ser praticados tanto no treino quanto nos replays salvos, uma novidade de Tekken 8.
Podemos salvar o replay de qualquer luta que participarmos, em qualquer modo de jogo. Independentemente do resultado, podemos apenas assistir, ou repassar cada situação em que sofremos dano, pausar e treinar contra um boneco um comando que seria efetivo para evitar aquele prejuízo.
O velho e o novo em perfeita harmonia
Para quem estava com saudade de antigos conteúdos que foram abandonados ao longo da evolução da franquia, pode comemorar. Alguns deles voltaram, e em grande forma.
O Tekken Ball, famoso em T3, retorna com algumas novidades. A bola que usamos para acertar o oponente pode ter efeitos diferentes de acordo com o golpe escolhido para acertá-la. Ela pode ser uma bola rápida, em ziguezague ou com efeito.
Outra característica marcante que dá as caras novamente são os finais individuais de cada personagem. Em Tekken 7, eles estavam presentes, mas de uma maneira que não agradou aos jogadores, pois era necessário realizar apenas uma luta para conseguir uma animação sem nenhum carisma.
Agora, podemos entrar no Torneio do Punho de Ferro com cada um dos integrantes do elenco — ou pelo menos com a maioria deles — e, após cinco lutas, somos agraciados com uma animação em CG. Todas elas trazem desfechos bem-humorados ou que fecham algum tipo de situação que havia ficado em aberto entre os personagens.
A novidade entre os modos de jogo está na Missão Arcade. Nela, nós criamos nosso próprio avatar e temos que enfrentar diversas pessoas em localidades diferentes até nos tornarmos o Rei do Tekken. Além da apresentação diferenciada, esta é uma ótima maneira de apresentar as novas mecânicas de Tekken 8 sem passarmos por um tutorial estático.
Quanto às partidas online, elas também foram reformuladas, com o uso do rollback netcode. Durante o período da minha análise, fiz mais de 20 partidas consecutivas e não tive nenhum problema de conexão ou lentidão, seja pelo lobby ou com as disputas ranqueadas. Todas elas transcorreram com um tempo mínimo de carregamento, como se fossem disputas locais.
Com a sua cara e carisma
Outra opção que se tornou um padrão esperado pelos jogadores é a customização, só que ela vai muito além de escolher as roupas dos bonecos. Em Tekken 8, os personagens possuem itens em comum, como camisetas, chapéus e óculos —, mas que devem ser comprados para cada lutador.
Nesse quesito, senti falta de duas coisas. A primeira é uma variedade maior de roupas únicas para cada lutador. Todos eles têm seu traje principal, duas variações do primeiro e, em alguns casos, um terceiro e um quarto conjunto. Essa quantidade parece grande, mas T7 tinha uma gama mais vasta e divertida de opções, além de itens mais criativos.
A segunda é a falta de uma opção para compartilharmos nossas próprias personalizações, como visto em SoulCalibur VI. Com um número mais limitado de itens, pelo menos neste momento pré-DLCs, seria muito bacana baixar os layouts de outros jogadores pelo mundo.
A ideia de deixar tudo com a sua cara não se limita somente aos lutadores e ao nosso avatar. Podemos customizar a lista de músicas que serão tocadas em cada fase e em cada modo de jogo, exceto a história principal. Temos à nossa disposição todos os temas de:
- Tekken
- Tekken 2
- Tekken 3
- Tekken Tag Tournament
- Tekken 4
- Tekken 5 (inclui músicas de T5: Dark Resurrection)
- Tekken 6
- Tekken Tag Tournament 2
- Tekken Revolution
- Tekken 7
Todas essas canções lendárias se juntam à ótima trilha de Tekken 8, aumentando ainda mais o vasto legado que as composições da franquia têm em meio aos jogos de luta.
Por fim, é possível fixar na tela de início seus modos de jogo preferidos, quaisquer eles sejam. É uma sutileza interessante e que ajuda a focarmos apenas naquilo que nos interessa.
Como de praxe, a galeria faz um ótimo papel em reunir todas as cenas que são exibidas no modo História e as introduções e finais específicos de cada boneco. A única coisa que acabou fazendo falta foram os finais dos jogos anteriores, que estavam incluídos em Tekken 7 e poderiam dar o ar da graça em Tekken 8 em alta definição.
A barra ficou muito alta
A franquia Tekken sempre teve uma constância forte em meio aos demais jogos de luta, seja pela história coesa, seja pela jogabilidade característica.
O que Tekken 8 fez foi maximizar a experiência proporcionada aos jogadores a um nível de excelência que rouba os holofotes de Street Fighter 6 e Mortal Kombat 1 com uma execução perfeita e entrega primorosa.
Prós
- A história é apresentada de maneira impecável, resolvendo conflitos pendentes e trazendo referências ao legado da série;
- Cenas em CG e transições para as lutas muito bem trabalhadas;
- Excelente trilha sonora;
- Opções de customização para os personagens, o avatar, as músicas que tocam na maioria dos modos de jogo e para as opções do menu;
- O Heat System e o Estilo Único tornam o jogo inclusivo, mas sem criar vantagens injustas;
- O modo Missão Arcade se torna uma maneira interessante de introduzir a jogabilidade;
- Retorno do Tekken Ball;
- Partidas online rápidas e com ótimo desempenho.
Contras
- Os diferentes tipos de luta e alguns trajes de Jin Kazama ficam restritos ao modo História;
- O modo de customização tem menos itens que o jogo anterior no lançamento;
- Não é possível compartilhar os layouts customizados criados para os lutadores.
Tekken 8 — PC/PS5/XSX — Nota: 10Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia cedida pela Bandai Namco