Análise: Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça (Multi) é um bom looter shooter de aventura, mas poderia (e deveria) ter sido muito mais

Sem atender com competência toda a sua proposta, temos uma experiência legal, mas repetitiva.

em 13/02/2024

Conforme conferimos na sua prévia aqui no GameBlast, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça tinha potencial tanto para o bem, quanto para o mal. A tendência positiva acabou se sobressaindo, mas infelizmente aquém de tudo o que poderia ter sido atingido. Vamos entender melhor as qualidades e os defeitos desse game tão esperado? Vista sua maquiagem, pegue seu melhor bumerangue e não esqueça da Kriptonita, pois esta análise bombástica vai começar.

Um game explosivo

Desde o princípio, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça foi um jogo rodeado de polêmicas e problemas. Mais detalhes podem ser conferidos na já comentada matéria prévia, em que foram destacados pontos como obrigatoriedade de conexão com a internet, foco no multijogador online e proposta semelhante a outros títulos recentes que não deram certo. Por outro lado, o game também possuía boas perspectivas e ideias.
Prepare-se para enfrentar os Melhores do Mundo!
Lançado no dia dois de fevereiro, o título acabou confirmando boa parte do que era esperado. Como o saldo é positivo, vamos começar esta análise falando sobre o que o game tem de bom. A história, por exemplo, é um ótimo destaque: em meio a uma invasão alienígena, comandada por Brainiac, membros da Liga da Justiça sofrem uma lavagem cerebral e se tornam malignos. Para tentar enfrentar os heróis, resta recorrer às suas contra-partes por meio da Força Tarefa X.
 

Os vilões são recrutados (contra a própria vontade) para lutar contra a grande ameaça, que, enquanto inicialmente limitada à cidade de Metrópolis, pode acabar com o mundo todo. Em particular, temos os quatro personagens principais: Arlequina, Capitão Bumerangue, Tubarão-Rei e Pistoleiro. Cabe a eles, com o suporte de outras figurinhas carimbadas do universo DC – como Pinguim e Amanda Waller –, enfrentar Brainiac e seus super-heróis.

Um esquadrão compacto, mas de respeito
Não é sempre que um jogo ousa dar destaque aos vilões e, de certa forma, deturpar heróis, propiciando situações originais e interessantes. Confesso que alguns pontos do enredo poderiam ter sido melhor trabalhados, desenvolvendo melhor algumas relações, mas o resultado final ainda é ótimo. As competentes dublagens complementam as cenas e diálogos, sobretudo em inglês.
O bom humor permeia o game, com mais acertos do que erros
Já em português brasileiro, temos um trabalho competente na maioria das vozes, várias delas famosas. Algumas pontualmente ficaram devendo, como o Tubarão-Rei “rouco”, mas o que realmente ficou ruim no som foi a sobreposição de diálogos: por vezes o game sobrepõe conversas entre personagens, gritos de golpes especiais e vozes dos inimigos. Essa cacofonia não é constante, mas aparece (e irrita) eventualmente durante missões.

No dia mais claro...

Visualmente, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça faz bonito com uma pegada colorida e repleta de estilo. Os gráficos são competentes, sobretudo nas cutscenes e animações faciais, resultando em lutas incríveis e cenários envolventes. O desempenho é sólido, com carregamentos rápidos após a sequência inicial longa (deve ter relação com a obrigatoriedade de conexão online) e ausência de bugs significativos. Eventualmente, algum personagem “caí” de um prédio ou surge do nada, mas nada que comprometa a jogatina.
Uma impressionante visão da cidade do Superman
Passemos agora para a jogabilidade. A gameplay se divide entre dois momentos: deslocamento e combate. Metrópolis é uma grande cidade, e todas as atividades do jogo estão espalhadas por ela, no estilo mundo aberto. Portanto, se mover com agilidade por ruas e prédios é uma parte importante da jogatina. Nesse ponto, o game acerta ao oferecer estilos diferentes e competentes para cada um dos personagens.
É divertido explorar a cidade utilizando as habilidades de cada personagem
O Pistoleiro tem uma mochila a jato, enquanto o Bumerangue utiliza uma luva com acesso a Força de Aceleração, resultando numa espécie de sistema de teletransporte. Já Arlequina tem o arpéu do Batman (literalmente) e o Tubarão-Rei salta como um Incrível Hulk. Gostei da variedade e das mecânicas de cada um, com destaque para o peixe gigante e uma ressalva para a Palhaça do Crime, que não consegue ser tão ágil quanto o Cavaleiro das Trevas na série Arkham.
Em nível básico, atacar e atirar é bem divertido
Falando agora dos combates, temos um foco principal no uso de armas de fogo. Elas incluem escopetas, pistolas, submetralhadoras, rifles de assalto e granadas, contando com vários tipos de atributos diferentes. Cada personagem tem predileção por um tipo de equipamento, refletindo inclusive na sua respectiva árvore de habilidades. As mecânicas de tiro são sólidas e divertidas, dignas de looter shooters de qualidade.

... e na noite mais densa

É preciso agora abordar alguns dos problemas do título. Ainda falando da jogabilidade nos combates, um ponto fica evidente com poucas horas de jogo: os quatro personagens funcionam de forma exageradamente semelhante devido ao foco nas armas. Embora existam golpes corpo a corpo e especiais, eles servem apenas como suporte, pois o dano principal vem dos disparos, que são um tanto genéricos.
No final das contas, tudo se resume aos tiroteios
De que adianta usar a Arlequina e não ter acesso a golpes mirabolantes, ou um Capitão Bumerangue sem uma variedade de bumerangues diferentes? Parece que todos são Pistoleiros em skins distintas: especialistas em armas de fogo, sem muita personalidade. Faltaram combos legais e mais golpes especiais, que se resumem a duas opções, uma para ataque de multidões e outra individual. Também não é possível alternar entre os personagens durante uma missão, o que só contribui para a mesmice no longo prazo.
Os Ataques Suicidas são os movimentos especiais do jogo
Para ser justo, o game oferece outras mecânicas durante os combates. É possível, por exemplo, disparar um contra-ataque, que permite ao jogador quebrar investidas de inimigos. Também temos esquivas à disposição, granadas explosivas e a possibilidade de recuperar o nível do escudo ao finalizar vilões. Elas são interessantes, mas, mais uma vez, são iguais para todos os personagens.
Mecânicas como o contra-ataque são fundamentais para ter sucesso
As armas pertencem a um sistema de raridade, semelhante a Borderlands e afins. Isso também vale para equipamentos como a arma corpo a corpo, mods de escudo e de acrobacia. Curiosamente, mesmo antes de atingir a metade da campanha, eu já tinha acesso a itens de raridade lendária, que trazem efeitos secundários poderosos. Parece que a produtora quis deixar (ao menos) essa polêmica de fora, evitando grinding exagerados para obter bons itens.
Por vezes é preciso muita leitura para entender os efeitos de um item
Se o foco seria dado às armas, Esquadrão Suicida deveria ter seguido mais à risca a já comentada inspiração na franquia Borderlands, como visto no recente Tiny Tina’s Wonderlands. Afinal, ela traz armamentos com efeitos malucos e únicos, que neste caso poderiam ser baseados em elementos da DC Comics com características únicas. Não seria incrível uma escopeta que dispara gritos sônicos ou um rifle de assalto que dispara batarangues? Aqui temos opções divertidas, mas bastante comportadas para a proposta do game.

Nem tão bravo ou audaz

Enquanto essas questões na jogabilidade são problemáticas, creio que elas fiquem logo atrás da proposta do game. Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça tem uma campanha curta, que, na prática, parece ser uma introdução às mecânicas do que é o pós-jogo: um game as a service (jogo como serviço), no estilo de Overwatch 2 e cia. Ou seja, foco no multiplayer, desafios sazonais e aquisição constante de novos itens. Na ausência de quatro jogadores online, bots ficam no controle dos personagens restantes.

Além do pós-jogo e da campanha, o game tem uma série de missões secundárias

A questão é que os desafios que vêm depois da campanha, neste momento, são basicamente reciclados. Isso os torna repetitivos, sobretudo pela já comentada jogabilidade pouco variada e ausência de recompensas interessantes, como as também já comentadas armas. Existe uma justificativa para nos motivar a continuar jogando, envolvendo Terras paralelas e uma invasão multidimensional (sem avançar sobre spoilers), inclusive aludindo às futuras atualizações (mais sobre elas em breve), mas nada muito entusiasmante.

Bem-vindo ao Multiverso!
Vale lembrar que Esquadrão Suicida exige uma conexão constante com a internet. Na minha opinião, uma decisão equivocada, mesmo com o foco na cooperação multijogador online. Sobre isso, é difícil montar uma sala completa e mantê-la estável, mas os bots funcionam de forma satisfatória. Uma atualização já está prometida para possibilitar a jogatina off-line, mas ainda sem data definida.

Crise de Identidade

Acredito que o maior problema de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça já tenha ficado claro, que é fazer jus à sua própria proposta. A campanha é boa, mas curta; o pós-jogo no formato de serviço online, que exige dedicação e tempo, é repetitivo e com recompensas pouco interessantes; os personagens e seu universo são carismáticos, mas subutilizados em jogabilidade e mecânicas divertidas, mas relativamente simplistas no estilo looter shooter.
Os membros da Liga da Justiça oferecem batalhas interessantes
Tal como os seus “vilões”, o título não parece fazer jus à sua identidade e faz poucas coisas com grande qualidade. Ele tem momentos divertidos e marcantes, como as batalhas épicas contra os chefes ou terminar uma missão do Charada no último segundo. Sim, os desafios do Charada, famosos da série Arkham, retornam como outro ponto positivo, quebrando o ritmo de forma divertida quando as coisas ficarem cansativas.
Corridas contra o tempo, troféus escondidos e charadas te esperam
Pode parecer que eu estou sendo exigente (e repetitivo), mas é porque eu esperava mais de um jogo que poderia ter ido mais longe. Afirmo que ele é bom, por vezes muito bom: a quantidade de coisas a fazer é considerável, com missões envolvendo vários personagens interessantes (a campanha é curta, então vou evitar os spoilers) e a coleta de recursos para criar e modificar equipamentos, assim como itens cosméticos para personalizar o seu esquadrão. Os tiroteios são divertidos e oferecem boas mecânicas para jogar.
As opções de customização são bastante interessantes
O problema é a semelhança entre os desafios e a pouca variedade nessas recompensas e customizações. Mesmo a exploração da cidade de Metrópolis pode enjoar com o tempo, mas ao menos temos ótimos áudios e conversas que são reproduzidos durante a jogatina (quando não se sobrepõem), expandindo o universo do game. É uma pena que o resultado final deixa a desejar em relação ao potencial que poderia ter sido atingido.

Para o alto e avante?

Com tudo que escrevi até agora, fica a pergunta: vale a pena adquirir e jogar Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça? Afinal, se a campanha é boa, mas curta, e o conteúdo após o final do game é um tanto repetitivo, seria lógico pensar que comprar agora não é uma grande ideia. A boa notícia é que a produtora prometeu muitas atualizações e novidades para o título, incluindo opções pagas e gratuitas.
Se o Palhaço do Crime é o próximo, quem serão os seguintes?
Novos personagens – como o já confirmado Coringa –, missões, itens e muitas outras coisas devem chegar em breve, o que pode ser a oportunidade para um game bom se tornar ótimo (não creio que consiga chegar a excelente). Sendo completamente honesto, mesmo essas promessas interessantes podem ser pouco incentivadoras. Lembra-se de Marvel’s Avengers e o seu suporte que duraria vários anos? Pois é, não somente não foi suficiente, como hoje não é mais possível possível adquiri-lo.
Será que a DC vai seguir o mesmo caminho da Marvel?
Mesmo que eu veja algum exagero nas críticas aos Vingadores, não nego que eles ficaram aquém do que poderiam ter alcançado. Portanto, como Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça já larga atrás, principalmente em termos de jogabilidade, as futuras atualizações (ainda sem datas definidas) podem não ser suficientes. Para piorar, existe a possibilidade de boa parte delas ficar “presa” atrás de microtransações, que já aparecem via cosméticos meio salgados.

Bom, mas podia ser bem melhor

Depois de muita espera, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça finalmente chegou trazendo uma ótima história, uma produção audiovisual competente e uma jogabilidade sólida. O problema é que a campanha curta é seguida de desafios repetitivos e as mecânicas de jogo são relativamente simplistas. A experiência vale para fãs do gênero looter shooter e do universo DC, mas somente com atualizações e novidades pertinentes esta será uma boa recomendação para o público em geral.

Veremos o que o futuro reserva para a Força Tarefa X

Prós

  • Ótimo uso do universo de super-heróis da DC;
  • Campanha é original e reserva grandes momentos, fazendo bom uso de vários personagens interessantes;
  • Jogabilidade é divertida e funciona muito bem;
  • Produção geral é muito boa, incluindo visuais, som e estabilidade;
  • Potencial para receber muitos conteúdos e novidades.

Contras

  • Faltou mais variedade à jogabilidade, sobretudo em termos das individualidades dos personagens;
  • Campanha curta e pós-jogo repetitivo, ainda sem perspectiva concreta de melhora em atualizações futuras;
  • Questões técnicas como obrigatoriedade de conexão online e animações erráticas.
Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça — PC/PS5/XSX — Nota: 7.5
Plataforma utilizada para análise: PS5
Revisão: Davi Sousa
Análise redigida com cópia digital cedida pela Warner Bros. Games
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é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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