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Análise: Jubilee (Multi): enfrente desafios de plataforma em nome da liberdade

Uma aventura concisa, mas muito satisfatória em sua dosagem maleável de dificuldade.


Alguns jogos são simples e diretos ao ponto. Eles sabem bem o que são e destilam essa identidade até restar apenas sua essência. Jubilee é um desses que rejeitam os excessos e se dedicam a refinar o que de melhor têm a oferecer. Neste caso, a descrição oficial dá conta do recado: “Pura. Plataforma. De precisão.”

Pule por onde achar melhor

Plataforma de precisão é o gênero em que você vai atravessar os cenários saltando entre obstáculos que exigem habilidade, reflexos e paciência, pois é esperado que sejam necessárias muitas tentativas. Jogos como Super Meat Boy e Celeste são grandes representantes do estilo e Jubilee compartilha de um elemento de design muito importante para a fórmula: retornos instantâneos após a morte, sem telas de loading nem longos percursos para poder tentar a sequência desafiadora novamente.




O que o jogo faz diferente desses dois, no entanto, é que os segmentos de plataforma não são encapsulados em telas únicas. A estrutura de Jubilee é aberta e a câmera acompanha a protagonista Jubilee, permitindo que a pessoa que joga siga o rumo que preferir. Os checkpoints constantes asseguram que a experiência mantenha um bom ritmo de superar os obstáculos trecho a trecho.

Uma vantagem da abertura é o alívio de não ficar preso a um desafio específico, podendo tentar outras áreas caso a coisa aperte. Os pontos de viagem rápida desbloqueados podem ser acessados diretamente do menu a qualquer momento, incentivando a mudança de rotas e o retorno para buscar coisas deixadas para trás.



Outro benefício é o fator de exploração que aprofunda a dinâmica da gameplay por meio de muitos colecionáveis para obter ao longo dos muitos caminhos. São 999 gemas, oito animais e cinco páginas secretas para encontrar. As páginas realmente são bem escondidas, mas o mapa que registra o avanço pelo mundo é intuitivo e comunica bem os locais que podem ser vasculhados. Um contador indica quantas gemas foram obtidas em cada área e quantas ainda restam.

As gemas têm uma mecânica de depósito: elas só são consideradas coletadas quando passamos por um checkpoint. Isto é, o acúmulo carregado consigo é perdido ao morrer. Calma, isso não é uma punição. A ideia é apenas evitar que jogadores entrem na tentação de se matar para coletar gemas difíceis. Como os checkpoints são abundantes, as pedras preciosas são depositadas com frequência, evitando a perda de grandes quantidades.



A abertura do mundo se dá por meio de nove áreas interconectadas, mas não há elementos de metroidvania, como aquisição de habilidades. Tudo o que Jubilee precisa está disponível no começo com o comando de um botão: um pulo com nuances.

Com um leve toque, ela faz um pulo baixo. Pressione plenamente e ela pula mais alto. Aperte mais uma vez e ela fará um giro no ar que a faz planar por um breve instante, o que serve para aumentar a distância do pulo e atrasar a queda por uma fração de segundo. Completando com o pulo em paredes, o arsenal será esse do início ao fim. O foco todo está em aprimorar essas habilidades básicas e a noção espacial dos movimentos de Jubilee para superar os vários desafios.



O manifesto da liberdade

Além de ser o nome da protagonista, o título significa jubileu e tem uma razão de ser. Essa era uma celebração da antiga cultura hebraica que acontecia a cada 50 anos, marcada pelo fim das culpas, o perdão das dívidas e a libertação dos escravos.

Disso vem o pano de fundo para o jogo: Jubilee foi lançada em uma prisão subterrânea por não ter conseguido pagar suas dívidas e deve escapar de lá, salvando mais alguns prisioneiros consigo. Não ficamos sabendo mais sobre a protagonista ou dos credores, de quem vemos apenas um diálogo inicial sem imagens, só palavras. Ela trará a própria libertação e a de alguns outros.




O que importa é saber que a prisão é tão injusta quanto os juros dos empréstimos, feitos para impossibilitar a quitação do débito. Isso é motivo suficiente para querermos tirar a moça daquele lugar e, de quebra, ainda levar as gemas que formam a riqueza dos credores e lhes permitem que continuem a fazer novas vítimas para a prisão.

É uma pena que isso não seja representado com visuais mais detalhados. A pixel art não é feia e é adequada aos propósitos da gameplay e à distinção entre as áreas, mas carece de algo que a torne marcante ou atraente.



Conciso, sim; curto, talvez

Um resultado da precisão da identidade de Jubilee é que o jogo é relativamente curto. Em duas horas eu cheguei ao primeiro final e continuei jogando. Em três horas eu cheguei à saída “correta”. Em quatro horas e quinze minutos eu completei todos os colecionáveis. Ficou faltando apenas o troféu que exige chegar ao final sem salvar nenhum animal, o que significa terminar a campanha novamente. Como já tinha o mapa completo, reiniciei o jogo e fui direto ao fim em onze minutos. Pronto: troféu de platina.

Dada a estrutura totalmente aberta do mundo de jogo, isso quer dizer que pessoas comuns como eu poderiam terminá-lo rapidamente, mas é altamente improvável que esbarrem na saída em menos de uma hora.



Mesmo assim, repare no “relativamente” que disse acima. O tempo de jogo é eficiente porque estamos sempre ativos; nas minhas quatro horas não houve um minuto ocioso. O total vai variar de acordo com a habilidade de quem joga e com o interesse em completar tudo que há para encontrar.

Para os que gostam de revisitar os desafios, existe um personagem desbloqueável que controla de forma mais rápida e escorregadia que a protagonista, o que também exige mais precisão.



Um jogo que sabe focar no que tem de melhor

Jubilee sabe ir direto ao ponto e destilar a essência de plataforma 2D para oferecer um jogo que sabe ser desafiador e razoavelmente acessível. Seu formato conciso na duração, denso em exploração e aberto nas possibilidades de caminho o tornam uma boa porta de entrada para o gênero de plataforma de precisão, mas também pode deixar a sensação de que falta um pouco mais de conteúdo para atingir a dose certa para a campanha.

Prós

  • Um jogo conciso que sabe focar no que tem de melhor;
  • Controles precisos, conforme o gênero demanda;
  • A estrutura aberta, o mapa e a contabilidade de colecionáveis o tornam um jogo acessível para o meio de plataforma de precisão;
  • Os muitos colecionáveis servem como desafio extra para quem quer completar tudo;
  • Em geral, as músicas são agradáveis.

Contras

  • Alguns podem sentir que o jogo é mais curto do que deveria;
  • A pixel art serve ao propósito, mas não é atraente ou marcante;
  • Sem português brasileiro. 
Jubilee — PS4/PS5/PC/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Art Games

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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